terça-feira, 16 de junho de 2015

Datas marcadas

Gosto de guardar datas, muito embora tenha perdido algumas importantes. 25 de novembro de 2012 tive a melhor notícia da minha vida. Sua mãe escreveu um bilhete para mim sobre um  milagre que estava chegando. Demorei para entender. Saímos como loucos pelas ruas de Hong Kong para comprar aqueles testes de farmácia. No dia 3 de março de 2013 você se mexeu na barriga da mamãe pela primeira vez. Em 15 de novembro de 2013 nos reencontramos com um abraço apertado depois de longos 3 meses de distância. Jamais me esquecerei da emoção daquele dia. No dia 17 de outubro de 2014 você ensaiou seus primeiros passos, mas foi no dia 19 de novembro que andou sozinho. No dia 27 de maio de 2015 você pulou do berço sozinho. Na primeira quinzena de março de 2015 começou a falar papai, porque até então, me chamava de mamãe. 12 de abril deste mesmo ano entramos em campo pela primeira vez num jogo do campeonato matogrossense. Aquele dia segurei as lágrimas. Você estava com a roupinha do Luverdense e, agarrado comigo, realizei um sonho de criança. Nesta última semana, dia 14 de junho, você começou a fazer xixi no pinico sozinho.
Seu vocabulário está aumentando. Você está chamando maça de “acã” e aprendeu as palavras, lavar, água, meu, teu, mubir (subir), dédi, (descer). O vrum vrum agora é carro. Tratoi, minhão e vião. A chuva continua sendo “bua”, as estrelas são “boba boba”, acabou “bô” e a Pepa Pig é o desenho mais legal.

Você adora a corrida maluca. Eu sempre conto até três, mas quem diz “já” é você. Você gosta muito de colocar nossos “ainélos” (chinelos) e caminhar pela casa. Quando falamos “amém” você diz “atchim”. Isso é muito engraçado. Corremos em volta do berço e você adora quando eu mordo seus joelhos. Sua brincadeira predileta é pular na bola que compramos para fazer Pilates. No fundo eu sabia que não iriamos fazer exercícios nela, mas ela acabou servindo como um brinquedo radical e uma perfeita cadeira de balanço para seu soninho da tarde.
Seus sorrisos e seus choros por nós já estão sendo diagnosticados. Eu e sua mãe ficamos extremamente irritados quando você resolve acordar 6:00 horas da manhã e quando começa a guspir a comida. Logo passa.

O que vejo ao longo deste breve relacionamento é o milagre da construção de uma história de amor. De um lado, se nossas mãos estão abertas para dar o melhor e sua mente e seu coração estão escancarados para absorver o que podemos oferecer.

No entanto, não ache meu querido filho, que tenho apenas memorizado os dias belos. Sei também cada dia em que falhei. Do dia em que perdi a paciência, do momento em que fui rude e ignorante. Saiba que tenho muitos defeitos, e que não faço questão de coloca-los debaixo do tapete. Eu os conheço e reconheço. Perdoe-me por estes que já cometi e tenha misericórdia por todos os outros que ainda irei cometer.  
Entretanto, quando você grita “papai” em mim se desenvolvem todas as alegrias que um homem pode conhecer. Junto com esse “papai” surge o desejo desesperado de ser alguém melhor, de ser um pai melhor, um marido, um filho, um profissional, um cidadão. Cada “papai” soa para mim como um chamado a perfeição, um grito divino me levando para a reflexão interior.

Nós brincamos na cama, pulamos na bola, corremos na rua, fazemos “dol” (gol), contruimos prédios, brincamos em cima da mesa e tomamos tererê, mas em breve você irá crescer. (tenho medo deste verbo) Saiba, no entanto, que em mim, tudo está sendo guardado na memória e eternizado no coração.
Desde o dia 24 de julho de 2013 cada dia ganhou um significado diferente. Gostaria de escrever muitas outras coisas, mas não há tempo para perder com letras de um teclado quando se está diante da maior e mais profunda história de amor para se viver.

Com amor, daquele que tem "datas marcadas", papai
Carlos Augusto Bertoldi, 16/06/2015
Lucas do Rio Verde, MT

segunda-feira, 9 de março de 2015

Devolva o Brasil para os brasileiros


O Brasil não foi descoberto, foi roubado. Virgem e estupendo o gigante de florestas e matas, de rios e cascatas, de praias e chapadas, desfilava a dignidade de seus habitantes ilustres que, de tão alegres, não se cobriam com roupas, visto que, não tinham do que se envergonhar.
No outro lado do Atlântico, longe da paz brasileira, o vírus da corrupção, das guerras, dos interesses políticos, religiosos e comerciais. O Brasil não foi descoberto, nem colonizado, foi assaltado por uma frota corrupta que não somente destruiu nosso povo, mas lhe vestiu uma cultura, uma religião e uma forma de pensar.  

A religião cristã no Brasil é um exemplo disso. É um legado cultural que se passa de pai para filho desde a época de Cabral. É uma fé endêmica e hereditária que apenas expressa uma cultura, mas não uma consciência, porque, se de fato, os valores cristãos vivessem neste país, não seriamos um dos países mais corruptos do mundo.
Nenhum brasileiro é livre. Cada um possui a cela que pode comprar. Todo brasileiro está no cabresto, domesticado pelo medo, perdido em sua essência, desprovido de qualquer identidade com essa terra. Todos estão debaixo da escravidão da exploração. Desde os mais ricos, até os mais pobres. A ingenuidade do brasileiro proporciona este acomodação que revela um país de homens que se contentam com os espelhinhos e as “bolsinhas”.

Tem aqueles que acham que os índios foram enganados pelos portugueses. O que dizer de 200 milhões de pessoas caladas com tamanhos escândalos, roubos, corrupções, impunidade, compra de votos, etc...?
Enquanto não compreendermos que estes “portugueses” são exploradores nos tornando uma colônia pobre e extremamente dependente dos presentinhos, seremos enganados, comprados, negociados e infectados com os mais variados vírus dos “homens brancos de Brasília”.

Aqueles brasileiros pelados que recepcionaram a maldita frota portuguesa de Cabral foram os últimos exemplares humanos que viveram em paz e com dignidade neste país.
Atenção brasileiros. Não se glorie em sua descendência europeia. Todos aqueles que nasceram no Brasil são brasileiros, e deveriam emprestar seu sangue, sua vida, pela criação de um país livre destes picaretas que invadiram nossas terras e nunca mais foram embora.

