sábado, 31 de março de 2012

A morte não está somente nos cemitérios



Certamente enquanto escrevo esta página alguém está enterrando um amor, enquanto ainda outros velam seus parentes. Embora este discurso seja um pouco negativo, vale a pena pensar. Quando passo pelos cemitérios coloridos pelas flores compreendo que ali está a mais profunda cor cinza das impossibilidades.

A morte está em cada momento que desperdiçamos, em cada dia que não amamos, a cada beijo que negamos. Ela não está somente nos sepulcros, mas está em nossos corações. A morte é muito mais do que o apodrecer de uma carne sem vida. Ela é o desperdício do tempo, dos olhares, dos amores. Cada cenário que se desfaz sepulta um pouco da nossa vida, do nosso ser, da nossa historia. A morte não acontece em um dia, ou em um momento. Ela está acontecendo. A morte é um gerúndio enquanto vivemos, porque cada vez que o sol se esconde, com ele, um pouco de vida se desfaz dentro de nós. Esta certeza negra da perda não deveria nos fazer mal, muito menos nos levar as lágrimas. Pelo contrário, deveria içar nossos olhos para ideias e pensamentos eternos. Nossos beijos seriam mais demorados, nossos abraços mais apertados. Quantas coisas faríamos e quantas outras sequer iriamos lembrar, se contemplássemos a vida com Vida?

A morte é a ferramenta que nos leva ter uma vida mais plena. Ela nos leva a valorizar cada momento, pois nos ponteiros do relógio está a o valor dos nossos convívios. Se pudéssemos viver com a intensidade profunda que a vida merece, a morte não nos surpreenderia tanto. Nós iriamos dizer todos “te amos”, dar todos os abraços, falar todas as verdades, perdoar todos os imprevistos. Os sepulcros nos surpreendem porque deixamos de viver como deveríamos. Se a morte nos entristece, a vida deveria nos alegrar. Isso mesmo. Olhando para o lado, devem existir pessoas que podemos abraçar, amar, beijar e perdoar. São nestas possibilidades que está nossa eternidade. Se o amor jamais acaba é sinal que existe uma possibilidade de eternizar nossos sentimentos na vida de quem amamos.

Viver sem a certeza do fim seria catastrófico, porque viveríamos descomprometidos com o amanhã. A morte nos revela que o hoje é tudo que temos, trazendo muito mais importância para as pessoas que estão ao nosso lado.

O que existe depois da morte não me compete saber, embora imagine coisas maravilhosamente divinas. Seu eu souber o que fazer antes dela, serei feliz o suficiente para amar, e amar é viver. Enfim, amanhã estarei um pouquinho mais morto, mas ao mesmo tempo, mais vivo. Tudo porque, como diria Renato Russo, a eternidade está em viver cada dia como se não houvesse amanhã.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Na vida todos entram e saem, mas nem todos encontram

