quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Gabi, de frente com Silas.


“Eis que este menino será destinado para a ruina, como para levantamento de muitos em Israel e para ser alvo de contradição”. (Lucas 2;34)

Depois da entrevista de Silas Malafaia no programa de frente com Gabi entristeceu-me a alma. De fato, não estou abismado com o fulano de fala forte. Ele conhece muito bem letras, que juntas formam frases, não a Palavra, que junta forma um Espírito. Estou profundamente abismado com a manifestação das pessoas.

Elas adoraram as falas do fulano. Vibraram com as respostas. Chamaram de coragem e defesa do evangelho. Algo me lembrou de um cenário parecido. Os judeus a quase dois mil anos atrás. Ante ao Sinédrio estavam multidões corajosamente pedindo a morte de um Galileu que defendia o direito das prostitutas. Para isso, usavam as pedras para matar as adúlteras, as orações altas para impressionar os leigos. Os judeus tinham muitos motivos para acusar. Suas letras eram vastas de oportunismos para o ódio.

Os fariseus eram protestantes do humanismo judaico. Este grupo surgira de homens que não permitiam que as escrituras e as leis de Deus fossem abandonadas pela cultura popular de outros povos. Eles eram pessoas boas, caridosas, que estudavam as Leis, e aplicavam em suas vidas os ensinamentos da Palavra. O problema é que por serem tão cuidadosos e justos, passaram a enxergar os outros de forma equivocada. Eles passaram a se orgulhar da sua própria bondade, da sua própria justiça. As suas bondades, as suas orações, os seus jejuns, perderam o proposito espiritual intrínseco para serem apenas ferramentas para demonstrar sua religião. Tudo que, outrora era espiritual, se tornou apenas um motivo carnal. Ao trombarem com o filho de Deus, se escandalizaram. Impuro, diabólico, louco e samaritano! A justiça de Cristo e a justiça dos protestantes judaicos não estava em concordância. Eles entendiam justiça como matar o pecador. Jesus entendia justiça com matar o pecado, libertando o pecador. Temos motivos de sobra para imaginar a confusão que Cristo causaria em nosso senso espiritual protestante. Se Ele estivesse caminhando por entre as ruas de nossos bairros pobres, nós iriamos exercer protestos veementes, defendendo a ideologia e moral cristã. Os religiosos, que dizem que não são religiosos, iriam se escandalizar com o amor e com a Graça. Eles odiariam a justiça injusta que o Filho de Deus promoveria. Ao saberem que Jesus havia transformado agua em cerveja, dançado da festa de um casamento e convidado Renan Calheiros para ser seu discípulo, os apóstolos modernos iriam esbravejar sua ira, seu ódio, gritando: Samaritano! Endemoninhado! Belzebu! Louco!

Durante mais de 40 minutos vi uma entrevista. O nome de Jesus foi posto de lado pela ideologia pessoal, pelas explicações pessoais financeiras, e por um dedo em riste. Os cristãos adoram este tipo de postura, porque os religiosos são mais políticos do que espirituais. Cedem muito mais a um acalorado papagaio do que a um sábio silencioso. Durante aquele tempo, uma religião estava sendo defendida, mas o Cristo sendo pisado.

Os apóstolos, então, se reuniriam em um de seus castelos ou fazendas para darem um fim neste pobre homem que anda pelas ruas pervertendo a fé cristã das suas ovelhas. Ele não está de acordo com Malaquias! Ele está se sentando a roda com escarnecedores! Ele estava com prostitutas! Ele é um demônio!

Os protestantes de ontem foram tão justos aos seus próprios olhos que Jesus foi um escândalo para eles. Nada diferente do que acontece conosco. Jesus não caberia em nosso escopo religioso, nem em nossa doutrina domesticada. Não caberia em nossas coleiras, nem em nossos bolsos. Preferimos os Malafaias, os Caifazes, porque o prêmio de suas letras cabe em nossa vaidade religiosa de ter, ganhar e consumir.

Jesus levantou a voz somente uma vez, e foi ante a casa de seu Pai sendo roubada por estes “justos” senhores que lideravam os serviços “espirituais”. Jesus foi uma loucura para a sociedade religiosa e justa do século I. Para os pecadores ele foi óleo de alegria, para os religiosos frequentadores de templos, um louco, um doente, um blasfemo. Grande surpresa será quando ele, como ladrão roubar aquilo que é seu. Grande contradição será o céu, cheio de pecadores imerecidos, e o mundo cheio de justos merecedores.

O mundo, os leprosos, até mesmo Pilatos e Gabi estão mais perto de Deus do que os fariseus, do que os protestantes, do que os puritanos.  Os religiosos não precisam de mais nada. Eles possuem a letra, profetas, cadeiras e um grupo de louvor. Eles são justos, são fieis, são dizimistas e leem a palavra antes de dormir. As vezes, eles sobem montes, fazem jejuns de coca-cola e ainda oram de madrugada. Os fariseus protestantes do século XXI não precisam de nada, a não ser alguém que fale aquilo que desejam ouvir. Eles são tão bons, que são o que existe de mais grotesco, ruim e perverso em nossa sociedade. São raças de víboras, são hipócritas, são mentirosos, são enganadores.

Este mesmo evento aconteceu na vinda de Cristo. Este mesmo evento está acontecendo na volta Dele. Desconfio que o mundo, no entanto, está profetizando para os profetas, ansiando conhecer o Deus que perdoa, que agracia, que não levanta dedos, nem faz acusações.
Os fariseus somente iriam conseguir sobreviver se Jesus morresse. Temo que para nós, a matemática seja a mesma.

De fato, Não foi o Silas que esteve de frente com Gabi, mas a Gabi com o Silas. Pois nela está o desejo incessante de absolver. Nele o desejo mais perverso de condenar. Que o Deus da Gabi, que não é o mesmo deus do Silas, o perdoe.
Hong Kong, Causeway Bay 06/02/2013
Carlos Bertoldi


 

Um comentário:

  1. Parabéns pela reflexão, você já nasceu maduro, mas hoje está mais experiente. Que Deus continue te iluminando e que estas palavras possam alcançar pessoas para que elas também despertem para o poder da reflexão.
    Deus abençoe a você e sua família.
    Sóstenes- Pernambuco, Brasil.

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