terça-feira, 23 de outubro de 2012

Minha religião, minha hipocrisia


Dentre todos os problemas que permearam minha existência, descobrir quem verdadeiramente sou, foi a mais difícil. As outras descobertas foram mais fáceis, o que não as torna menores, é logico.  Na frente do espelho costumo encolher a barriga, estufar o peito, arrumar o cabelo. Grande parte da mentira interior que se desenvolveu em meu ser, está relacionada a espiritualidade, porque quanto mais se anseia pelos atributos morais da religião, mais poses é necessário ensaiar.
A Verdade promove tudo que é puro, gracioso e en-graçado. Ela aflora de dentro para fora sendo o mais singelo e sincero reflexo daquilo que é eterno. Todavia, toda bondade desprovida de verdade, não passa da melhor ferramenta humana, usada exteriormente por um, para atingir interiormente o outro.  Neste mundo tão religioso, a coisa mais fácil é ser santo. Qualquer um pode alcançar o ápice espiritual com uma boa maquiagem de palavras e conceitos. Sem palavrões, sem ritmos carnavalescos, sem novelas, sem jogos, nem bebidas. Com olhos fechados, orações prolongadas, dízimos “pagos”, olhos lacrimejantes, votos cumpridos.
O espirito religioso sobe os degraus da escada da penha pela manhã e a tarde passeia na rua vinte e cinco de março. A religião em minha vida nada mais foi do que este calçadão de valores externos que promovem adereços perfeitos para maquiar o que é profano e torna-lo “santo”. No entanto, estas falsificações de caráter que a religião me permitiu viver aprisionaram meu entendimento em julgamentos externos, nunca internos. Sombreado por boas obras e louvores decorados, por sorrisos ungidos e em trabalhos voluntários, passei a ter um conceito sobre mim mesmo totalmente errado, pasmem, muito mais, do que no meu período de profano desmistificado. Esta distribuição de todos meus bens exteriores redundou em uma cegueira das minhas maldades interiores. Enegrecido pelo desejo de parecer bom, tornei-me mais perverso do que o mau, pelo simples fato de que, todo religioso é um manipulador inteligente de conceitos e verdades próprias.  Diante do espelho da Verdade, um confronto. A religião estufava meu ego, mas não combinava minhas roupas. Nada é mais brega do que não combinar coração e espírito.   
Passado alguns anos rejeito a tentação de “usar” o bem, o outro, as boas obras, a Palavra, o bom testemunho como um feitiço para impressionar as pessoas. Simplesmente sou o mais errante dos homens que conheço. Sou uma carta viva cheia de erros gramaticais, no entanto, tenho prestado toda a atenção nas concordâncias com o Verbo. Minhas orações tem se repetido constantemente em apenas um pedido, a saber, o perdão. Sou profundamente dependente da graça de um favor totalmente imerecido promovido por Jesus. A notoriedade da minha imperfeição redunda em julgamento para o mundo dos “santos religiosos”, mas para mim, em um profundo senso de dependência de Deus. Não vivo para chamar a atenção do outro, mas a felicidade de ser descoberto por Deus e amado por Ele. Desejo o silêncio interior do anonimato, a fazer sucesso com falsificações religiosas que até chamam a atenção dos neófitos, mas ferem a Verdade e o Verbo de Deus.
Se afaste de mim a doença do jovem rico, que obedece a religião por toda a vida, mas é incapaz de caminhar com Jesus. Não quero ser o mais obediente religioso. Desejo ser o mais sincero filho. Enquanto enxergar o “miserável homem que sou”, então estarei salvo de mim mesmo.  Sei que este olhar para meu umbigo é verdadeiro, porque nele encontro defeitos, imbecilidades, vaidades e arrogâncias. Enxergo becos, vielas, misérias e pecados. Se um dia, estas coisas sumirem da minha vista, não quer dizer que não existam, certamente apenas fiquei cego a ponto de não as enxergar mais.
A minha religião é não possuir uma religião. Minha religião é a coragem de estar e ser des-coberto pelo Espírito Santo de Deus, que me consola, confronta, e que é totalmente suficiente. Enquanto viver, ninguém será meu telhado nem meu chão, tampouco, alguém carregará a minha cruz. Serei errante, jamais hipócrita. Terei mestres, jamais gurus. Serei um peregrino, nunca um morador.

