Tudo estava ainda sem forma e vazio. Não havia água, não havia animais, não havia plantas, nem tampouco existia vida. Então, num instante encheu-se o mundo de água. Aos poucos as plantas foram enraizadas e a luz instalada. Um novo mundo estava adaptado para receber vida. Nosso aquário estava pronto. Com um galho decoramos o interior criando algumas galerias subaquáticas. No chão, pedrinhas brancas e algumas espécies de plantas. Aquele aquário poderia ser como qualquer outro. Algumas plantinhas artificiais compradas pelo valor de 0,99 centavos, pedrinhas e um naviozinho no fundo.
Mas meu sogro decidiu decorar aquele mundo da melhor forma, até possuir a realidade natural do fundo de um rio. Nós ficamos ali brincando de ser Deus. Com um toque acendemos a lâmpada e, um sol nascia para eles. A não ser pelos braços e mãos do seu criador, aqueles peixinhos não comeriam nada, a não ser alguns poucos micro-organismos insuficientes para vida. Em suma, eles possuem uma vida individual guiada pelos seus instintos, mas ao mesmo tempo totalmente dependentes do seu criador. Não sei se profundamente eles conseguem discernir isso, mas nós que estamos do lado de fora, temos esta certeza.
Por acaso encontrei em meu viver algo muito semelhante. Percebi que o Sol é para Deus como a lâmpada é para nós em relação aos peixinhos. Aquilo que é inescrutável, inimaginável para nós, é apenas uma lampadinha para o Criador. Algo simples. Totalmente dispensável para ele. Deus não precisa do Sol, assim como o Mário não precisa da lampadinha do aquário.
Se cada homem possui domínio do mundo que constrói, então porque Deus perderia o controle do mundo que arquitetou? Embora o homem tente quebrar o vidro do seu aquário, destruindo as profundezas do planeta que Deus criou, Deus tem o controle do seu mundo, porque a terra continua girando, as marés subindo, os peixes reproduzindo, a lua minguando, a grama crescendo.
Dentro da imensidão de um Universo em que a nossa mente não consegue imaginar, nem a ciência sequer pode explorar, somos apenas peixinhos pensantes. Estamos apenas do lado de dentro deste mundo limitado pelos “vidros”. Ainda, de certa forma, não conseguimos descobrir se a nossa vida depende de alguma coisa exterior a nossa realidade. Não sei o que se passa na cabeça dos peixes, mas o que acontece na dos homens eu desconfio. Nós julgamos compreender o que está do lado de fora. Uns dizem ser uma força. Outros dizem que o aquário foi apenas obra do acaso, uma verdadeira coincidência. Há aqueles que acreditam que algo que esteja dentro deste mundo limitado seja divino o bastante para o que existe fora dele ser influenciado. Suposições que qualquer peixe também faria.
Quem poderia falar alguma coisa desse Ser que está do lado de fora? Quando vou alimentar os peixinhos, eu coloco a mão na água. Eles se amontoam em cima da minha mão e posso pegá-los facilmente. Totalmente vulneráveis. A única coisa que podemos dizer, é que somos vulneráveis, fracos, sem entendimento, pequenos, limitados. Talvez a diferença que exista em nossos pensamentos do que seja Deus e do que ele seja verdadeiramente, seja a mesma entre que um peixe tenha de nós. Então, poderíamos entender Deus e seu amor, quando ainda ilimitado pela grandeza e enormidade de seu Ser, Deus decidiu apequenar-se a condição de um pequeno peixinho e viver neste aquário, somente para poder mostrar a face, a vontade, a beleza, o coração daquele que vive do lado de fora dos nossos vidros.
