segunda-feira, 22 de julho de 2013

João Pedro



Escrevi e apaguei. Escrevi de novo e apaguei mais uma vez. Em toda minha vida encontrei palavras, mas confesso que neste dia, ante ao seu nascimento, as letras estão embaralhadas. Um nó na garganta se forma a todo instante que imagino você em meu colo. Uma insistente lágrima desliza em meu rosto anunciando um novo tempo.

Uma sementinha de eternidade toma espaço dentro da minha vida.

Estou grato a Deus. Acompanhar o milagre da gestação foi para mim grande presente.

E se meu amor de pai é tão puro e lindo, imagino que o amor do meu Papai seja maior ainda. No mesmo instante que descubro o amor de ser pai, me sinto mais amado pelo meu. Ser Deus, mas não ser Pai não teria sentido para aquele que nos ama de forma incondicional.

Sem palavras suficientes, mas com um amor transbordante. Sem letras elaboradas, mas com um coração encharcado.

Para meu gergelim,

Com amor,

23/07/2013 Yeun Long, Hong Kong

Carlos Bertoldi 11:38

Papai

sábado, 13 de julho de 2013

Entendi o que é amor...


E entendi que o amor é mais que um momento. E de um instante não vive. O amor, não é romântico. É espontâneo, improvisado.  Ele não tem rotina.

O amor não é meu, nem de ninguém. Não é uma posse, nem nós somos seus inquilinos. O amor é amor com saudade. Não é uma carta, nem letras bem desenhadas, é amor, e por ser amor, deixa de ser qualquer coisa.

E dele, tudo que provém é para se amar.

Ele é o vinculo, que entre os imperfeitos, torna tudo perfeito. Ele é a vírgula em minhas ignorâncias.

Ele é em mim a oportunidade, a chance.

Sem ele restaria frases sem efeito, flores sem sentido.

E num momento tudo que é imperfeito, inacabado, sem vida, é pela perfeição de um sentimento transformado em alguém semelhante a mim.

E o amor faz em si, a sua própria imagem, e, nela o reflexo do meu ser. E ainda na barriga de quem amo, está o espelho daquilo que sou.

E entre os homens é sentido em um instante o que Deus sente por toda a eternidade. E por um momento, num lapso, num segundo, experimento com toda a intensidade terrena, uma fração da plenitude divina.

De fato, Deus é amor.

E neste mesmo instante em que minha imagem se reflete em alguém, a imagem do Pai se confunde comigo.

Então não preciso estar, mas simplesmente ser. A distância perdeu para o amor. O tempo não entende nada do que é eterno.

E se Jesus é a Luz do mundo, ele reflete grande parte desta Luz em vocês,

Para quem Deus se revelou a mim,

Marcinha e Joãzinho

Do papai,

12/07/2013

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Ele é do céu. Eu sou da terra


E Ele é do céu e fala o que de lá se ouve. Ele é do céu e viveu entre nós como se lá estivesse. Eu, eu sou aqui da terra, e meu idioma é terreno.

Quando num surto existencial algo divino surge em mim, não é a terra que fala, mas o céu tomando espaço dentro da minha ignorância. 

Ele foi o céu em minha terra. Eu sou a Luz do mundo, diria aquele que trouxe da imensidão dos céus o Sol da Graça. Ele é, e por ser, deixa de precisar parecer que é.

Cristo é extraterrestre. Seu amor, um objeto não identificado. Suas palavras, marcas a serem desvendadas.

E se, num lapso conseguir compreender a existência do céu em mim, então o dialeto de Deus em Cristo é revelado. 
"E Deus amou o mundo de TAL maneira..." Como traduzir essa tal maneira?
Essa tal maneira de amar é onde me encontro, e por me encontrar em Deus, me perco de mim, e uma vez perdido do que sou, sou resgatado por aquele que É.
 
 
 
 

domingo, 7 de julho de 2013

Seja mais que um descendente qualquer. Seja brasileiro.

 
 
O que nós precisamos compreender como povo, é que este momento brasileiro é uma revolta contra nós mesmos. É um grito desejando rejeitar a semelhança da nossa pátria. Este momento não é somente um grito na terceira pessoa, mas um eco na primeira pessoa do plural.
 
É um clamor para que nossa consciência seja reescrita, de maneira que um país nasça de dentro para fora.  A priori, ainda sequer somos um país. Na verdade, nosso povo ainda é um ajuntado de descendentes de europeus, africanos e asiáticos. Ainda somos mestiços reclamando de um país que ainda não entendemos como nosso.
 