Stand-up gospel


Jesus agregou homens, a saber, doze, para serem testemunhas do poder e da misericórdia de Deus. Após a morte do Cristo, estes homens foram provas vivas das verdades, dos milagres, da morte e ressurreição, e, principalmente, das Palavras de Jesus.
Depois de mais de vinte séculos e de gerações e mais gerações de discípulos, dos discípulos, dos discípulos, dos discípulos, é evidente que vivemos uma realidade histórica espiritual muito diferente daquela relatada pelos testemunhos da Palavra de Deus. Os “olheiros” de Cristo, outrora, falavam daquilo que haviam visto, ouvido e aprendido através da vida do Cristo. Eles se demoravam em dizer das verdades de Jesus, do amor de Deus e da revelação do Pai. A Palavra de Deus em todo seu escopo divino, não se preocupa, nem perde demasiado tempo em asseverações a respeito do que é mal, porque se deleita em falar daquilo que é bom, a saber, Cristo. São raras as vezes que os autores falam de Satanás, pois Deus, na figura de Jesus, é o centro da verdade, da Palavra, do verdadeiro discurso. Não existe espaço para outro assunto no coração daquele que ama a Deus, senão falar das suas maravilhas.
 
O testemunho de Cristo dos nossos dias é bem parecido com o coração das testemunhas. Não passam de histórias individuais de vitória pessoal, alcançada através da fé na fé, de boas obras e sacrifícios pagãos em nome de Jesus. Com discursos hipnóticos e cheios de emoção, centralizam suas mensagens na figura de Satanás, nas tragédias, nas dores, nas traições. Durante grande parte da “novela gospel da vida real”, são testemunhas de seus assassinatos, pactos demoníacos, mentiras e enganos. Vagueiam por histórias fantasiosas, proporcionando que o pouco de verdade que possuem sejam tragadas pelo show que produzem. As testemunhas de Jesus relatavam a Cristo, e isto, bastava para que as pessoas fossem totalmente confortadas e redirecionadas a uma vida de gratidão e piedade. Não acredito em grande parte destes profissionais que ganham a vida falando daquilo que supostamente tenha acontecido em suas vidas, porque se as misericórdias do Senhor se renovam todas as manhas, as histórias também deveriam.
Os evangélicos promoveram uma nova profissão, porque estão reduzidos a sentimentos. Odeiam as novelas da televisão, mas no fundo, são apaixonados por histórias trágicas, cheias de traições e mentiras. A Palavra de Deus não passará, mas os testemunheiros sim. Para quem lê a Palavra e vive com entendimento o amor de Cristo, estes novos profissionais da fé são apenas comediantes, ganhando a vida em shows gospel de stand-up. Nas lonas deste circo evangélico, muitos outros palhaços, momentos e unções surgirão. Existe espaço para eles.
Pouco existe em mim que possa ser aproveitado por alguém. Sou apenas a conjugação do Verbo de Deus. “Convém que Ele cresça, e que eu diminua”, pois o que dá sentido a vida ou na mais simples frase, não é o adjetivo, mas o Verbo. As testemunhas sabiam disso, por isso, eram testemunhas, não comediantes.