A mesma comparação entre um homem se transformar em um peixinho vulnerável é o risco que Deus assumiu nascendo em forma humana. Ele passou a viver nas cavernas do submundo que ele mesmo criou. Olhando este cenário metafórico entre um aquário e este planeta, consegui enxergar a grandeza de Deus revelada em Jesus. Se meu sogro construiu um mundo do tamanho que ele poderia cuidar. Eu imagino que Deus fez o mesmo. Ele edificou um Universo do tamanho que Ele alcançaria olhando da sua cadeira, na sala de seu escritório. Os números de Galáxias são incalculáveis. Nós estamos dentro de apenas uma entre bilhões. Olhando dessa maneira, acho que Deus deve ser maior do que sempre imaginamos.
Todas as manhãs a lampadinha do jardinzinho de Deus é ligada na Luz e o Sol reflete calor para este mundinho. Todos os dias os filtros das árvores fazem trocas gasosas e nosso aquário pode respirar melhor. Eu não vejo os peixinhos destruindo o mundo que lhes foi dado. Eles apenas vivem. Eles conseguem viver no mundo deles, muito melhor do que nós no nosso. São eternos dependentes do deus, (Mário) e não se envergonham disso, pelo contrário, são beneficiados por isso. Quando as mãos do seu deus passeiam por fora dos vidros e eles enxergam seus braços peludos já sabem que algo bom está chegando. Eles se amontoam num culto de ação de graças, e trabalham para conseguirem em meio a tantos outros se alimentar. Eles não falam, mas basta eles existirem naquele mundinho para que aquele aquário fique mais bonito e mais colorido.
Às vezes algum peixinho morre. Então, Deus usa uma peneira e o remove de dentro do mundo. Assim acredito. Enquanto peixinhos, estamos limitados pelos vidros, e jamais poderemos conhecer o oceano. Um dia, no entanto, estaremos livres o suficiente para nadar no mar, e então, descobriremos que viver no Universo de Deus é ainda melhor, do que neste mundinho de impossibilidades. Daqui a pouco vou comer minha ração. Algo que Deus oportunizou para mim. As luzes irão se apagar, mas o mundo de Deus continuará girando, as estrelas piscando, as trocas gasosas acontecendo, as nuvens se amontoando, as flores germinando, os frutos amadurecendo.
Tudo estará no controle do meu Criador. Ele desenhou um mundo e eu faço parte disso. De vez em quando eu encontro alguém que há muito tempo não vejo e logo penso “esse mundo é pequeno mesmo!” Isso é verdade, este mundo é pequeno se formos imaginar a grandeza que Deus planejou em um todo.
Embora este “fundo de rio” seja maravilhoso, existe algo ainda muito melhor. Quero nadar de acordo com essa realidade, seguindo os braços do meu criador, porque assim acredito que ainda conhecerei o mar, o oceano e os rios que Deus preparou para aqueles que O amam.
Jesus criou esta possibilidade para nós peixes. Ele refletiu a imagem de quem estava fora do vidro, para que através deste reflexo pudéssemos ter a esperança da eternidade, que é algo muito maior. Jesus em outras palavras estava dizendo: quem não consegue amar no aquário, poderá amar em um Universo? Quem não conheceu a grandeza de Deus através da beleza das flores, da infinidade de frutas, de sabores e cheiros deste mundinho, como poderá discernir o tamanho de Deus na totalidade infinita do Universo da sua presença?
Diariamente a mão do Criador invade nossas águas nutrindo de esperança e amor nosso viver. Ele estendeu seus braços até nós oferecendo um banquete verdadeiro que alimenta nosso ser para a eternidade. Então na superfície das nossas águas o Pão da Vida foi repartido trazendo migalhas de graça e possibilidades para nosso viver. Ele realmente era o Pão da vida. “Eu sou o Pão vivo que desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne”. (João 6;52)
O desejo do Criador é que todos se alimentem desse pão que traz poder ao homem de romper com o aquário terrestre. Não existe possibilidade de viver para sempre se o alimento que ingerimos é gerado pelo nosso próprio mundo. Somente o eterno pode gerar eternidade. Ops, os braços do meu Criador estão se movimentando... algo de bom e eterno está para acontecer!
Nenhum comentário:
Postar um comentário