“Eis que este menino será destinado
para a ruina, como para levantamento de muitos em Israel e para ser alvo de
contradição”. (Lucas 2;34)
Depois da entrevista de Silas
Malafaia no programa de frente com Gabi entristeceu-me a alma. De fato, não
estou abismado com o fulano de fala forte. Ele conhece muito bem letras, que juntas
formam frases, não a Palavra, que junta forma um Espírito. Estou profundamente
abismado com a manifestação das pessoas.
Elas adoraram as falas do fulano.
Vibraram com as respostas. Chamaram de coragem e defesa do evangelho. Algo me lembrou
de um cenário parecido. Os judeus a quase dois mil anos atrás. Ante ao Sinédrio
estavam multidões corajosamente pedindo a morte de um Galileu que defendia o
direito das prostitutas. Para isso, usavam as pedras para matar as adúlteras,
as orações altas para impressionar os leigos. Os judeus tinham muitos motivos
para acusar. Suas letras eram vastas de oportunismos para o ódio.
Os fariseus eram protestantes do humanismo
judaico. Este grupo surgira de homens que não permitiam que as escrituras e as
leis de Deus fossem abandonadas pela cultura popular de outros povos. Eles eram
pessoas boas, caridosas, que estudavam as Leis, e aplicavam em suas vidas os
ensinamentos da Palavra. O problema é que por serem tão cuidadosos e justos,
passaram a enxergar os outros de forma equivocada. Eles passaram a se orgulhar
da sua própria bondade, da sua própria justiça. As suas bondades, as suas
orações, os seus jejuns, perderam o proposito espiritual intrínseco para serem
apenas ferramentas para demonstrar sua religião. Tudo que, outrora era
espiritual, se tornou apenas um motivo carnal. Ao trombarem com o filho de
Deus, se escandalizaram. Impuro, diabólico, louco e samaritano! A justiça de
Cristo e a justiça dos protestantes judaicos não estava em concordância. Eles
entendiam justiça como matar o pecador. Jesus entendia justiça com matar o pecado,
libertando o pecador. Temos motivos de sobra para imaginar a confusão que
Cristo causaria em nosso senso espiritual protestante. Se Ele estivesse
caminhando por entre as ruas de nossos bairros pobres, nós iriamos exercer
protestos veementes, defendendo a ideologia e moral cristã. Os religiosos, que
dizem que não são religiosos, iriam se escandalizar com o amor e com a Graça.
Eles odiariam a justiça injusta que o Filho de Deus promoveria. Ao saberem que
Jesus havia transformado agua em cerveja, dançado da festa de um casamento e
convidado Renan Calheiros para ser seu discípulo, os apóstolos modernos iriam
esbravejar sua ira, seu ódio, gritando: Samaritano! Endemoninhado! Belzebu!
Louco!
Durante mais de 40 minutos vi uma
entrevista. O nome de Jesus foi posto de lado pela ideologia pessoal, pelas
explicações pessoais financeiras, e por um dedo em riste. Os cristãos adoram
este tipo de postura, porque os religiosos são mais políticos do que espirituais.
Cedem muito mais a um acalorado papagaio do que a um sábio silencioso. Durante
aquele tempo, uma religião estava sendo defendida, mas o Cristo sendo pisado.
Os apóstolos, então, se reuniriam em
um de seus castelos ou fazendas para darem um fim neste pobre homem que anda
pelas ruas pervertendo a fé cristã das suas ovelhas. Ele não está de acordo com
Malaquias! Ele está se sentando a roda com escarnecedores! Ele estava com
prostitutas! Ele é um demônio!
Os protestantes de ontem foram tão
justos aos seus próprios olhos que Jesus foi um escândalo para eles. Nada
diferente do que acontece conosco. Jesus não caberia em nosso escopo religioso,
nem em nossa doutrina domesticada. Não caberia em nossas coleiras, nem em nossos
bolsos. Preferimos os Malafaias, os Caifazes, porque o prêmio de suas letras
cabe em nossa vaidade religiosa de ter, ganhar e consumir.
Jesus levantou a voz somente uma
vez, e foi ante a casa de seu Pai sendo roubada por estes “justos” senhores que
lideravam os serviços “espirituais”. Jesus foi uma loucura para a sociedade
religiosa e justa do século I. Para os pecadores ele foi óleo de alegria, para
os religiosos frequentadores de templos, um louco, um doente, um blasfemo. Grande
surpresa será quando ele, como ladrão roubar aquilo que é seu. Grande
contradição será o céu, cheio de pecadores imerecidos, e o mundo cheio de
justos merecedores.
O mundo, os leprosos, até mesmo
Pilatos e Gabi estão mais perto de Deus do que os fariseus, do que os protestantes,
do que os puritanos. Os religiosos não precisam
de mais nada. Eles possuem a letra, profetas, cadeiras e um grupo de louvor.
Eles são justos, são fieis, são dizimistas e leem a palavra antes de dormir. As
vezes, eles sobem montes, fazem jejuns de coca-cola e ainda oram de madrugada. Os
fariseus protestantes do século XXI não precisam de nada, a não ser alguém que
fale aquilo que desejam ouvir. Eles são tão bons, que são o que existe de mais
grotesco, ruim e perverso em nossa sociedade. São raças de víboras, são hipócritas,
são mentirosos, são enganadores.
Este mesmo evento aconteceu na
vinda de Cristo. Este mesmo evento está acontecendo na volta Dele. Desconfio
que o mundo, no entanto, está profetizando para os profetas, ansiando conhecer
o Deus que perdoa, que agracia, que não levanta dedos, nem faz acusações.
Os fariseus somente iriam conseguir sobreviver se Jesus morresse. Temo que para nós, a matemática seja a mesma.
De fato, Não foi o Silas que esteve de frente com Gabi, mas a Gabi com o Silas. Pois nela está o desejo incessante de absolver. Nele o desejo mais perverso de condenar. Que o Deus da Gabi, que não é o mesmo deus do Silas, o perdoe.
Hong Kong, Causeway Bay 06/02/2013
Carlos Bertoldi
Parabéns pela reflexão, você já nasceu maduro, mas hoje está mais experiente. Que Deus continue te iluminando e que estas palavras possam alcançar pessoas para que elas também despertem para o poder da reflexão.
ResponderExcluirDeus abençoe a você e sua família.
Sóstenes- Pernambuco, Brasil.