É uma questão de identidade. O que realmente me parece é que somos estrangeiros descendentes dos países ricos estando aqui somente de passagem. Parece-me que esta terra não é nossa.
Todo aquele que vive neste Brasil está pelado, nu, totalmente vulnerável aos italianos, alemães, portugueses, franceses, holandeses e outros que ainda estão no poder deste país. Eles para cá vieram e estupraram nossas mulheres, roubaram nossa cultura, derrubaram nossas arvores, depositaram seus lucros em seus bancos europeus e se instalaram nas melhores terras. Gostaria de estar falando do passado, mas estas atividades são a mais pura representação de hoje.

Neste momento, sim, neste exato momento, milhões e milhões de reais estão sendo levados para fora deste país para o beneficio de poucos descendentes e a desgraça de muitos brasileiros.
Preciso tirar as roupas. Retornar a essência do meu povo e expulsar estes exploradores. Estou angustiado com estes estrangeiros transformando nosso alimento em ração. Onde estão minhas flechas e meu arco?  

Eles tem poder, mas nós temos um sonho. O sonho da liberdade. Esta é a questão que nós ainda não compreendemos. A questão que somos escravos de governos que nos assolam, que nos roubam, que nos levam para a pobreza e o assistencialismo colonial.
Está chegando o dia em que a frota de Cabral terá que fazer a viagem de volta. Quero minha dignidade de volta, podendo retornar a origem, não da minha descendência italiana, mas da minha essência brasileira, que um dia andou por este lugar com liberdade.
Que Deus nos ensine a não fugir da luta, nem temer a própria morte, pois somente assim, construiremos a paz de um futuro que nosso hino profetizou.

#Soubrasileiro #15demarço
Carlos Augusto Bertoldi, 09/03/2015 14;29
Bandeirantes, Lucas do Rio Verde, MT

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Estado Islâmico X Estado Cristão


O Estado Islâmico
Depois de ver um monte de vídeos e ler algumas reportagens macabras. Depois de sentar no banco de centenas de igrejas e escutar muitas palavras decidi fazer algumas considerações do estado religioso que vivemos. A primeira é que o Estado Islâmico revela o poder maligno que a religião exerce sobre as pessoas. A segunda é que o estado cristão também revela o poder maligno que Satanás exerce nas pessoas.

Não se engane você frequentador assíduo do circulo religioso cristão. A maior força maligna não está nas mãos destes guerrilheiros do islã. Este inimigo declarado, muito embora seja forte e severamente obstinado, não me amedronta tanto quanto os lobos em peles de cordeiro.
Nada me assusta mais do que alguém que manipula falas eternas do Cristo para serem usadas como mercado da vaidade humana. Nada é mais amedrontador do que transformar a fé em Cristo em um segredo de prosperidade material. Nada, mas nada neste mundo me apavora mais do que alguém que é capaz de usar da fragilidade humana, da falta de conhecimento, da ignorância religiosa e da pobreza, para gerar riqueza, poder e encantamento. Primeiro eu ficava com raiva, mas agora confesso que estou ficando apavorado com estas armas e estes homens que cobrem seus rostos com as turbas da santidade, mas são maquiavélicos lobos tentando abocanhar benefícios próprios.

As armas são o medo, a culpa e a ganância. Através de discursos empolgados as pessoas são estimuladas a ter medo do gafanhoto, a dar tudo que tem pela ganância do ter e a frequentar o culto por causa da culpa do pecado.

“Não tenha medo daqueles que matam o corpo, mas daqueles que podem levar sua alma ao inferno”.

Deste modo, e segundo esta revelação, minha maior angústia e medo é quando entro em algum templo religioso cristão. Fico apavorado tentando me defender da descontextualização da palavra de Deus, das heresias e das severas manipulações psicológicas. Fico ali sendo estimulado a todo instante construir o que Jesus me convidou a destruir. A cada cinco minutos sou levado a considerar meu umbigo, muito mais do que carregar a minha cruz. Em mais de duas horas de culto saio cansado de tentar me defender do armamento pesado pelo qual o estado cristão está revestido.

Não é fácil. Acabo me sentido um idiota solitário. Um frio calculista. Um arrogante sábio metido a besta. Talvez o seja. Não sei. Mas um enorme paradoxo está acontecendo neste momento. Talvez chegamos num momento em que o maior desafio do cristão encontrado com Jesus é pregar Cristo para os crentes. O lugar que mais precisa de Cristo não está nas ruas, mas dentro dos templos.
Logo, neste exato momento meu medo não é do que o estado islâmico pode fazer, muito embora esteja sofrendo severamente com este terrorismo, mas dos cordeirinhos que soletram versículos bíblicos decorados com sorrisos marotos.

Estou apavorado com o Estado Cristão. Um dia a história contará sobre estes nossos dias e alguém dirá que fomos os mais nojentos e crápulas cristãos da história deste mundo. Verão a fraqueza e a vaidade de um povo que se gloria no carro novo, no sucesso profissional e em curtidas na sua página no facebook.
A morte que o estado islâmico promove jamais alcançará o poderio bélico de desgraça do que este evangelho gospel tem proporcionado em nossos dias.

Que Jesus nos ajude...
Carlos Bertoldi, Lucas do Rio Verde, MT
17/02/2014 10;33

domingo, 23 de novembro de 2014

Empurrando os portões

Semana passada o João Pedro queria muito abrir um portão pesado. Ele fazia toda força com seus bracinhos, mas na verdade quem empurrava o portão era eu. Ele estava todo empolgado olhando para mim como que se estivesse dizendo: “você está vendo papai, eu estou empurrando este portão pesado!” Eu todo orgulhoso respondi com um olhar de entusiasmo dizendo: “Isso mesmo filhão, você consegue!”.

Foi maravilhoso sentir aquilo. Em nenhum momento desejei que ele soubesse que por trás da sua aparente força estavam meus braços. Não revelei a ele que minhas mãos estavam movendo aquele portão. Fiquei feliz somente em saber que ele estava empenhado em fazer e feliz em conseguir.
Eu senti Deus naquele instante em minha vida.

