sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Fé sem obras


Existe uma grande dificuldade em compreender a palavra Graça nas escrituras, primeiramente porque nós vivemos num mundo em que se trabalha pelo merecimento. A dedicação e o esforço são as forças que geram recompensas materiais concretas. O aprendizado que temos é que o comportamento gera crédito. Enfim, aprendemos com este mundo, que “Deus ajuda quem cedo madruga”.

Compreender a Graça de Deus, em Cristo, embaralha nosso senso de justiça e merecimento. Por exemplo, o ladrão na cruz. Ele não merecia o Paraíso segundo nosso senso religioso. O que ele fez de bom? Quais foram suas obras? E as pessoas que ele maltratou?

Jesus, no entanto, não faz menção acerca de quem ele foi, nem o que fez, mas somente estendeu sua Graça sobre ele. Totalmente injusto. Totalmente imerecido.

Quando Jesus conta a parábola dos trabalhadores da vinha, queria Ele apenas mostrar ao homem que o importante é estar na vinha. Não importa o tempo, nem o trabalho. O que realmente é relevante é aceitar o convite de participar em Cristo. Naquela parábola, aqueles que trabalharam o dia inteiro receberam o mesmo salário, daqueles que trabalharam por somente uma hora. Ou seja, o trabalho e a produção individual de cada um não foi a base da recompensa do Senhor da vinha. O senso religioso então gritou: Isto é injusto!

O filho mais velho, na parábola do filho pródigo protestou a injusta justiça do seu pai, ao sacrificar o Novilho Cevado em comemoração ao retorno do filho mais novo. O mais velho desenvolveu confiança de que estava credenciado para receber algo de bom, por causa do seu comportamento supostamente bom.  

A salvação é essa injustiça. Ela repousa em quem não acredita que a mereça. Salvos estão aqueles que não tentam angariar merecimentos e créditos através de si mesmos. Salvos estão em Jesus, que é a obra de Deus. Salvos estão pela cruz, que é a obra de Cristo. A força gerada por Deus é suficiente para que o homem descanse das suas próprias forças, entendendo que salvação é pela fé, não por obras.

A religião, tenta gerar compromisso em seus fieis, gerando duvidas a respeito da Graça de Deus. Tentam desesperadamente gerar comprometimento humano institucional construindo medos do inferno. Estimulam o cristão trabalhar pela salvação, em vez de aceita-la em seu coração. Querem tirar o homem do repouso de Cristo, para leva-lo ao ativismo do Diabo.

A salvação é gerada em Deus, não no homem. A palavra que nos cura e nos liberta está em Cristo.   Este “Ainda hoje estarás comigo no Paraíso” é simples demais para as teologias religiosas e para o senso ativista meritório dos cristãos contemporâneos. A religião ainda não compreendeu a profunda simplicidade da injusta justiça de Cristo, porque a fé que deveria estar em Cristo, está nas obras e justiças próprias, na moralidade e no comportamento ético, nos sacrifícios e obrigações religiosas. Estes são os cristos dos cristãos.  

A fé sem obras é morta, porque as obras são a extensão da natureza dos salvos. Quem está salvo não se preocupa em salvar a si mesmo. Não existe trabalho que proporcione salvação, mas a convicção da salvação em Cristo que leva o homem a gerar coisas boas, obras justas, momentos eternos, comportamentos adequados.

Uma visão clara do que se é sem Ele e um desejo profundo de estar Nele. Esta foi a perspectiva do ladrão. Isto é um repouso, é um descanso. Simples assim. Os religiosos não possuem as chaves do Paraíso. Graças a Graça de Deus.

Hong Kong, Causeway Bay 15/02/2013   

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