Entre os olhares modernos estar
vazio é pobreza existencial. Qualquer vacuidade deve ser preenchida, qualquer
vazio deve estar entupido, do contrário, tudo é pobreza, é tédio, é marasmo. O homem reclama da falta de tempo, mas quando o tem, corre atrás de algum passatempo.
Pobre existência é a que vive atolada, cheia, transbordante. Ainda prefiro caminhar numa rua
pouco movimentada, fazer compras num mercado vazio, passear por uma praia
deserta. Os vazios são bons, são espaçosos, confortáveis.
Na medida em que o homem
descobre-se vazio tenta desesperadamente tapar estas arestas como que se
houvesse alguma necessidade de preenchê-las.
Estar vazio é existir com espaço,
tempo. Estar vazio é não estar com o “saco cheio”. Estar vazio é ser aprendiz.
A verdade é que as pessoas não
devem completar ninguém, nem mesmo preencher lacunas. A vida é um esvaziar-se,
porque amar é a natureza de perder a si mesmo. A conclusão da vida é que quanto
mais pessoas se ama, mais se esvazia das próprias ideias e achismos e isso é
que na verdade completa.
Quanto mais o homem preenche sua existência
consigo mesmo, e com seus próprios planos, mais sozinho e dependente deste
mundo se torna.
A vida é mesmo uma contradição.
O amor não completa ninguém, visto
que não nascemos pela metade. Ele divide alma, medula, coração. O homem nasce
inteiro e termina em pedaços, posto que a natureza daquele que ama é dividir, é
dar, é entregar, é partir, é compartilhar.
No Universo existem mais vazios do
que estrelas, mais escuridão do que planetas. O mundo precisa girar, as ideias
precisam surgir. O fato é que está faltando espaço para pessoas, assim como
não se acha lugar para aquilo que realmente tem valor.
Não preencha todos seus espaços. A alma precisa de um espaço baldio para germinar aquilo que lhe apraz.
O tempo passa rápido por si só. Não o apresse mais ainda!
Causeway Bay 08/05/2013 17;20
Hong Kong
Carlos Augusto Bertoldi
Folhas em branco permitem escrever com clareza, do contrário, a vida fica cheia de rabiscos e rasuras. |
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