Não é fácil falar sobre política, futebol e religião porque são opiniões muito individuais e isso deve ser respeitado acima de tudo. Em nenhum momento meu desejo foi desvincular a fé dos seus credos, mas submeter as atividades humanas espirituais, ao pensamento reflexivo que pergunta e questiona, afinal de contas a fé que move montanhas é gerada em um coração puro e em uma mente sã.
Entrando no vestiário após uma vitória maiúscula, e em meio a gritos de alegria, um jogador prostrava-se ao chão. Num tapete estendido, naquele lugar inóspito e barulhento ele virou-se para Meca iniciando seu ritual religioso. Eu fiquei olhando aquela cena tentando compreender se ele estava realmente conseguindo se concentrar em meio aquele punhado de jogadores nus. Será que aquela era uma manifestação obrigatória ou uma declaração do seu amor?
Em qualquer encontro mais casual podemos confundir religiosidade com caráter e seriedade, mas como todas as coisas humanas, a espiritualidade pífia e medíocre desaba diante da força da rotina. A maioria dos religiosos acaba revelando suas superficialidades diante da angustia e da dor, e isso acontece por causa da relação de interesses e troca de favores que os homens estabeleceram com seus deuses. Esta perspectiva humana naufraga diante das impossibilidades, e isso é o que acontece com aqueles que fazem uma aliança financeira espiritual com seus credos.
Olhando este cenário religioso contemporâneo, a maioria das religiões que existem no mundo, entre elas as seitas, as crenças populares, as reuniões informais, tem algo em comum. Todas , teoricamente têm adereços morais e éticos e não estar aliado a alguma instituição religiosa traz duvidas a respeito da moral e conduta de qualquer ser humano.
Isso porque as religiões defendem algumas coisas pelas quais nenhum ser humano quer ver extinto, como a solidariedade, a caridade e a fraternidade.
Entretanto, ao longo destes anos, nas minhas experiências cristãs e em outras nem tanto, consegui compreender algumas coisas pelas quais são muito individuais, alcançadas diante do entendimento e da busca sincera da verdade divina.
Em primeiro lugar, as religiões tem um poder dominador sobre qualquer ser humano, até porque a maioria de nós foi introduzido numa crença quando ainda nossos sentidos e razões nem mesmo estavam maduros sensivelmente para nos lembrarmos do primeiro dia que entramos no circulo religioso pelo qual fazemos parte. Logo, a maioria dos homens da sociedade, professa a religião como herança, não como uma escolha, e isso nos faz acreditar que temos uma multidão de homens e mulheres que freqüentam sua religião, sem nem ao menos conhecer a história, os credos, os fundamentos, e as verdades da sua crença.
Crer sem conhecer não é uma manifestação de fé, mas um sintoma que falta sobriedade ao homem quando o assunto é Deus. Muito das coisas que herdamos dos nossos pais não passam pelo crivo da razão humana, porque automatizamos que o legado paterno é bom e perfeito o bastante para não ser analisado, afinal de contas qual pai dará pedras ao filho que pede pão? Mas é através desta herança irrefletida que os brancos nascem odiando os negros, que os xiitas nascem bombardeando os sunitas, que os protestantes e católicos são opostos que não se atraem, que os muçulmanos e os hindus duelam na índia, que os palestinos nascem odiando os israelitas, e que o Oriente Médio geneticamente passa de pai para filho o ódio pelo Ocidente.
O homem se encontra frágil a qualquer doutrina e filosofia porque na verdade sempre se encontrou num estado inerte de conhecimento e entendimento espiritual, e isto é a conseqüência de viver uma fé hereditária, mas sem entendimento e sabedoria. Quando o homem se encontra diante de alguma filosofia inteligente, ou então de algumas promessas vantajosas , ele debruça seu corpo e alma acreditando na benignidade das suas próprias intenções. É nesta fragilidade do pensamento que as religiões abocanham o homem, aprisionando-o para o resto da vida em uma vida de obrigações e troca de favores.