Percebi então que, Deus está para mim em minha vida, como eu estou para meu filho naquele portão. São as suas mãos que desemperram, movem, realizam, empurram. Quando então, olho para o alto e desejo mostrar para Deus algo que acredito ser um grande feito, ele apenas sorri dizendo: “viu só, você consegue meu filho!”
Eu poderia empurrar aquele portão sozinho. Deus poderia fazer o mesmo com o Universo. A ajuda do meu filho era desnecessária. A minha participação no infinito de Deus é ridícula. No entanto, a maior alegria de um pai é ter o filho próximo, participante, alegre.

Eu abro portões a minha vida inteira. Poderia continuar abrindo sem a ajuda de ninguém. Mas ver a alegria do meu filho em participar comigo tornou aquele momento especial e digno de ser fotografado em minha memória.
Estou emocionado em escrever estas palavras. Meus olhos se enchem de lágrimas em saber que Deus é Pai, e me faz participante dele neste Planeta que, para Ele pode ser apenas um portãozinho insignificante, mas para mim é um mundo extraordinário, cheio de portas e portões, pelos quais sem Ele nada é possível acontecer.

Um dia, meu filho pode acreditar ter “forças” para empurrar os portões de sua vida. Anseio que isto nunca aconteça. Desejo que ele se enxergue fraco e pequeno para sempre, pois assim, será grande e forte de fato. Ele compreenderá, na medida em que caminhar, que nada nesta vida é realizada pela força do braço de um homem, mas pelo poder de Deus manifestado pelo amor.
Em um mundo onde somente os forte sobrevivem, reconhecer fraqueza é a mais profunda manifestação de fé, devoção e convicção no Deus que não somente abre as portas, mas é A PORTA.  

Com amor,
Carlos Bertoldi
Curitiba – água verde 14:43

23/11/2014

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

A aranha e o macaco


 
 
É fato, que qualquer fala, gesto ou expressão que envergonhe um ser humano quer seja em seu íntimo ou publicamente é algo que traz dor, constrangimento. Não é engraçado, nem bonito, além de não gerar vida, nem alegria.
Aquele fato com o goleiro Aranha mostra mais do que uma simples jovem com conceitos deturpados. Revela a cultura de um futebol e porque não, de uma sociedade em decadência. Manifesta a pobreza de uma mentalidade, de um povo e de uma geração que perde de sete para muitas outras coisas além da Alemanha.

O comportamento dos torcedores de futebol é culturalmente sem consciência, sem amor, sem graça. É uma expressão da sociedade mal educada que encontra no futebol respostas para suas carências.

Acho interessante, no entanto, ressaltar algo importante. Aprendi, quando meu filho nasceu que, não basta evidenciar seus pequenos erros, é preciso apontar para a direção certa.

Os grandes lideres que lutaram em prol de uma sociedade mais justa e humana se concentraram não somente em falar dos problemas, mas em mostrar uma solução.
Prestar queixa é um direito do cidadão, mas perdoar é ensinar como se deve viver. Indignar-se é a natureza do homem, mas perdoar é apontar para um futuro de paz.

O goleiro pode ganhar esta causa, mas perdeu a oportunidade de mudar uma história. Foi-se a ocasião perfeita de mostrar para a ignorância a grandeza da misericórdia.

Justificado no mal que lhe atingira, o aranha preferiu se envolver nas teias do erro alheio do que se concentrar nas virtudes do seu próprio coração.
Nesta história entre aranhas e macacos, o que restou foi muito mais o veneno ressentido de um aracnídeo do que qualquer expressão de bondade de um macaco.

O mal se vence com o bem.

Sem pré-conceitos e com muito amor,
Carlos Bertoldi 11/09/2014

Curitiba-Paraná

 

domingo, 31 de agosto de 2014

Aos jogadores de futebol que desejam glorificar a Deus em sua profissão



Eis uma questão que irá causar polêmica, mas a vida em Cristo é a selvageria de tudo que foi domesticado pelo homem.


“Graças a deus”. Assim como começa e termina grande parte das entrevistas dos jogadores de futebol no Brasil. Até aí, tudo bem, até porque o “graças a deus” é tão usual quanto um palavrão na boca dum qualquer.

No entanto, é notável o desejo dos atletas profissionais em evidenciar sua fé e manifestar seu deus, sua crença, sua religião. O deus dos atletas profissionais possui algumas características. É recompensador de quem merece. É um deus fiel de quem é fiel. Não é um ser que derrama chuva por todos e sobre todos, mas é alguém que, ao ser agradado se torna bondoso e agraciador.
Mas, pode um homem ser fiel a Deus para que Deus fique em débito? Pode o ser humano gerar um crédito a ponto de Deus ter a obrigação de retribuir? O que move a “fidelidade” de um atleta? A retribuição de algo que deseja dentro do campo ou é apenas a sincera expressão de amor e gratidão?

Quais são as lentes pela quais os atletas enxergam Deus?  Como filho ou como profissional do esporte?
De fato esta é uma questão importante. No entanto, o que chama atenção são as formas e maneiras de expressar gratidão a este deus que os possuem.

Mãos para o alto, tatuagens, rosários, entrevistas. Os atletas querem expressar sua fé, mas em muitos momentos, revelam apenas a superficialidade de uma crença que se estabelece na barganha de relações comerciais do: “eu te dou uma coisa, mas você me devolve outra”. São diferentes religiões, mas o objetivo é sempre o mesmo. O próprio ventre.

É insuportável este script de fé, que começa com deus, passa pela fidelidade e termina com a vitória. .

Existe, de fato, muito de deus no coração dos jogadores e atletas em geral, mas muito pouco de Cristo, diria, quase nada.

Os lábios até falam em gratidão e os dedos apontam para o alto, mas o coração cheio de vaidade e orgulho desfila ódio e indiferença quando aparece na segunda feira para treinar.

Esta contradição entre a relação que os atletas religiosos possuem com seu deus e a relação que estabelecem com as pessoas é que confronta este modelo de fé.

Enfim, é uma grande vitória profissional fazer um gol importante e levantar os dedos para o alto, mas mais extraordinário é ser gracioso o suficiente para ficar no banco de reservas sem ser arrogante. ”Glorificar” Jesus com palavras em um microfone é um discurso bonito, mas viver em harmonia com o Espírito do Cristo que é impactante. É muito legal poder estampar na camisa “Jesus te ama” para as multidões em um domingo de estádio lotado, mas exercer o amor, o respeito e o serviço no anonimato de uma segunda qualquer é manifestar a semelhança de Jesus.