Nestes últimos dias estive entretido em meio a um texto bíblico. No meio daquelas letras meio criptografadas, Jesus dizia ser uma porta. A função exclusiva de uma porta é restringir a entrada, assim como identificar quem entra. Assim as empresas fazem com seus funcionários, os colégios com os estudantes. Para entrar por ela é necessário uma chave, um crachá, um cartão magnético, ou ser reconhecido pelo porteiro. Embora nem todas as pessoas possuam as credenciais da fé, o desejo das pessoas é entrar em lugar de paz e descanso. O anseio humano moderno cheio de demandas e tristezas é entrar num ambiente divino espiritual, verdadeiro e profundo. O próprio Jesus havia pedido aos homens que se esforçassem para entrar pela porta, porque muitos até procurariam, mas poucos entrariam. (Lucas 13;24)
É inevitável que isso aconteça. Num vestibular concorrido, muitos estudam, mas poucos passam. Na busca por um bom emprego, muitos mandam seus currículos, mas poucos são contratados. Nenhuma porta deste mundo se abre sem esforço e dedicação. Todas elas nos tiram o sono e nos roubam a atenção. Jesus Cristo é a única entrada que achamos que se abrirá fruto da inércia. Esta Porta estreita permite a uma parcela de pessoas desfrutarem de um recinto profundamente divino e verdadeiramente espiritual. Embora todos nós estejamos diante de portas, nem todas as maçanetas irão se abrir. Por isso pulam-se janelas, esgueira-se frestas ou penetra-se pelos porões. De alguma maneira buscamos soluções caseiras para nosso infortúnio espiritual. É verdade que todos os caminhos nos levam para dentro de um lugar espiritualizado, entretanto, o grande problema não propriamente entrar, mas sair e encontrar.
Na continuidade, Jesus fala que entrando por sua Porta, nós iriamos entrar, sair e achar. Estes três verbos demonstram a liberdade de quem conhece e vive a realidade de ser uma ovelha. O homem que vive através de Jesus, não vive em mosteiros religiosos, trancafiado no “pode” e “não pode”, mas é chamado a sair e a encontrar. Parece-me que o desejo de Cristo é ser desvendado, é ser aberto, é ser encontrado. Nenhum Rei trouxe tamanha liberdade ao seu povo. Nenhum Rei largaria a maioria das suas noventa e nove ovelhas para buscar uma desgarrada e desobediente. Jamais um Rei permitiria seus súditos saírem dos palácios e viverem livres.
Ser um lobo, não significa propriamente ser mau, basta ter pulado a janela. Basta não ter as chaves e o reconhecimento do porteiro.  Quem usa o místico mundo das espiritualidades e religiões adentra na fortaleza e nos muros do pensamento. Vivem como se estivessem livres, mas na verdade estão presos. As ovelhas, no entanto, são chamadas a procurarem pastagens, e vivem como se estivessem presas, mas na realidade estão livres.
Quem vive a realidade divina sem Jesus, está procurando algo. Entrou e saiu de vários lugares, mas ainda não encontrou um gramado verdinho. Neste mundo existem mercenários fazendo negócios. Traficantes da fé e do coração estão espalhados. Quando o lobo da morte se aproximar, estes mercenários irão fugir. Se o Senhor é Pastor, logo, nada faltará, e, isso quer dizer que entrar pela porta estreita retira do homem as angústias, os anseios, as faltas. Muito embora alguns pensem em riqueza, o nada faltará, se reflete de dentro para fora. É um contentar divino que toma o coração daqueles que penetram na mente de Cristo e entram neste recinto estreito e selecionado de pessoas que compreenderam que Deus é tudo.

Se você é espiritual, místico e religioso, mas ainda perde o sono tentando destrancar as portas da felicidade e da riqueza, algo está errado. Nada faltará nas pastagens divinas. Ali está a plenitude deste mundo. Ser uma ovelha é ter um Bom Pastor, porque na vida todos até entram e saem, mas nem todos encontram.

Jesus é a porta, o resto é parede. (Anônimo)

quinta-feira, 8 de março de 2012

O maravilhoso poder da rotina


A vida se resume em momentos, é verdade. Alguns bons, outros ruins. Entretanto, a maior parte da vida é feita de dias normais e rotineiros. A nossa existência, até certo ponto monótona, não é chata, muito menos sem graça, é a vida como ela é, como diria Nelson Rodriguez. Jesus tentou elevar as vistas dos homens para esta que, é a uma das maiores angústias humanas. O desejo de sair da rotina. O homem desde alguns anos atrás está apaixonado pelos “passatempos”, todavia, que grande contradição é o nosso pensamento.
Passamos a vida inteira procurando algum entretenimento para passar o tempo, e quando ele passa ou voa, como costumamos dizer, reclamamos de braços abertos decepcionados porque as crianças cresceram, os pais envelheceram, os amigos se mudaram. Ah, se pudéssemos enxergar que a rotina e o dia a dia são maravilhosos. Ah, se fossemos inteligentes o suficiente para entender que existe graça, humor e felicidade em um dia qualquer, com as mesmas pessoas, com o mesmo carro, com as mesmas roupas, na mesma cidade, morando na mesma casa. Existe churrasco sem cerveja, festa sem drogas. Quem faz um ambiente legal e gostoso não são as bebidas e a maconha, mas a alegria e o humor de quem é feliz. Quem pode entender isso?