Os outros povos compreendem suas raízes e histórias, visto que seus pais lutaram para que pudessem ter liberdade. Nós não. O povo brasileiro é imigrante. Ou chegou para explorar a terra como os colonos oriundos da Europa e Ásia ou para serem explorados com os negros africanos.
 
De fato, nosso povo ou é explorador, ou explorado. Um reflexo perfeito da nossa identidade como país, como engenho, como fazenda.
 
Está surgindo, no entanto, neste momento um pingo de consciência de que este lugar é nosso.Uma identidade diferente está nascendo, ao mesmo tempo, que o jeitinho brasileiro deverá morrer.
 
Velejando para dentro de nós mesmos redescobriremos um Brasil justo e maravilhoso escondido por nossas próprias corrupções. 
 
Surge então o idioma brasileiro junto com o desejo de amar a pátria que estamos ajudando a construir. Quem fala português ainda soletra as raízes de uma colônia.  Nós devemos ser brasileiros e nossa “brasileridade” é lutar por um futuro melhor.
 
Seja mais do que um descendente que luta em manter suas raízes. Seja um brasileiro lutando por um país melhor.
 
Assuma sua identidade. Seja brasileiro!

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Estou sem forma e vazio


Criou Deus o céu e a terra. A terra, porém estava sem forma e vazia. Nela havia as trevas e a face dos abismos por todos os lados. O espírito de Deus pairava por sobre um lugar inóspito, frio, escuro.

O homem é uma criação sem forma, cheio de vazios e trevas. A Graça de Deus se resume em que o Espirito de Deus paira por sobre esta criação, mesmo quando é apenas algo informe e vazio. Não há em Deus a vaidade de habitar somente em lugares prontos e perfeitos.

Há, sim, toda a extensão da sua bondade e Graça, visto que nas sombras e trevas está o Deus que preenche todas as lacunas.  Nele está um amor que paira por sobre tudo que é vaidade e orgulho.  Cristo é a imagem do Deus invisível que passeia por todas as mais negras trevas da existência humana.

Está na informe capacidade de amar dos Zaqueus, nas trevas legalistas dos religiosos, nas sombrias ideias dos apóstolos. Esteve Jesus no vazio dos homens sem esperança, entre os abismos daqueles que estavam acamados.

Jesus é o Espírito que pairou sobre nossas deformidades, nas nossas mais informes capacidades de existir. Ele fez a separação da luz e das trevas, divorciando qualquer dúvida entre o que é humano para o que é divino.

Este Ser se encontra no vazio, visto que existe para encher. Nas mais densas trevas, pois é LUZ que ilumina. Ele é para os doentes, para os informes, para os pecadores. São nestas terras deformadas que todas as formas de Deus se encontram. São nestes vácuos onde o Espírito de Deus se acomoda lapidando um formato semelhante a Ele.
É na deficiência do homem que a eficiência de Deus se concretiza.  É na fraqueza dos braços humanos que a força divina se evidencia.

O céu nunca esteve informe e vazio. Isso é coisa da terra e dos humanos.

“Eu vim para os que precisam de médico”. (Jesus Cristo)

05/07/2013 Hong Kong, Causeway Bay 12;09
Carlos Bertoldi 


Meu sonho é estar vazio das minhas próprias palavras.
Estar em branco, para que assim, Deus tenha total liberdade
de escrever a sua história em mim. 

terça-feira, 2 de julho de 2013

Consciência X Comportamento


Se o teu olho ou sua mão lhe fizerem tropeçar melhor é viver sem eles. (Mt 5;29)

Para Jesus convém ao homem perder um dos seus membros a usa-los de forma errada. De fato, em Deus todos se tornam “caolhos” e “manetas”, visto que muitas atitudes, crenças e posturas acabam sendo abandonadas na medida em que se caminha em direção a Deus.

Ninguém herda o reino de Deus sem estar mutilado da sua própria natureza.

Neste momento do Sermão da Montanha estava Jesus dizendo sobre aqueles que enxergaram seus defeitos e ante esta descoberta escolhem limitar sua existência, do que estar diante da iminência da sua fraqueza. Ele estava falando sobre alguém que foi tomado pela consciência de seu próprio mal e da sua incapacidade humana em lidar com esta realidade.

A verdadeira consciência surge quando o homem alcança a compreensão profunda e simples do que se pode, mas que na verdade não se deve. É o conhecimento intimo da linha tênue que separa o licito do ilícito. Não é uma regra estabelecida para todos, mas uma consciência individual que floresce intimamente dentro de cada ser humano. De fato, todo homem precisa saber de quem, por que e o que deve se afastar, arrancar e eliminar em si mesmo.