O conceito de vitória, então é transformado pelo viver em Jesus e entende-se que este Deus não se mede por resultados. Ele é imensurável. Não está o Criador zelando pela profissão de um atleta, mas pela vida de um filho.
E todo aquele que compreende esta verdade se torna um servo inútil sem créditos, nem merecimentos. Não se angustia em manipular Deus em seu próprio benefício, mas se regozija em viver Deus para o bem da humanidade. Ser mais que vitorioso não tem nada a ver com os troféus, mas pelo profundo compreender que o melhor não está em um momento profissional do futuro, mas esteve numa manjedoura, depois numa cruz, e agora está num presente continuo e eterno que atende pelo nome de Cristo.

O mundo está desesperado e ansioso, e isto não por palavras que saem da boca ou por dedos e mãos que apontam para o alto, mas pela manifestação de um filho de Deus, e que este, seja de fato, semelhante a Jesus.
Carlos Augusto, 31/08/2014
Curitiba, Paraná

terça-feira, 22 de abril de 2014

Entre a semelhança e a diversidade


Deus fez o homem a sua imagem e semelhança. Até aí tudo bem. O problema é que os seres entre si também são semelhantes, mesmo ante a diversidade de raças, cores, culturas, habilidades, inteligências, credos, ideologias, sexo.
 
Nessa semelhança e na diversidade de elementos está a inteligência da criação. Não são seres diferentes tentando fazer coisas parecidas, mas seres semelhantes vivendo diversas experiências, falando muitas línguas, vivenciando múltiplas ideias, reinventando novas perspectivas. O homem jamais entendeu isso. Arrisco-me dizer que, por isso este planeta está repleto de sangue e dor, e isto, não é a ausência de Deus, é a insuficiência humana em compreender a diversidade das semelhanças e delas extrair tudo que complementa a existência de cada um.

O ser humano é semelhante para que se enxergue no outro e diverso para que o complemente. Esta ótica permite, ou melhor, devolve ao homem a capacidade de enxergar no outro um próximo.   

Viver em comunidade sem a diversidade é como estar numa floresta de uma árvore, num rio com apenas um peixe, num céu com um único passarinho.  As espécies se completam, estão em cooperação, mas os humanos ainda estão capengando nesta cadeia de mutualidade.

A grande crise humana, infelizmente, é o desejo desesperado em se tornar diferente do próximo. A religião tem sido desde então, a grande vilã de toda esta realidade na história. A diversidade de pensamento e conduta sempre lhe foi grande ameaça. Algumas centenas de anos afundados nessa tormenta religiosa foram suficientes para que o homem coubesse dentro de uma caixa de dogmas e Deus dentro de rituais litúrgicos. O homem moderno é religioso desde que Deus não atrapalhe sua crença. 

Diriam as mulheres que todos os homens são iguais. Talvez elas estejam certas. Somos iguais naquilo que deveríamos ser diversos e diferentes naquilo que fomos feitos semelhantes. 
 
Este fato desenvolveu um outro problema. O senso de complementaridade. O homem se tornou um suicida de alma, de espírito.  Um ser só, que, em meio ao paraíso, clama por alguém “osso dos seus ossos, carne da sua carne”. O mundo parece ter girado o suficiente para que bilhões de pessoas estejam competindo, lutando e destruindo umas as outras, seja no trabalho, no colégio, na faculdade ou na igreja. Certo estava Isaias quando alertou, "Abocanha à direita e ainda tem fome, devora à esquerda e não se farta; cada um come a carne do seu próximo". (Isaías 9;20) 

O homem se tornou seu maior inimigo e agora procura desesperadamente por um semelhante para chamar de amigo. Estes somos nós. Homens que desejam ser diferentes, mas que sofrem as angustias de não encontrar semelhantes.

No próximo texto, a solução desta problemática na ótica da redenção e a esperança de todo aquele que é semelhante, mas que vive num mundo de diferentes! Beijos

Yuen Long, 22/04/2014
Carlos Augusto Bertoldi


 

domingo, 11 de agosto de 2013

Em manutenção...

E...

E se existe alguém que abre estas páginas quando nelas debruço minha alma saibam que meu espírito deseja ansiosamente um silêncio dos meus barulhos.

Desejo desesperadamente conhecer a Deus sem as más interpretações dos meus achismos, nem a forte influência das letras que em mim fazem morada.

Neste instante, repousa a sabedoria silenciosa que deseja ouvir, perceber, aquietar, compreender, refletir.

Este desafio foi por mim muitas vezes adiado devido a natureza existencial ativista do meu ser.

Desejo separar meus joios, e para isso, preciso encontra-los. 

E pela Graça, na Graça, em Graça...

Carlos Bertoldi, Yuen Long 12/08/2013 07:06 Hong Kong

segunda-feira, 22 de julho de 2013

João Pedro



Escrevi e apaguei. Escrevi de novo e apaguei mais uma vez. Em toda minha vida encontrei palavras, mas confesso que neste dia, ante ao seu nascimento, as letras estão embaralhadas. Um nó na garganta se forma a todo instante que imagino você em meu colo. Uma insistente lágrima desliza em meu rosto anunciando um novo tempo.

Uma sementinha de eternidade toma espaço dentro da minha vida.

Estou grato a Deus. Acompanhar o milagre da gestação foi para mim grande presente.

E se meu amor de pai é tão puro e lindo, imagino que o amor do meu Papai seja maior ainda. No mesmo instante que descubro o amor de ser pai, me sinto mais amado pelo meu. Ser Deus, mas não ser Pai não teria sentido para aquele que nos ama de forma incondicional.

Sem palavras suficientes, mas com um amor transbordante. Sem letras elaboradas, mas com um coração encharcado.

Para meu gergelim,

Com amor,

23/07/2013 Yeun Long, Hong Kong

Carlos Bertoldi 11:38

Papai

sábado, 13 de julho de 2013

Entendi o que é amor...


E entendi que o amor é mais que um momento. E de um instante não vive. O amor, não é romântico. É espontâneo, improvisado.  Ele não tem rotina.

O amor não é meu, nem de ninguém. Não é uma posse, nem nós somos seus inquilinos. O amor é amor com saudade. Não é uma carta, nem letras bem desenhadas, é amor, e por ser amor, deixa de ser qualquer coisa.