A vida é muito mais do que momentos extraordinários ou aventuras a flor da pele. Ela se resume em conseguirmos observar no cotidiano às vezes “chato”, as inúmeras micro-alegrias esquecidas em nosso doente pensamento. O desejo de um pai que observa seu filho no leito de um hospital é somente um. Voltar para a rotina. O maior sonho daqueles que estão enfermos numa cama lutando para viver, é retornar ao dia a dia. Na contramão, está o desejo sempre iminente de o homem saudável trocar a rotina do amor pela aventura de uma noite. É fora da rotina que estão todos os tipos de drogas. Nós, os que ainda não descobrimos o valor real das coisas, estamos loucos para viver dias de adrenalina, mas sequer sabemos que é na repetição diária das nossas tarefas que está escondida a alegria e a plenitude de uma vida. A tragédia, a dor e a separação possuem este poder terapêutico de ensinar que as mudanças, nem sempre são tão boas quanto imaginamos. Por mais que a viagem para Paris possa ser inesquecível, existe um momento que todos nós queremos retornar para a nossa casa. Que bom é abrir a porta e sentir aquele cheiro de rotina, de uma vida organizada e programada.
Enfim, a vida, a família, o trabalho. Ao contrário da intensidade de Holywood tudo possui um pouco de monotonia, entretanto, é desse ambiente sereno e repetitivo que se constrói valores e verdades, histórias e compromissos. Quem quer viver uma aventura esbarra na força imperativa do nosso interior que deseja ter uma rota, um destino, um canto.  Aqueles que saíram do dia a dia achando que iriam desbravar o mundo atrás da felicidade, retornam querendo aquietar sua alma. A maioria das pessoas do mundo está buscando a felicidade, entretanto, muitos já são felizes, mas não sabem.  Elas somente irão descobrir suas presentes alegrias quando se depararem com a força da tristeza.

A felicidade não se encontra em segredos de literatura ou em experiências místicas religiosas. Falta-nos corrigir essa tão grande miopia que atinge nosso ser. A rotina é maravilhosa. É bom estar junto com quem se ama todos os dias. As letras da vida não estão borradas, é você que precisa de óculos.


sábado, 3 de março de 2012

Leopoldo e EU...


No último sábado trouxe para casa o Leopoldo, vulgo Léo. Ele é um filhote de Poddle Toy. Sua companhia tem sido um tanto quanto trabalhosa, mas divertida. Ele está aprendendo a fazer xixi no jornal. Esta noite, por exemplo, ele não chorou. Quando eu acordo para trabalhar, vou ao seu quartinho. Ele pula em meus braços como nenhum outro ser humano faria numa manhã chuvosa como ontem. Aquilo me deixou feliz. Simples assim. Acho que não precisamos de muita coisa para sermos felizes basta existirem reciprocidades verdadeiras, e aí está a diferença dos animais para os humanos. Talvez estejamos vivendo um tempo tão sombrio que a irracionalidade animal é mais aconchegante do que o mais profundo pensamento humano.

Essa nossa inteligência capaz de inventar a luz, o telefone, a medicina e uma melodia, também é fértil na hora de discriminar, de iludir, de guerrear. Ao inventar crenças, ideias, regras, fogueiras, muros, forcas, armas e bombas, nós arquitetamos crimes e mentiras, assim como abraçamos e recitamos poesias. Nós, seres humanos, fomos capazes de fazer do nosso próprio ambiente, um lugar hostil, sombrio e atemorizante. O medo está nas esquinas, nos sinais de trânsito, dentro das lojas e casas. Está em nossa alma, coração, intelecto e pensamento.

Os peixes sobrevivem porque vivem em cardumes. As zebras e gazelas tornam-se presas fáceis quando desagregam com seus próximos. Os gorilas e macacos, as andorinhas e as abelhas. O homem, passado milhares de anos ainda não conseguiu se organizar em sociedade, ser verdadeiramente feliz em família e respeitar um desconhecido qualquer. Certamente não sei o que fazer, mas talvez a solução desta racionalidade contraditória que constrói e destrói instantaneamente, esteja na inteligência animal. Observando as formigas, os besouros, os leões, e peixes. Parece-me que a essência divina não se modificou na vida destes animais desde os primórdios da criação. Num outro hemisfério vivemos um instinto assassino, auto-piedoso, avarento e competitivo de um mundo moderno que ensina que, quem não mata, acaba morrendo. Devo aprender a excelência da conduta moral dos papagaios, a religião dos elefantes, o profissionalismo das formigas, a fidelidade dos cães e a eficiência das abelhas. Ficar olhando para este cenário animal tão perfeito e sincronizado me envergonha, porque a minha mente, até certo ponto esclarecida, ainda não conseguiu fazer pensando o que eles realizam por instinto. Pode ser que retornando ao jardim de Deus, redescubramos nossa mais profunda essência racional, e isto nos redirecione a um paraíso existencial. Cheguei a conclusão que Deus reuniu todos os animais em uma arca, não somente para salvá-los, mas para que Noé e sua família pudessem aprender alguns padrões de vida que os homens ainda não haviam compreendido. Por mais incrível que pareça, temos muito a aprender com a paciência das galinhas. Se vivêssemos uma vida de grão em grão, talvez não estivéssemos morrendo engasgados pelo stress.

Pense nisso!