Existe uma grande dificuldade em
compreender a palavra Graça nas escrituras, primeiramente porque nós vivemos
num mundo em que se trabalha pelo merecimento. A dedicação e o esforço são as
forças que geram recompensas materiais concretas. O aprendizado que temos é que
o comportamento gera crédito. Enfim, aprendemos com este mundo, que “Deus ajuda
quem cedo madruga”.
Compreender a Graça de Deus, em
Cristo, embaralha nosso senso de justiça e merecimento. Por exemplo, o ladrão
na cruz. Ele não merecia o Paraíso segundo nosso senso religioso. O que ele
fez de bom? Quais foram suas obras? E as pessoas que ele maltratou?
Jesus, no entanto, não faz menção
acerca de quem ele foi, nem o que fez, mas somente estendeu sua Graça sobre
ele. Totalmente injusto. Totalmente imerecido.
Quando Jesus conta a parábola dos
trabalhadores da vinha, queria Ele apenas mostrar ao homem que o importante é
estar na vinha. Não importa o tempo, nem o trabalho. O que realmente é
relevante é aceitar o convite de participar em Cristo. Naquela parábola,
aqueles que trabalharam o dia inteiro receberam o mesmo salário, daqueles que
trabalharam por somente uma hora. Ou seja, o trabalho e a produção individual
de cada um não foi a base da recompensa do Senhor da vinha. O senso religioso
então gritou: Isto é injusto!
O filho mais velho, na parábola do
filho pródigo protestou a injusta justiça do seu pai, ao sacrificar o Novilho
Cevado em comemoração ao retorno do filho mais novo. O mais velho desenvolveu confiança
de que estava credenciado para receber algo de bom, por causa do seu
comportamento supostamente bom.
A salvação é essa injustiça. Ela
repousa em quem não acredita que a mereça. Salvos estão aqueles que não tentam
angariar merecimentos e créditos através de si mesmos. Salvos estão em Jesus,
que é a obra de Deus. Salvos estão pela cruz, que é a obra de Cristo. A força
gerada por Deus é suficiente para que o homem descanse das suas próprias forças,
entendendo que salvação é pela fé, não por obras.
A religião, tenta gerar compromisso
em seus fieis, gerando duvidas a respeito da Graça de Deus. Tentam
desesperadamente gerar comprometimento humano institucional construindo medos
do inferno. Estimulam o cristão trabalhar pela salvação, em vez de aceita-la em
seu coração. Querem tirar o homem do repouso de Cristo, para leva-lo ao ativismo
do Diabo.
A salvação é gerada em Deus, não no
homem. A palavra que nos cura e nos liberta está em Cristo. Este “Ainda
hoje estarás comigo no Paraíso” é simples demais para as teologias religiosas e
para o senso ativista meritório dos cristãos contemporâneos. A religião ainda
não compreendeu a profunda simplicidade da injusta justiça de Cristo, porque a
fé que deveria estar em Cristo, está nas obras e justiças próprias, na
moralidade e no comportamento ético, nos sacrifícios e obrigações religiosas.
Estes são os cristos dos cristãos.
A fé sem obras é morta, porque as
obras são a extensão da natureza dos salvos. Quem está salvo não se preocupa em
salvar a si mesmo. Não existe trabalho que proporcione salvação, mas a convicção
da salvação em Cristo que leva o homem a gerar coisas boas, obras justas,
momentos eternos, comportamentos adequados.
Uma visão clara do que se é sem Ele
e um desejo profundo de estar Nele. Esta foi a perspectiva do ladrão. Isto é um
repouso, é um descanso. Simples assim. Os religiosos não possuem as chaves do
Paraíso. Graças a Graça de Deus.
Hong Kong, Causeway Bay 15/02/2013
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