E dele, tudo que provém é para se amar.

Ele é o vinculo, que entre os imperfeitos, torna tudo perfeito. Ele é a vírgula em minhas ignorâncias.

Ele é em mim a oportunidade, a chance.

Sem ele restaria frases sem efeito, flores sem sentido.

E num momento tudo que é imperfeito, inacabado, sem vida, é pela perfeição de um sentimento transformado em alguém semelhante a mim.

E o amor faz em si, a sua própria imagem, e, nela o reflexo do meu ser. E ainda na barriga de quem amo, está o espelho daquilo que sou.

E entre os homens é sentido em um instante o que Deus sente por toda a eternidade. E por um momento, num lapso, num segundo, experimento com toda a intensidade terrena, uma fração da plenitude divina.

De fato, Deus é amor.

E neste mesmo instante em que minha imagem se reflete em alguém, a imagem do Pai se confunde comigo.

Então não preciso estar, mas simplesmente ser. A distância perdeu para o amor. O tempo não entende nada do que é eterno.

E se Jesus é a Luz do mundo, ele reflete grande parte desta Luz em vocês,

Para quem Deus se revelou a mim,

Marcinha e Joãzinho

Do papai,

12/07/2013

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Ele é do céu. Eu sou da terra


E Ele é do céu e fala o que de lá se ouve. Ele é do céu e viveu entre nós como se lá estivesse. Eu, eu sou aqui da terra, e meu idioma é terreno.

Quando num surto existencial algo divino surge em mim, não é a terra que fala, mas o céu tomando espaço dentro da minha ignorância. 

Ele foi o céu em minha terra. Eu sou a Luz do mundo, diria aquele que trouxe da imensidão dos céus o Sol da Graça. Ele é, e por ser, deixa de precisar parecer que é.

Cristo é extraterrestre. Seu amor, um objeto não identificado. Suas palavras, marcas a serem desvendadas.

E se, num lapso conseguir compreender a existência do céu em mim, então o dialeto de Deus em Cristo é revelado. 
"E Deus amou o mundo de TAL maneira..." Como traduzir essa tal maneira?
Essa tal maneira de amar é onde me encontro, e por me encontrar em Deus, me perco de mim, e uma vez perdido do que sou, sou resgatado por aquele que É.
 
 
 
 

domingo, 7 de julho de 2013

Seja mais que um descendente qualquer. Seja brasileiro.

 
 
O que nós precisamos compreender como povo, é que este momento brasileiro é uma revolta contra nós mesmos. É um grito desejando rejeitar a semelhança da nossa pátria. Este momento não é somente um grito na terceira pessoa, mas um eco na primeira pessoa do plural.
 
É um clamor para que nossa consciência seja reescrita, de maneira que um país nasça de dentro para fora.  A priori, ainda sequer somos um país. Na verdade, nosso povo ainda é um ajuntado de descendentes de europeus, africanos e asiáticos. Ainda somos mestiços reclamando de um país que ainda não entendemos como nosso.
 
Os outros povos compreendem suas raízes e histórias, visto que seus pais lutaram para que pudessem ter liberdade. Nós não. O povo brasileiro é imigrante. Ou chegou para explorar a terra como os colonos oriundos da Europa e Ásia ou para serem explorados com os negros africanos.
 
De fato, nosso povo ou é explorador, ou explorado. Um reflexo perfeito da nossa identidade como país, como engenho, como fazenda.
 
Está surgindo, no entanto, neste momento um pingo de consciência de que este lugar é nosso.Uma identidade diferente está nascendo, ao mesmo tempo, que o jeitinho brasileiro deverá morrer.
 
Velejando para dentro de nós mesmos redescobriremos um Brasil justo e maravilhoso escondido por nossas próprias corrupções. 
 
Surge então o idioma brasileiro junto com o desejo de amar a pátria que estamos ajudando a construir. Quem fala português ainda soletra as raízes de uma colônia.  Nós devemos ser brasileiros e nossa “brasileridade” é lutar por um futuro melhor.
 
Seja mais do que um descendente que luta em manter suas raízes. Seja um brasileiro lutando por um país melhor.
 
Assuma sua identidade. Seja brasileiro!

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Estou sem forma e vazio


Criou Deus o céu e a terra. A terra, porém estava sem forma e vazia. Nela havia as trevas e a face dos abismos por todos os lados. O espírito de Deus pairava por sobre um lugar inóspito, frio, escuro.

O homem é uma criação sem forma, cheio de vazios e trevas. A Graça de Deus se resume em que o Espirito de Deus paira por sobre esta criação, mesmo quando é apenas algo informe e vazio. Não há em Deus a vaidade de habitar somente em lugares prontos e perfeitos.

Há, sim, toda a extensão da sua bondade e Graça, visto que nas sombras e trevas está o Deus que preenche todas as lacunas.  Nele está um amor que paira por sobre tudo que é vaidade e orgulho.  Cristo é a imagem do Deus invisível que passeia por todas as mais negras trevas da existência humana.

Está na informe capacidade de amar dos Zaqueus, nas trevas legalistas dos religiosos, nas sombrias ideias dos apóstolos. Esteve Jesus no vazio dos homens sem esperança, entre os abismos daqueles que estavam acamados.

Jesus é o Espírito que pairou sobre nossas deformidades, nas nossas mais informes capacidades de existir. Ele fez a separação da luz e das trevas, divorciando qualquer dúvida entre o que é humano para o que é divino.

Este Ser se encontra no vazio, visto que existe para encher. Nas mais densas trevas, pois é LUZ que ilumina. Ele é para os doentes, para os informes, para os pecadores. São nestas terras deformadas que todas as formas de Deus se encontram. São nestes vácuos onde o Espírito de Deus se acomoda lapidando um formato semelhante a Ele.
É na deficiência do homem que a eficiência de Deus se concretiza.  É na fraqueza dos braços humanos que a força divina se evidencia.

O céu nunca esteve informe e vazio. Isso é coisa da terra e dos humanos.

