Certamente enquanto escrevo esta página alguém está enterrando um amor, enquanto ainda outros velam seus parentes. Embora este discurso seja um pouco negativo, vale a pena pensar. Quando passo pelos cemitérios coloridos pelas flores compreendo que ali está a mais profunda cor cinza das impossibilidades.
A morte está em cada momento que desperdiçamos, em cada dia que não amamos, a cada beijo que negamos. Ela não está somente nos sepulcros, mas está em nossos corações. A morte é muito mais do que o apodrecer de uma carne sem vida. Ela é o desperdício do tempo, dos olhares, dos amores. Cada cenário que se desfaz sepulta um pouco da nossa vida, do nosso ser, da nossa historia. A morte não acontece em um dia, ou em um momento. Ela está acontecendo. A morte é um gerúndio enquanto vivemos, porque cada vez que o sol se esconde, com ele, um pouco de vida se desfaz dentro de nós. Esta certeza negra da perda não deveria nos fazer mal, muito menos nos levar as lágrimas. Pelo contrário, deveria içar nossos olhos para ideias e pensamentos eternos. Nossos beijos seriam mais demorados, nossos abraços mais apertados. Quantas coisas faríamos e quantas outras sequer iriamos lembrar, se contemplássemos a vida com Vida?
A morte é a ferramenta que nos leva ter uma vida mais plena. Ela nos leva a valorizar cada momento, pois nos ponteiros do relógio está a o valor dos nossos convívios. Se pudéssemos viver com a intensidade profunda que a vida merece, a morte não nos surpreenderia tanto. Nós iriamos dizer todos “te amos”, dar todos os abraços, falar todas as verdades, perdoar todos os imprevistos. Os sepulcros nos surpreendem porque deixamos de viver como deveríamos. Se a morte nos entristece, a vida deveria nos alegrar. Isso mesmo. Olhando para o lado, devem existir pessoas que podemos abraçar, amar, beijar e perdoar. São nestas possibilidades que está nossa eternidade. Se o amor jamais acaba é sinal que existe uma possibilidade de eternizar nossos sentimentos na vida de quem amamos.
Viver sem a certeza do fim seria catastrófico, porque viveríamos descomprometidos com o amanhã. A morte nos revela que o hoje é tudo que temos, trazendo muito mais importância para as pessoas que estão ao nosso lado.
O que existe depois da morte não me compete saber, embora imagine coisas maravilhosamente divinas. Seu eu souber o que fazer antes dela, serei feliz o suficiente para amar, e amar é viver. Enfim, amanhã estarei um pouquinho mais morto, mas ao mesmo tempo, mais vivo. Tudo porque, como diria Renato Russo, a eternidade está em viver cada dia como se não houvesse amanhã.
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