Em segundo lugar, todas as religiões vagamente buscaram trazer algumas respostas para alguns dilemas humanos como a morte, a tristeza, a dor e a tragédia. Elas se contorceram em cima dessas questões em busca de oferecer um conforto pelo qual os homens pudessem se render. Estudar todas as religiões e observar suas manifestações nos seres humanos é ao mesmo tempo pedagógico e emburrecedor. Pedagógico porque aprendemos culturas e verdades milenares. Emburrecedor porque vemos os homens realizando as coisas mais pitorescas e incríveis que jamais fariam por qualquer causa racional. É impressionante como o homem por mais profundo e intelectualmente maduro que seja é frágil e suscetível quando o assunto é o espírito.
Estudar as crenças imparcialmente é muito difícil até porque muitos dos homens que escrevem sobre estes temas o fazem com alguma parcialidade cultural e religiosa, por isso as pessoas são os melhores livros a serem estudados, pois são as mais concretas e verdadeiras manifestações religiosas do mundo.
Há uma relação difícil entre as religiões e o desdobramento final no ser humano gerou caridades e grandes projetos sociais , mas desencadeou milhares de mortes, guerras, e o derramamento de sangue religioso transborda o seu objetivo fraterno, benigno e divino.
Durante os últimos anos da minha vida destruiu-se o que existia de sinônimo entre Deus e religião, e por mais que eu não quisesse, eles se tornaram opostos. Entre perguntas e respostas descobri um pouco do divino na religião e isso não posso negar, entretanto não encontrei nada destas religiões em Deus. Depois de tantos anos, desalienar Deus da palavra religião, e tentar buscar neste olhar uma visão focalizada do seu Reino foi um grande desafio para mim.
Durante toda minha história de buscas, jamais pude ter a parcialidade familiar religiosa, porque comprometeria toda a verdade existente em Jesus, o único personagem dentre todos os outros, que não se vinculou ao credo religioso de sua época, tampouco se aliou em alguma estrutura espiritual para fundamentar suas verdades. Ele estabeleceu um refrão em seus discursos dizendo: Ouviste o que foi dito? Eu porem vos digo! Enquanto a religião escravizava o homem em suas doutrinas, este Homem entregou as chaves do céu para cada ser humano, tornando o homem o escritor de sua própria história. Não houve outro homem que falou tanto a respeito de Deus quanto este Homem. Por isso, é de suma importância abolir tudo que é cultural na hora de olhar para Deus, porque essas influências religiosas familiares podem gerar uma reflexão pueril influenciada.
Colocar pregos nos asfalto é uma bela forma de prosperar uma borracharia, não é mesmo? O que pude enxergar nas religiões ao longo destes anos é um sistema que ao passo que gera um problema, simultaneamente oferece uma solução.
Ela inventa uma impureza para apresentar a purificação. Cria um pecado para oferecer o sacrifício. Encontra o demônio para poder expulsa-lo depois. Gera uma falta de energia para oferecer um banho de sal grosso. Inventa uma campanha para obter a oferta. Cria uma angustia e apresenta uma regressão. Ela usa as fragilidades humanas oferecendo mapas astrais como se o homem fosse robotizado e seus sentimentos puramente fabricados em fantoches sem vida.
Minha pergunta durante todos estes anos foi: será que todas as religiões levam para o mesmo lugar?
A religião não confronta o homem, e isso é o que mais me chama atenção do cristianismo moderno. A cada novo discurso do Cristo milhares de pessoas seguiam para suas casas com interrogações acompanhadas de reticências. Eram palavras que destruíam toda e qualquer estrutura arenosa e hipócrita. A religião no entanto sempre fez do homem um expectador passivo, e entre o desespero de se proibir as leituras bíblicas na idade média e a interesseira forma de falar da palavra de Deus de hoje, o homem continua sem entender nada quando o assunto é o reino de Deus. Esta religião não confronta o ser humano a ser alguém melhor, mas o convida a fazer parte de suas práticas que tornam o iniciado automaticamente santo devido a sua nomenclatura religiosa espiritual. Quando o homem faz parte de algo religioso ele sente-se envolto desta esfera místico-divina, entretanto, quanto mais religioso o homem se torna menos flexível ele fica.
As religiões sofreram ao longo dos anos, e entre lutas e batalhas, os católicos não conseguiram sucumbir as perguntas de Lutero gerando a reforma protestante. O budismo teve suas reformas, assim como o islamismo que acabou se difundindo entre sunitas e xiitas. Hoje existem doutrinas que modernizaram os credos milenares e reformaram algumas idéias para serem mais confortáveis ao ser humano. São aquelas doutrinas que os artistas e os famosos adoram porque são místicas o bastante para não penetrarem na realidade de suas vidas “estreladas”.