“Eu vim para os que precisam de médico”. (Jesus Cristo)

05/07/2013 Hong Kong, Causeway Bay 12;09
Carlos Bertoldi 


Meu sonho é estar vazio das minhas próprias palavras.
Estar em branco, para que assim, Deus tenha total liberdade
de escrever a sua história em mim. 

terça-feira, 2 de julho de 2013

Consciência X Comportamento


Se o teu olho ou sua mão lhe fizerem tropeçar melhor é viver sem eles. (Mt 5;29)

Para Jesus convém ao homem perder um dos seus membros a usa-los de forma errada. De fato, em Deus todos se tornam “caolhos” e “manetas”, visto que muitas atitudes, crenças e posturas acabam sendo abandonadas na medida em que se caminha em direção a Deus.

Ninguém herda o reino de Deus sem estar mutilado da sua própria natureza.

Neste momento do Sermão da Montanha estava Jesus dizendo sobre aqueles que enxergaram seus defeitos e ante esta descoberta escolhem limitar sua existência, do que estar diante da iminência da sua fraqueza. Ele estava falando sobre alguém que foi tomado pela consciência de seu próprio mal e da sua incapacidade humana em lidar com esta realidade.

A verdadeira consciência surge quando o homem alcança a compreensão profunda e simples do que se pode, mas que na verdade não se deve. É o conhecimento intimo da linha tênue que separa o licito do ilícito. Não é uma regra estabelecida para todos, mas uma consciência individual que floresce intimamente dentro de cada ser humano. De fato, todo homem precisa saber de quem, por que e o que deve se afastar, arrancar e eliminar em si mesmo.

Assim, a vida em Cristo não é uma fábrica de comportamentos embutidos em alta escala, mas uma reflexão interior e pessoal daquilo que é bom, perfeito e agradável para cada um. De fato, o homem pode todas as coisas naquele que o fortalece. Ele pode fazer e realizar tudo em Deus, e na consciência que nele existe. Aquilo, no entanto, que fere a sobriedade e a serenidade do ser na sua relação intima com Deus e com as pessoas é suficiente para ser evitada, banida, arrancada.

O fato de a religião ser mais proibitiva do que ativa ao senso humano não é por significativa maldade, mas por severa proteção. A religião parte do principio que é melhor proibir uma criança mexer numa faca do que ensina-la a manusear o instrumento.

Logo, no desejo de evitar o erro, se proíbe qualquer possibilidade de acerto.

De fato, o mundo religioso se tornou escravo do comportamento sem consciência. A religião é fria, não porque é repetitiva, mas porque um sistema não gera individualidades. Tudo que é envolvido pelo sistema é fabricado, é produzido, é embalado. A religião é uma indústria. Ela gera de fora para dentro, pelo viés do comportamento exterior, não de dentro para fora através da consciência de cada ser.

Então, o mundo está cego, mas não é por causa dos seus erros, mas pelos medos. O filho pródigo é um bom exemplo. Ele rompeu com as cercas do comportamento e na sua miséria descobriu sua consciência. Quando esteve diante do erro, foi quando fez seu maior acerto. Foi quando percebeu sua capacidade de errar que se descortinou toda sua vontade de acertar.

Enriquecido pelas suas perdas, voltou consciente do lugar que deveria permanecer para sempre. Os erros e os defeitos nem sempre são tão maléficos a vida do homem. Jesus jamais impediu alguém de atravessar as fronteiras do certo justamente por causa dessa condição pedagógica que o arrependimento pode florescer. Um homem que erra e é tomado pela consciência do seu erro será para sempre alguém muito mais envolvido pela Graça e pelo amor de Deus do que aquele que sempre se orgulhou no bom comportamento ético.

O Pai pode impedir a saída de um filho mutilando sua capacidade de caminhar, ou então, arrancar um dos seus olhos, mas não é isso que acontece em Deus. O pai do pródigo se despede ansioso que seu próprio filho chegue sozinho a forte convicção daquilo que ele mesmo precisa arrancar da sua vida.

E foi bem longe que o filho se tornou de fato filho. Foi bem distante que descobriu seu próprio coração e suas mais profundas necessidades. Deus não limita fronteiras físicas, legalistas ou existenciais, mas liberta, e isso faz para cada um possa compreender a si mesmo a partir de suas próprias experiências. Deus permite as idas e vindas, porque a somente um homem livre pode ter uma opinião bem definida em sua própria mente. (Rm 14;5b)

Conhecendo a si mesmo, está o homem apto a arrancar aquilo que é necessário. Ninguém fará isso por ele, visto que enxergou onde estão seus maiores vazios.  

Então, o filho mais velho ficou não porque estava livre para escolher, mas porque as cercas do comportamento lhe impediram. Ficou em casa não por causa da sua consciência de filho, mas porque teve medo de perder regalias do sistema que privilegia aquilo que é ético e moral. O mais novo tomara posse de seus bens pela força da sua maldade. O mais velho tentara fazer o mesmo barganhando sua suposta bondade.

O homem religioso pode ser o mais comportado cidadão, mas está limitado nas fronteiras humanas do legalismo e das aparências. Estará sempre caminhando na beira das farpas dos arames, orgulhoso da sua própria incapacidade de viver livre.

De fato, não beber em demasia, respeitar seu cônjuge e ser honesto nos relacionamentos é um comportamento maravilhoso, no entanto, se todas essas atividades são esforços exteriores, sem antes ser a mais profunda natureza interior, tudo é apenas um disfarce, uma hipocrisia, um jogo.

É importante saber que a liberdade em Cristo não é para todos, posto que, viver em liberdade é muito mais difícil que viver preso. Para muitos é melhor a LEI que aprisiona e diz não, do que a GRAÇA que absolve e diz sim.

O filho mais jovem não é apologia para o abandono das regras e leis, mas apenas o vislumbre divino que o comportamento não define caráter, nem verdade. O comportamento, quando não gerado pela consciência se transforma apenas numa formula de manipular pessoas. Tudo que é bom acontece antes no coração para depois viver na natureza das atitudes.   

Por isso, “Bem aventurado é o homem que não se condena naquilo que aprova. (Rm 14;22)

sábado, 11 de maio de 2013

Arrumando as malas e muitas outras coisas!


Na vida muitas coisas se amontoam, basta mudar de cidade para chegar a essa conclusão. A verdade disso é que chegamos na China com duas malas de vinte e três quilos e estamos indo embora com quatro malas de trinta e dois quilos, duas malas de mão de dez quilos, duas mochilas e algumas coisas que ficaram para trás.

De fato, existem algumas coisas que gostamos que nem sempre podemos levar e algumas outras que achávamos importantes, mas que não são tanto assim. Arrumar as malas é um seletar daquilo que realmente é fundamental.