Amo os ateus


Ontem vi um post na internet celebrando o ateísmo. A sátira era um desenho envolvendo uma família que agradecia o alimento. Em se tratando de que a maioria dos céticos jamais leu a Palavra, mas desenvolveu suas ideias pela observação do mundo religioso, tomo a liberdade de, sem nenhum versículo bíblico falar desta questão.
Respeito o ateu como ser, como pensador, como semelhante, diferente do ateísmo que é uma ideologia, que agrega ideias e versículos bíblicos, histórias hindus, guerras santas, as transformando numa religião contra a religião. O ateísmo tenta instituir um pensamento critico religioso, mas não possui nada além do que ideias. O ateu é um protestante que promove discussão, mas o ateísmo é uma ideologia religiosa que com seus “ismos” tentando revelar a ausência de Deus através das atitudes dos homens.
Eles perguntaram: O mundo seria melhor sem a religião? Talvez sim. As guerras, as hipocrisias, as masmorras, as indulgências, as mentiras e o enriquecimento ilícito provam, pelo menos, que o ontem seria bem melhor sem ela.
Eu pergunto: O mundo seria melhor com o ateísmo? Também não, pois são mais uma ciência religiosa que se desenvolve através da inércia. Enquanto conheço amigos que estão na África lutando contra a escravidão e a venda de crianças, os ateus estando postando no facebook sátiras de Cristo. Enquanto uma centena de cristãos está aprendendo a língua das tribos orientais, efetuando trabalhos com dependentes químicos, levando alimento aos mendigos, fundando escolas, visitando as cadeias, levando remédios para lugares extremos, abandonando seus lares, trazendo esperança aos desesperados, entregando sua própria vida por amor a outras pessoas que vivem na pobreza, na miséria e na desgraça, o ateísmo, está inerte, citando a Arca de Noé como pretexto para seus deboches.
 
Se a ação religiosa foi um fiasco na história, a inércia “inteligente” do ateísmo é uma desgraça pior ainda.
O ateísmo tenta provar ao mundo que Deus não existe, mas nada faz para que este mundo não dependa do Deus que as pessoas creem. A ideologia ateísta não passa de uma teologia teórica que também vive de inúmeras suposições, ou o Big Bang deixou de ser teoria?
Se Deus não existe, então algo deve ser feito para que o mundo não dê Graças a Deus. Enquanto a inteligência for incapaz de discernir a grandeza de tudo que está ao nosso redor, a fé ainda estará viva no interior do coração humano.  
Não negarei as experiências que tive com Cristo, pois foram reais, verdadeiras, profundas. Do cristianismo não tenho muitas histórias boas, mesmo sabendo, que muitos religiosos foram pessoas melhores do que eu e todos os ateus juntos. O cristianismo realizou um estupro com as ideias de Cristo. O ateísmo faz a mesma coisa, a diferença é que acha “graça”. Enfim, tanto os religiosos quanto os ateus se infernizam. Se uns são irreflexivos e controversos, os outros se mostram arrogantes. Tudo religião.  
O ateu é apenas um sincero protesto de que a religião errou. O ateu é o reflexo da desgraça que a religião produziu nos homens nos últimos séculos. O ateísmo, por sua vez, não é uma defesa do pensamento, mas é um ataque ao Espírito de Deus. Amo os ateus e os respeito. Acredito no protesto verdadeiro deles, mas o ateísmo é tão religioso quanto a própria religião.
O meu Cristo não possui nenhum “ismo”.
Não há o que falar do Cristo, somente do cristianismo. Não há que ser dito do ateu, somente do ateísmo.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O cassino e a igreja


Estou impactado pelas luzes, pelo resplendor, pela glória da cidade de Macau. Neste último final de semana conhecemos aquela antiga colônia Portuguesa.  Jesus deve ter visto estas luzes, quando no alto do Pináculo do templo, Satanás mostrou toda a glória dos reinos. Os muitos cassinos construídos recentemente alavancaram o poder econômico da cidade, que se transformou no jardim do Éden dos jogos de azar.
Ao entrar num destes luxuosos cassinos, uma multidão de pessoas descortinou em nossa frente. Aquele cenário cercado por robôs de carne e osso impactou meu coração. Embriagadas por um desejo totalmente irrefletido de ter, possuir, vencer, ganhar, pareciam desconhecer qualquer tipo de lucidez ou serenidade. Diante desta fotografia humana imaginei que se Jesus tivesse entrado num cassino, teria contado uma parábola sobre a igreja moderna.