Assim, a vida em Cristo não é uma fábrica de comportamentos embutidos em alta escala, mas uma reflexão interior e pessoal daquilo que é bom, perfeito e agradável para cada um. De fato, o homem pode todas as coisas naquele que o fortalece. Ele pode fazer e realizar tudo em Deus, e na consciência que nele existe. Aquilo, no entanto, que fere a sobriedade e a serenidade do ser na sua relação intima com Deus e com as pessoas é suficiente para ser evitada, banida, arrancada.

O fato de a religião ser mais proibitiva do que ativa ao senso humano não é por significativa maldade, mas por severa proteção. A religião parte do principio que é melhor proibir uma criança mexer numa faca do que ensina-la a manusear o instrumento.

Logo, no desejo de evitar o erro, se proíbe qualquer possibilidade de acerto.

De fato, o mundo religioso se tornou escravo do comportamento sem consciência. A religião é fria, não porque é repetitiva, mas porque um sistema não gera individualidades. Tudo que é envolvido pelo sistema é fabricado, é produzido, é embalado. A religião é uma indústria. Ela gera de fora para dentro, pelo viés do comportamento exterior, não de dentro para fora através da consciência de cada ser.

Então, o mundo está cego, mas não é por causa dos seus erros, mas pelos medos. O filho pródigo é um bom exemplo. Ele rompeu com as cercas do comportamento e na sua miséria descobriu sua consciência. Quando esteve diante do erro, foi quando fez seu maior acerto. Foi quando percebeu sua capacidade de errar que se descortinou toda sua vontade de acertar.

Enriquecido pelas suas perdas, voltou consciente do lugar que deveria permanecer para sempre. Os erros e os defeitos nem sempre são tão maléficos a vida do homem. Jesus jamais impediu alguém de atravessar as fronteiras do certo justamente por causa dessa condição pedagógica que o arrependimento pode florescer. Um homem que erra e é tomado pela consciência do seu erro será para sempre alguém muito mais envolvido pela Graça e pelo amor de Deus do que aquele que sempre se orgulhou no bom comportamento ético.

O Pai pode impedir a saída de um filho mutilando sua capacidade de caminhar, ou então, arrancar um dos seus olhos, mas não é isso que acontece em Deus. O pai do pródigo se despede ansioso que seu próprio filho chegue sozinho a forte convicção daquilo que ele mesmo precisa arrancar da sua vida.

E foi bem longe que o filho se tornou de fato filho. Foi bem distante que descobriu seu próprio coração e suas mais profundas necessidades. Deus não limita fronteiras físicas, legalistas ou existenciais, mas liberta, e isso faz para cada um possa compreender a si mesmo a partir de suas próprias experiências. Deus permite as idas e vindas, porque a somente um homem livre pode ter uma opinião bem definida em sua própria mente. (Rm 14;5b)

Conhecendo a si mesmo, está o homem apto a arrancar aquilo que é necessário. Ninguém fará isso por ele, visto que enxergou onde estão seus maiores vazios.  

Então, o filho mais velho ficou não porque estava livre para escolher, mas porque as cercas do comportamento lhe impediram. Ficou em casa não por causa da sua consciência de filho, mas porque teve medo de perder regalias do sistema que privilegia aquilo que é ético e moral. O mais novo tomara posse de seus bens pela força da sua maldade. O mais velho tentara fazer o mesmo barganhando sua suposta bondade.

O homem religioso pode ser o mais comportado cidadão, mas está limitado nas fronteiras humanas do legalismo e das aparências. Estará sempre caminhando na beira das farpas dos arames, orgulhoso da sua própria incapacidade de viver livre.

De fato, não beber em demasia, respeitar seu cônjuge e ser honesto nos relacionamentos é um comportamento maravilhoso, no entanto, se todas essas atividades são esforços exteriores, sem antes ser a mais profunda natureza interior, tudo é apenas um disfarce, uma hipocrisia, um jogo.

É importante saber que a liberdade em Cristo não é para todos, posto que, viver em liberdade é muito mais difícil que viver preso. Para muitos é melhor a LEI que aprisiona e diz não, do que a GRAÇA que absolve e diz sim.

O filho mais jovem não é apologia para o abandono das regras e leis, mas apenas o vislumbre divino que o comportamento não define caráter, nem verdade. O comportamento, quando não gerado pela consciência se transforma apenas numa formula de manipular pessoas. Tudo que é bom acontece antes no coração para depois viver na natureza das atitudes.   

Por isso, “Bem aventurado é o homem que não se condena naquilo que aprova. (Rm 14;22)