As mudanças repentinas que de vez em quando a vida promove nos levam a este arrumar das nossas prioridades. Nos armários da consciência ou nas gavetas da alma, existem um amontoado de coisas, momentos e pessoas, que não cabem na bagagem existencial e precisam ficar para trás, virar passado.

O tempo acumula muita coisa. Chega um momento em que é necessário mudar, arrumar as malas, reciclar ideias, deixar coisas para trás e começar uma nova caminhada.

Estamos indo embora amanhã carregado de novas histórias, ideias, percepções e aprendizados. Chegamos vazios e estamos voltando cheios.

As pessoas que aqui encontramos preencheram nossas bagagens. Agradecemos a Deus por elas. Estamos indos embora cheios, no entanto, plenamente convictos que dentro em breve estaremos nos esvaziando. Ficará em nós somente aquilo que foi fundamental e divino.

Os chineses foram uma escola e a China uma Universidade.

Com amor,

Carlos Bertoldi e família
Causeway Bay, Hong Kong 11/05/2013 13;02
 
 

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Estou de saco cheio!

O mundo está de saco cheio. Existe uma angústia de muitas demandas, afazeres e compromissos. Não existe mais tempo para educar os filhos, espaços para pensar, momentos para relaxar. Na contra mão, no entanto, existe um pavor enorme de ficar sem nada para fazer.    


Entre os olhares modernos estar vazio é pobreza existencial. Qualquer vacuidade deve ser preenchida, qualquer vazio deve estar entupido, do contrário, tudo é pobreza, é tédio, é marasmo. O homem reclama da falta de tempo, mas quando o tem, corre atrás de algum passatempo.

Pobre existência é a que vive atolada, cheia, transbordante. Ainda prefiro caminhar numa rua pouco movimentada, fazer compras num mercado vazio, passear por uma praia deserta. Os vazios são bons, são espaçosos, confortáveis.

Na medida em que o homem descobre-se vazio tenta desesperadamente tapar estas arestas como que se houvesse alguma necessidade de preenchê-las.

Estar vazio é existir com espaço, tempo. Estar vazio é não estar com o “saco cheio”. Estar vazio é ser aprendiz.

A verdade é que as pessoas não devem completar ninguém, nem mesmo preencher lacunas. A vida é um esvaziar-se, porque amar é a natureza de perder a si mesmo. A conclusão da vida é que quanto mais pessoas se ama, mais se esvazia das próprias ideias e achismos e isso é que na verdade completa.

Quanto mais o homem preenche sua existência consigo mesmo, e com seus próprios planos, mais sozinho e dependente deste mundo se torna.

A vida é mesmo uma contradição.

O amor não completa ninguém, visto que não nascemos pela metade. Ele divide alma, medula, coração. O homem nasce inteiro e termina em pedaços, posto que a natureza daquele que ama é dividir, é dar, é entregar, é partir, é compartilhar.

No Universo existem mais vazios do que estrelas, mais escuridão do que planetas. O mundo precisa girar, as ideias precisam surgir. O fato é que está faltando espaço para pessoas, assim como não se acha lugar para aquilo que realmente tem valor.

Não preencha todos seus espaços. A alma precisa de um espaço baldio para germinar aquilo que lhe apraz.
O tempo passa rápido por si só. Não o apresse mais ainda!
 
Causeway Bay 08/05/2013 17;20
Hong Kong
Carlos Augusto Bertoldi


Folhas em branco permitem escrever com clareza,
do contrário, a vida fica cheia de rabiscos e rasuras.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Último aprendizado em Hong Kong - Fora dos trilhos

O meu armário e as famosas portas!

Durante cerca de 10 meses o armário que temos para colocar nossas roupas esteve emperrado. Para abrir e fechar era necessário força e aquele velho jeitinho, puxa de cá, empurra para lá.

Ontem, as duas portas saíram completamente dos trilhos e caíram. Pensamos que a solução seria deixar o armário sem portas, no entanto, no dia seguinte, com calma tentei encaixa-las e elas perfeitamente deslizaram nos trilhos. Estamos com o armário funcionando perfeitamente bem.

De fato, em determinadas situações a vida se enrosca, emperra, e quão grande falta de coragem possui o ser humano em encarar estas pequenas e chatas inquietações que os afligem.

O caos se instala quando tudo sai deliberadamente dos trilhos, no entanto, é ao perceber profundamente que tudo está ruim que surge a verdadeira oportunidade de tudo ficar bom. Nada nesta vida acontece pelo viés da força, mas pela natureza da consciência. Depois da crise com meu armário, as portas estão realizando com totalidade o propósito pela qual foram inventadas.

Sair dos trilhos não significa o fim, mas o começo, visto que somente cai quem já está sofrendo, emperrando. Tem-se um jeitinho para tudo neste mundo, até mesmo para aquilo que é ruim, desconfortável. Este é o nosso maior problema. O fato é que se precisa compreender que a existência é para ser vivida em plenitude, não em parte.


É bom conviver com pessoas desemperradas. Os casamentos felizes acontecem entre pessoas que proporcionam facilidades, não problemas. Os sentimentos de quem desliza na superfície da alegria e do contentamento estão livres de uma centena de emperros existenciais.

A vida necessita deste encaixe, do contrário é necessário forçar. Não jogue fora as pessoas, nem os momentos, quando algo sai dos eixos ou dos trilhos. Talvez, seja essa a grande oportunidade de Deus para que se encontre de fato o caminho perfeito.

A vida precisa dos trilhos, porque problema pode não ser a porta, nem o armário, nem a pessoa, nem o casamento. Ás vezes é necessário somente compreender que é preciso recomeçar, refazer, reconstruir da forma correta. Tenha coragem e pense nisso!

Causeway Bay, 02/05/2013 15;56 Hong Kong

Carlos Bertoldi



segunda-feira, 29 de abril de 2013

O Judas que existe em mim




Um misto de sentimentos borbulhava entre os discípulos. Eles estavam surpreendidos por aquele que deveria batizar, mas se curvava a um comedor de gafanhotos e mel. Estavam boquiabertos pela humildade daquele que deveria falar aos reis, mas discursava seus maiores segredos para pessoas comuns. Tentavam compreender aquele que deveria ter seus pés lavados, porém lavava os pés daqueles que com ele caminhava.

