Cada ser humano possui um ângulo e
uma percepção da vida. Nada é profundamente idêntico em nós. A genética jamais
se repetiu em dois homens. Se Deus fez o homem assim tão diferente um do outro,
logo, qualquer ideologia, religião, pensamento que furte esta condição de
ineditismo por parte do ser humano, o torna apenas um produto industrial da
fábrica moderna.
Os ângulos que enxergo a vida estão
todos condicionados a realidade histórica, emocional, regional que estive
introduzido. Meus conceitos acerca do amor, de Deus, da vida, são profundamente
diferentes daquele que nasceram na África, no Canadá, em Hong Kong, ou meus
irmãos, que nasceram e viveram sempre ao meu lado.
Desta forma, qualquer discurso
possui uma pitada autobiográfica. Qualquer coisa que o homem fale é linear ao
ângulo que ele enxerga. Assim os religiosos e os lideres políticos entoaram
discursos, falaram suas verdades, influenciaram multidões.
Letra por letra, todas as religiões
possuem a sua, e falando acerca do cristianismo e do seu código em Letras, as
palavras transformaram-se em base de argumentação, não na Luz do entendimento.
Entretanto, a Palavra não nasceu através das letras, mas do Espírito. O
cristianismo ideologizado pela teologia dos pensadores passou a ser uma grande
raiz de pensamento, mas uma infértil forma de viver. O homem que encontra o Espírito da Palavra
discerne as Letras não como códigos, mas como vida, como LUZ. Desta forma,
liberto está da necessidade de mostrar sabedoria. Livre está de toda forma de
demonstrar retórica.
As questões teológicas nada mais
são que discussões acerca de códigos humanos, não de ideias divinas. O
cristianismo ideológico e comportamental promovido pela religião de
Constantino, nunca soube compreender poderosamente o poder de convencimento do
Espirito de Deus. A religião cristã sobreviveu de argumentos em textos, sem
contextos e em códigos que até mesmo seus maiores sábios sequer descobriram o
mais profundo sentido. No vazio de encontrar respostas as suas próprias
perguntas, a religião criou seus códigos, suas leis, flagelando a própria
plenitude da Palavra, que transformada em letra, gerou morte, desgraça,
separação, angustia, sentimento de culpa, flagelos, torturas físicas e
psicológicas, infernos existenciais, pedágios e purgatórios, e mais uma centena
de consequências na alma do ser humano.
A religião codificou Deus,
oportunizando que o mundo enxergasse seu deus do mesmo ângulo a quase dois mil
anos. Desta maneira, a “fé” foi uma fábrica de transformação em massa, racionando
as diferenças e as variedades de pensamentos em uma perspectiva. Deus fez o
homem diferente, porque a diversidade humana de pensamento, raciocínio,
entendimento, sabedoria é uma ameaça ao totalitarismo.
Jesus amou a variedade de línguas,
de ideias e pensamentos. As culturas, as artes, as belezas. Jamais desejou que
os homens fossem um bando de iguais, pensando a mesma coisa, decorando as
mesmas orações, falando acerca das mesmas perspectivas. De fato, isso é uma
reprodução industrial que facilitou a
vida daqueles cujo Deus é uma religião.
Ninguém possui uma verdade, até que
a Verdade faça de fato parte do seu existir. Nada, nem mesmo confissões, nem
mesmo bons comportamentos, promovem no homem a argumentação ideal. Jesus não
argumentou uma teologia acerca de Deus, e desta forma pessoas se convenceram de
sua doutrina. Ele amou dois tipos de pessoas. Aqueles que não mereciam ser
amados e aqueles que achavam que mereciam. Na verdade, o amor de Jesus foi sua
mais extraordinária Palavra, e foi na perspectiva deste amor que os homens se
renderam.
Os discursos religiosos estão tão preocupados
em defender princípios e ideias, que a única coisa que possuem de mais profundo
são seus códigos retóricos. A argumentação religiosa é de convencimento. O
Espirito da Palavra é promover liberdade de pensamento.
Jesus chamou homens nascidos em
lugares diferentes, com profissões distintas, gerando assim perspectivas completamente
opostas para caminharem ao seu lado. Doze homens significam doze ângulos, ideias,
percepções, perguntas, imagens nada semelhantes uma a outra. No entanto, eles
foram chamados ver Deus a partir de Jesus, e qualquer ângulo que o homem
enxergue o Cristo, possui um vislumbre da natureza do PAI. Os quatro
evangelistas fotografaram Jesus de forma distinta, porque vivenciaram momentos
semelhantes, mas em seu interior, a intensidade foi totalmente diferente.
Essa é a realidade em Cristo. Ter uma
visão Dele de um ângulo intimo e pessoal. Cada ser humano possui uma visão panorâmica
em Deus, que revela a complexidade, a grandeza, a insondabilidade do Deus que
vive.
Jesus chamou o homem a Viver a Verdade,
não para elaborar discursos sobre ela. Jesus não é motivo de argumentos, nem
mesmo suas palavras possuem esse propósito. Ele é motivo de adoração e a
palavra é o vislumbre de sua Graça. A ausência da adoração genuína gerou a
necessidade de concentrar a vida nos argumentos da verdade, sem, no entanto,
vive-la de fato. Saber sobre Deus não significa conhecer Deus. Não foram os
argumentos de Jesus que convenceram gerações e gerações a se prostrar diante
dele, mas a convicção que suas palavras não foram códigos, mas Vida e Verdade.
Ele é o ponto de convergência de
todo aquele que nele crê e partir disso nos tornamos semelhantes. Sendo
semelhantes Nele, o homem não precisa ser igual a nada, porque se torna
diferente de tudo, ao passo que vive uma semelhança com todos. O que nos torna
parecidos, irmãos, muito embora sejamos diferentes, não é a igualdade de comportamentos,
mas o ser imagem e semelhança de Cristo. A matemática que torna pleno este mundo
cheio de variedades são as diferenças. São elas que tornam um casamento completo.
A ideia não é encontrar algum paralelo, mas algo que venha convergir. Não é a
igualdade que promove felicidade, é a diferença. Talvez este seja nosso maior
problema. Quanto mais diferente somos, mais perto da plenitude estaremos. A
felicidade é fruto das variedades, das diferenças, das pluralidades.
A tentativa religiosa em unificar o
homem através de um comportamento promoveu repressão. Reprimidos pela
perspectiva religiosa a humanidade perdeu a variedade de talentos de milhares
de homens que tiveram que se adequar a previsibilidade. A liberdade que Cristo
nos proporcionou está em aceitar as diferenças, as cores, as raças e até mesmo
as religiões. É enxergar no mundo das diversidades a grandeza infinita daquele
que nos criou. É perceber a quantidade de ideias, animais, pensamentos,
pessoas. É ver na infinitude de percepções um horizonte enorme de ângulos pelos
quais podemos enxergar a vida, Deus, o amor. A partir desta liberdade em
Cristo, o homem deixa de lado seus argumentos, para então amar
indiscriminadamente o outro, sem interesses religiosos, sem barganhas. Tão
somente o outro é suficiente para o amor.
Deus é diferente. Ele não é
semelhante ao que imaginamos. Até hoje nenhum homem conseguiu convencer o outro
a amar a Deus. Quem faz isso é o Espirito Santo. Quem realmente convenceu de
fato uma nação e quase o mundo inteiro foi Hitler. O único poder de
convencimento humano é aquele que acontece para a morte. Talvez por isso, que a
religião, seja de fato, o maior cemitério de ideias, pensamentos, diferenças e
variedades.