Como todo jogo, a religião é viciante, e algo que é muito semelhante entre um jogador e um cristão contemporâneo é que, os dois possuem a convicção que estão ganhando, no entanto, acumulam enormes derrotas.  
Entre o que aposta sua “fidelidade” (dinheiro) em Deus para obter lucros, e aquele que compra fichas para aplacar seu desejo incontrolável de jogar, a diferença é apenas o cenário, porque o contexto é o mesmo.

Este deus venerado pelos pelos jogadores da fé é miserável, porque somente se comove com apostas altas. Ele mora em Las Vegas e passa férias em Macau, porque vive da fé que transforma “fidelidade” em dinheiro. Este amor ao bolso não é divino, mas é humano, interesseiro, leviano. A religião cristã não possui mesas nem cartas, mas está cheia de fichas na fé, nos propósitos, correntes, novenas, romarias e campanhas. Aprendeu a movimentar a adrenalina e a emoção do povo, gerando a mesma irreflexão de quem está sentado numa mesa de pôquer por horas. Ainda existem aqueles que buscam a Deus com sinceridade de coração. Estes não são uma religião, mas a verdadeira igreja de Cristo, que, pequenina, ainda sobrevive por causa da verdade que habita no coração de quem ama a Deus com sinceridade. 
A fé não deveria ser trocada por dinheiro. Jesus não ensinou isso, pelo contrário, recusou a proposta de Satanás das pedras se tornarem pão. A alquimia de transformar a fé em ouro é a demonstração da pobreza das nossas perspectivas de quem seja Deus de fato. A fé não é aposta, não é um jogo. A fé não é adrenalina, não é emoção. Ela é convicção, certeza, salvação, plenitude. 
 
Quem joga cartas com Deus não o tem como Pai, mas como cafetão. Sua fé são fichas, seu amor é emotivo, sua vida é miserável. Nada diferente do que vi nos cassinos neste fim de semana!

 

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A mensagem do filme "O livro de Eli"...


Eli (Denzel Washington) é um sobrevivente que vagueia pela terra desolada por uma guerra. O cenário é apocalíptico, cinza, mortificante. As bíblias foram queimadas, as cidades destruídas. Neste mesmo contexto de sobreviventes aparece a figura de Carnegie (Gary Oldman), o chefe de um inóspito vilarejo.

Carnegie está obcecado por um livro. Ele reconhece que as palavras nele escritas, tem poder de torná-lo um líder ainda mais poderoso, que poderá ampliar o seu domínio para muito além daquela destruída cidadela. Eli, no entanto, possui este último exemplar sagrado.

Não há duvidas. Este filme não é apenas uma simples ficção, mas uma bela demonstração da verdade contemporânea. A religião possui um forte paralelo com Carnegie, porque o cristianismo jamais interpretou as escrituras na ótica de Cristo. Na verdade, sempre esteve manejando um livro de poder, domínio e algemas. Através dos escritos deste livro, o cristianismo ateou fogo em homens e mulheres, os trancou em masmorras, justificando assim, as maiores atrocidades humanas, através de seus escritos divinos “carnegianos”. Este livro não gerou discípulos humildes de amor abnegado, mas inquisidores reclamando benefícios próprios, poder e fama. As escrituras eclipsadas pelos Carnegie’s, nada mais são do que, demoníacas armas religiosas de domínio, convencimento e hipnose.  

Sem o livro sagrado, que lhes proporciona credibilidade, os medievais inquisidores, e, estes famosos evangélicos, seriam apenas donos de boteco, vendendo mulheres e bebidas. Suas palavras, suas vidas, suas personalidades, seus amores, são compráveis, negociáveis. Desprovidos de graça, verdade e misericórdia, jamais iriam atrair sequer a atenção do vizinho, quem dera de multidões, como acontece.

A Palavra de Deus, ontem e hoje, foi tão incompreendida pelas pessoas, tão pouco lida pelos cristãos, que se transformou em apenas um livro que traz credibilidade para tornar profanos em santos, idiotas em profetas, empresários em apóstolos.