Jesus é a expressão do amor de Deus para com o homem. É o retrato que Deus, sendo Senhor, assume a condição servil em relação ao que ama. É isso mesmo. Jesus é a demonstração do serviço de um Senhor para com seus servos. Esta realidade de um senhor servir é escândalo para a mente humana, mas é a expressão divina da redenção de um Senhor que tem prazer em servir.

Assim assumiu Jesus esta posição não somente para exemplificar ao homem seu procedimento, mas para evidenciar o favor de Deus. O Senhorio de Cristo viveu em servidão, posto que o amor se expressa no servir, não no ser servido.

Desta forma o homem sendo servo do Senhor, na verdade é servido por Ele, visto que Deus é Deus no amor que se entrega, não no Senhorio que aprisiona.

Por isso Jesus escolheu Judas para dar o bocado molhado. Naquele tempo, dar um pedaço de pão molhado em vinagre ou em algum molho de ervas significava um favor especial, uma honra. O amor e o serviço de Deus não estão somente relacionados aos fiéis, aos bons, aos comportados, mas a todos, até mesmo aqueles que chamamos de “Judas”.

Esta é a mensagem de Cristo. Este é o escândalo da Graça promovendo toda a sorte de contradição ao nosso pensamento. Servir a quem se ama é sinal de humildade. Servir os traidores é expressão de um amor que vai além dos sentimentos carnais.

O serviço de Deus não é uma reação, mas uma ação, visto que primeiro ele morreu, lavou, serviu, falou, amou, para que depois o homem pudesse reagir a esta realidade. Nada ele fez como retribuição, mas simplesmente como uma ação de quem não precisa de reciprocidade para amar.

Todo homem em algum momento na vida fez planos malignos. Por isso o pão da vida se encharcou de sangue, se transformando no bocado molhado de Deus em nosso favor. A diferença é que alguns ainda preferem o lucro das moedas do que a Graça da reflexão que enxerga a si mesmo.

Judas? Todos, sem exceção, possuem em seu sobrenome parte destas características de vilão. O fato é que entre o imaginar e o agir de nossas maldades existe um intervalo onde Deus revela saber nossos pensamentos. Entre os planos que Judas fizera e a concretização do seu mal existiu um tempo, um lava pés, um bocado molhado, um olho no olho.

Somente Judas entendeu quando Jesus falara da existência de um traidor naquela mesa. Os outros ficaram se perguntando entre olhares desconfiados.

Se quem está a sua mesa, em sua vida, não sabe. Deus sabe. Pense nisso antes de qualquer coisa!

 

terça-feira, 23 de abril de 2013

Quem sou eu?


Descobri que na vida tudo brota de dentro para fora. Desde a raiva ou o desgosto por alguém, até o amor e a admiração. Muito embora, as pessoas pareçam ser boas ou más, é o ponto de vista, o ângulo, o entendimento e a interpretação que nos leva a admirar ou a simplesmente ignorar.

Isto é fato, pois a beleza é ponto de vista, até porque os feios encontram aqueles que os achem lindos.  Neste mundo existe espaço para os chatos, inconvenientes, para os infelizes, para os amargurados, para os homossexuais, para os bissexuais, e até para os trissexuais. (já vi de tudo nesse planeta)

Sábio foi Jesus quando disse que o que está fora do homem não o influencia a ser melhor ou pior, mas aquilo que habita em seu próprio coração. Nós, digo todos, sem exceção, sofremos terrivelmente de um problema interpretativo, visto que grande parte das nossas conclusões e achismos estão errados.

Logo, pode ser que a grande parte da feiura que enxergamos neste mundo não seja de fato uma reprodução exterior, mas apenas uma imagem interior que se desloca para fora. Talvez a maldade não esteja antes nos lábios de quem fala, mas nos ouvidos de quem ouve. Somos pessimistas do ponto de vista intimo, por isso é certo relembrar o antigo provérbio, “a maldade está nos olhos de quem vê”.

Enfim, vendo este embaralho humano em discernir aquilo que é humano e racional, entende-se este emaranhado espiritual religioso que vivemos. Se nas relações humanas somos um fracasso, seria hipocrisia afirmar que temos um elo mais profundo com o sagrado.

De fato, entre todos os achismos que o homem tentou desvendar, muitos não passam de pequenas perspectivas humanas. A interpretação bíblica por exemplo sempre foi um fiasco, visto que nela já se matou, torturou, enricou, lucrou, abandonou. O cristianismo fez surgir a cada século um deus, um cristo, um nazareno do ponto de vista adequado para o momento. Ontem um Jesus branco para os Senhores de Engenho. Antes de ontem um cristo institucionalizado, impensante, ditador, inquisitor e dono de um planeta quadrado. Hoje um deus empresário, empreendedor, facilitador, rico e capitalista.

O tempo e as épocas construíram seus deuses, suas fórmulas, suas ideias. De acordo com a interpretação humana do que seja o certo, estamos caminhando para um buraco existencial de querências, angústias, tristezas e demandas de um mundo moderno voraz, sensual e caótico. Precisamos desesperadamente de um RESET.

De certa forma, os problemas estão dentro, e as soluções fora. Deveria ser o contrário.

Estou tentando nadar contra minha própria maré existencial religiosa para criar em minha mente e no meu coração um mundo melhor. Olhar as pessoas sem a maldade que me cabe, nem a vida com a dificuldade que tento lhe incutir. Guardo meus ódios para odiar a minha própria maldade.

Aviso aos meus amigos, que dependendo do ponto de vista, todos encontrarão motivos justos para não me amar. Tenho defeitos e muitos.

Não peço nada, a não ser que eu não seja a imagem refletida da sua maldade, nem mesmo a rasura das suas próprias imperfeições. De fato, seremos melhores quando pararmos de editar as pessoas como se elas fossem filmes. Essa é a nossa ficção que cria as pessoas de acordo com o ângulo que as percebemos. Esta é a nossa arte que cria álibis para aquilo que sentimos.

O mundo será mais mundo quando a imagem que existe dentro de cada um for transformada em verdade, de modo que tudo que exista fora seja apenas o reflexo daquilo que está do lado de dentro.

Se você me odeia, talvez o pior mal não esteja em mim.
Se você me ama, o maior beneficiado não sou eu.
Eu escolhi amar...

Com amor,

Causeway Bay 21;36 Hong Kong 23/04/2013

Carlos Bertoldi