segunda-feira, 18 de abril de 2011

Os pais, os filhos, as drogas e as gaiolas

Esta reflexão Não quer de forma alguma romper com a educação e a experiência paterna, mas refletir sobre esta opressão pela quais os pais exercem nos filhos com a melhor das intenções é claro.

Estava passeando nesta tarde com a minha esposa quando passamos por uma rua que tinha alguns canários nas janelas. Eram belos e coloridos, entretanto, nasceram dentro da gaiola e ali irão morrer. Eles jamais irão voar soltos e livres. Jamais irão usufruir daquilo que é o seu maior dom, voar. Não podem mais viver soltos, porque estão domesticados. Nasceram presos e a única forma de se manterem vivos é permanecerem como estão.
Esta é uma metáfora bem usual para aquilo que é a realidade humana em muitas questões.
A gaiola da hereditariedade não corta nossas asas, mas ao mesmo tempo não nos deixa espaço para voar.
“Esse é igual ao pai!” Esse orgulho encravado na alma humana em que os filhos sejam suas reproduções fiéis é um sintoma de que nascemos gerando uma perspectiva: vai se parecer com quem?
O desafio de ser melhor do que os pais é tão difícil quanto uma fruta cair longe do pé, e essa realidade é tão rara quanto a de um canário criado no cativeiro conseguir sobreviver na liberdade de seus próprios vôos.
Essa visão de recriar nos filhos as suas próprias imagens e sonhos, às vezes não realizados, é uma forma pobre e desfocalizada de criar um ser humano e isso gera tristezas e incompreensões. Existem inúmeros artistas, cineastas, escritores, esportistas, cantores, que hoje estão engravatados sentados atrás de alguma mesa, realizando o sonho de seus pais.
Não podem mais sair da onde estão porque se acostumaram a viver desta forma. Poderiam ter voado, e quem sabe ganhado menos dinheiro também, mas certamente estariam mais contentes e felizes. Essa é a realidade desta geração que vivemos.
Uma realidade que precisa ser alimentada com adrenalina, porque suas vidas diárias não tem graça nem emoção.
Diante deste cenário verdadeiro, muitos jovens querem mostrar seus vôos fumando maconha e tomando cerveja. Outros se vestem de preto e enchem seus corpos de tatuagens e brincos, na ânsia de romper com as gaiolas criadas pelas suas famílias. Eles apenas estão numa tentativa desesperada de provar que sabem voar, mas somente estão trocando de gaiolas. Saem das correntes hereditárias e penetram nas algemas das drogas, das bebidas, do sexo.
Quão difícil é conhecer alguém que crie seus filhos para voar. Reconhecer que o filho pode ser sua imagem, mas não é a sua semelhança, pode parecer fácil aqui neste textinho de meia tigela, mas na prática é muito difícil. Perceber que um filho possui asas e quer voar, pode ser algo desesperador para um pai e uma mãe, mas é a mais pura realidade dos pássaros.
Compreender que os empresários podem gerar artistas, e que os bailarinos nem sempre irão parir dançarinos é algo que todo ser humano precisa refletir. Entender isto afastará seus filhos das drogas, porque ele não sentirá a necessidade de voar para longe, porque na verdade está solto, e quem está solto não precisa se sentir liberto.
Somente quem se sente preso é que tem o desejo de partir, e quando criamos os filhos sob a perspectiva da liberdade, eles crescem desenvolvendo suas asas, e vivendo seus próprios vôos. Essa relação de liberdade transforma a relação de paternidade em amizade, e quando isso acontece uma aliança eterna é selada.
Esta é a relação que o Pai escolheu para ter com seus filhos. Uma relação de livre arbítrio, de liberdade de escolhas, e de vôos altos.
Enfim, uma criança que não foi domesticada pelas vontades e sonhos paternos, cresce livre, e certamente jamais confundirá a palavra liberdade com libertinagem, e isso é um vôo alto e sublime de encontro ao divino, a felicidade e a plenitude.

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