Nas mãos dos pequeninos, o livro sagrado é a Palavra que salva e liberta. Nas mãos destes botequeiros religiosos, a Palavra é um livro que possui textos, que fora dos contextos, tornam as pessoas reféns de um sistema hipnótico, doentio e politico. Jesus não transformou as pedras em pães, porque é a Palavra Viva e Plena, não um versículo qualquer.

A Palavra é Jesus. Jesus é a Palavra. O que passar disso, é maligno, é vaidade, é burrice.

 

terça-feira, 9 de outubro de 2012

A mulher cananéia

(Mateus 15;21-29)

Eis um momento na vida de Jesus que trouxe demasiadas interrogações em minha vida. Por diversas vezes passei as páginas da minha bíblia sem compreender plenamente este texto, a não ser, a fé e o desespero provenientes daquela alma aflita. Nunca compreendi a frieza de Jesus diante daquele cenário tão difícil. Ele jamais fora tão indiferente ao desespero de alguém. A conversa com a mulher samaritana e a cura do servo do centurião, viabiliza o entendimento de que Jesus não separava os gregos (gentios) a um povo des-Graçado da presença e do amor de Deus.
Logo, não é a fé impulsionada pelo desespero o maior legado deste texto, mas a reação de Cristo, que também, não tem nada a ver com experimentar aquela mulher. Conhecendo Jesus e sua história, tudo nos leva a crer que Ele não iria despedir aquela pobre estrangeira, que o encontrou depois de viajar muitos quilômetros, sem libertar sua filhinha daquele mau, tendo ela fé, ou não.
Jesus não reduziu ou monopolizou o poder, a grandeza e o amor de seu Pai. Ele apenas espalhou, desmaterializando a fé num templo, a vida da letra, o amor na lei. Por três vezes Ele age de maneira indiferente com aquela sírio-fenícia. Em primeiro lugar não responde palavra. Logo depois, diz o Cristo, que fora enviado tão somente as ovelhas da casa de Israel. Por fim, metaforicamente, chama seu povo por filhos, os estrangeiros de cachorrinhos, e afirma que não seria bom tirar o pão daqueles, para desperdiçar com estes. Tudo que o superego judaico ansiava escutar da boca do seu Messias havia sido proferido por Jesus naquele dia. Indiferença, desprezo e separatismo.
Entretanto, aqui está uma das mais profundas mensagens aos judeus enviadas pelo Cristo. Está um dos mais importantes ensinamentos ao povo judaico de toda a história. Através daquele momento, uma mensagem viva estava sendo enviada, trazendo um exemplo prático daquilo que dissera há alguns dias atrás:
“Muitos virão Ocidente e do Oriente e tomarão lugares a mesa com Abraão, Isaque e Jacó. Ao passo que os filhos do reino serão lançados para fora, nas trevas”. (Mateus 8;11)
Enquanto, os judeus negavam veementemente o Pão da Vida, haviam aqueles que ansiavam desejosamente se alimentar somente de suas migalhas. Jesus evidenciou qual foi a sua missão: Vim para as ovelhas, no entanto, foram os cães que me receberam.
“Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem chamados filhos de Deus, a saber, os que creem em seu nome”. (João 1;11;12)
Trouxe o Pão para os filhos, mas foram os cachorrinhos que se fartaram. Enegrecidos pelos seus ritos grotescos e suas orações prolongadas, as ovelhas preferiram viver nas cercas das leis religiosas, do que livres nos pastos verdejantes com seu Pastor. Enquanto isso os cachorrinhos, esfomeados por seu desespero, pulavam tentando se alimentar desse Pão cheio de paz e misericórdia, amizade e eternidade. Quando Jesus pisou a esta terra famigerada de graça, então, farelos de amor foram sendo repartidos entre os povos e nações. Por isso, tantas pessoas caíram de joelhos diante de Cristo. Estavam somente a comer das migalhas daquele Pão Vivo, que, sendo repartidas por todos os homens e mulheres, trazia cura e liberdade, paz e amor. Nos derradeiros momentos de Cristo com seus amigos, ele tomou a Si mesmo, deu graças, partiu e deu aos seus amigos dizendo: “tomai e comei, este é o meu corpo em migalhas por vós”! Nestes farelos de amor que os cachorrinhos se tornaram filhos.
Enganam-se aqueles que acham que Jesus foi partido na cruz. Ele já estava despedaçado desde que anunciara a chegada do reino dos céus. Se do pó fomos feitos criaturas, das migalhas somos transformados em filhos!

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Que a luz que há em ti não sejam trevas!


“Repara , pois que a luz que há em ti não sejam trevas”. (Lucas 11;34)

Superficialmente nos contentamos com qualquer luz que ilumina nossos caminhos. Jesus, no entanto, questionou as luzes, proporcionando um observar com mais profundidade dessa eletricidade humana, que julgamos ser unicamente boa. Tentando entender este verso, procurei alguns sinônimos:

“Repara, pois, que a tua bondade, não seja apenas cortesia”.
“Repara na tua espiritualidade, para que não seja simples comoção”.

“Repara, pois, que a sua verdade, não seja mentira”.  

Este alerta do Cristo remete ao homem um olhar para suas próprias benesses. Este entendimento aponta apenas para uma única direção: qualquer atitude que se revela através do caráter, que for praticado, por medo, interesse ou sem amor, é uma luminosidade cheia de escuridão.
A caridade desprovida do amor incondicional pelo outro, é apenas uma maneira de aumentar o superego religioso. Tudo, até mesmo a fé, pode estar enegrecida pela vaidade e pelos desejos pessoais. Qualquer sentimento, dom e talento, palavra e oração, podem ser apenas ferramentas humanas para alcançar as negras luzes do sucesso e da fama.

As escrituras foram da mesma forma, iluminadas por estes olhos negros. Elas sofrem, pois vivem interpeladas de interpretações irracionais, eclipsadas por almas sombrias, que cheias de vaidade, ambição e poder, tentam desesperadamente transformar Deus em ouro. Esta “bíblia” iluminada pelo entendimento vaidoso dos espiritualistas convencidos, dos empresários da fé e dos mestres da lei, é apenas um livro para causar contendas e separações, problemas religiosos e discussões teológicas.  
Por isso, como diria a escritura iluminada por Cristo, “não é de se admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz”. (II Coríntios)

Não se engane com a luz que há em ti, muito menos com aquelas que caminham por este mundo. Não se engane com suas bondades, pois elas são as trevas, que cheias de luzes negras, tentam trazer confiança a carne, como se o favor de Deus fosse por nós, merecido. Estas luzes que piscam são apenas letreiros. A Luz de Deus é forte, que o diga Paulo, quando ela brilhou em Damasco. Ficou cego de si mesmo, pois somente desta forma consegue-se enxergar o mundo, a vida, o outro. Esta Luz que ilumina e reflete o que realmente possui valor é a única força que aplaca este holofote de futilidades egocêntricas do mundo moderno.
Estamos cheios de luz, no entanto, atolado nas trevas. Esta é a triste verdade cristã no matrimônio, na fé, no culto a Deus e na vida pessoal.  

Pedro teve um encontro com suas luminosas trevas, no cantar do galo. Caminhava com a Luz, no entanto, a Luz não estava com ele. Jesus jogou na lona, qualquer resquício de hipocrisia que poderia se ocultar em nosso ser. Desvendou nosso melhor esconderijo faceado pela alegoria de boas atitudes sociais, que na verdade são criadas apenas para sustentar nossa religião. Aquele que reconhece seus defeitos é virtuoso. No entanto, aquele que percebe a negridão das suas luzes está realmente iluminado pelo poder e amor do Cristo ressuscitado. Essa contradição de luz e trevas está em nós. Somente a verdade de Jesus na sua palavra iluminada pelo Espírito de Deus é capaz de nos direcionar a uma vida cheia da LUZ que ilumina nossos passos e enche de graça nosso viver.