Acredito que as reformas são muito boas e nos levam a melhores entendimentos. Elas consertam as rachaduras, pintam as paredes, trocam os azulejos, mas a reforma por si só não tem o poder de trazer ao homem a plenitude da Verdade, porque algo está acontecendo sob a mesma estrutura.
Por ter nascido em um ambiente cristão eu jamais havia me interessado pelas outras religiões, mas quanto mais eu me aprofundei nelas, mais enxerguei o amor e a inteligência de Cristo. Este homem em nenhum momento arregimenta pessoas para uma religião, mas chama o homem a uma nova caminhada. Ele estimula o homem a pensar através das parábolas e de forma alguma constrange os homens a segui-lo sem conhece-lo. Ele escolhe apenas doze discípulos e se quisesse realmente fundar uma religião escolheria logo 200, e tenho certeza absoluta que não iriam faltar pretendentes. Se quisesse realmente fundar um país, jamais teria tido uma vida vulnerável dormindo no monte das Oliveiras, mas fugiria para alguma cidade a transformando em lugar sagrado. Se estivesse preocupado em ser o artista principal de uma religião o Cristo teria ficado rico e certamente em um futuro próximo iria dar um jeito de disputar uma vaga no senado do império romano. Ele fala de um paraíso que sempre foi seu jardim e convida o homem a estar com ele nesta cidade de Deus.
Ele ofereceu ao homem um estilo de vida prático, realizando um confronto com a religião, com a hipocrisia humana, e com as demandas da sociedade que perduram até hoje.
Crer em Jesus é um desafio neste dias até porque o cristianismo não é sinônimo de Cristo como já foi um dia, há quase dois mil anos atrás.
Ver estas manifestações protestantes e católicas que lutam para mostrar quem é mais santo e verdadeiro enquanto as crianças morrem de fome nas esquinas de suas casas é o cúmulo da hipocrisia religiosa.
Jesus não anunciou uma reforma do ser humano pintando algumas paredes mofadas e trocando alguns azulejos quebrados como a religião se propôs a fazer. Ele anunciou a destruição e a reconstrução de um novo homem, imagem e semelhança de Cristo, para realizar uma transformação inacreditável nesta Terra.
Nesta reconstrução os ladrilhos da hereditariedade do ódio são quebrados. Nesta nova perspectiva de vida caem as paredes do preconceito e da separação que existem em todo homem, para construir um templo novo, com as pedras da alegria e da misericórdia.
Este Nazareno estava pregando quadros novos decorando a alma humana com graça, bondade e bom humor, embora não estivesse preocupado em codificar regras para o homem se enquadrar num sistema social político e religioso.
Ele fez mais do que destruir o homem, anunciou uma nova história através de um novo nascimento fruto do arrependimento e este novo território terreno-celestial seria a representação genuína de algo essencialmente verdadeiro.
Estar com Cristo deveria ser mais pedagógico do que místico, entretanto, hoje estar em uma igreja precisa ser mais místico do que pedagógico sob pena de não sobrar sequer uma pessoa na platéia.
Não houve outra instituição humana que fundou tantos segredos e mistérios como a religião. Nestes labirintos espirituais a religião trancou as portas da inteligência e da liberdade, espiritualizando as algemas, divinizando as forcas e fogueiras, Cristificando seus interesses comerciais, usando os céus e o inferno como pano de fundo. A religião fechou as portas do céu e guardou as chaves em seus ritos e credos numa incrível maneira de enclausurar o homem em suas dependências.
Eu não estou estacionado nos primórdios tempos medievais, mas se a religião deveria ligar o homem a Deus, acredito que sua essência negue sua própria convicção.
Não faltam homens religiosos no mundo, faltam homens divinos nesta Terra.
Vou encerrando minhas palavras com mais certezas do que duvidas. Enfim, todos querem saber o motivo do sofrimento e as causas da dor. Mas ninguém se pergunta pelos motivos da alegria e as causas da felicidade, não é verdade?
Talvez porque Deus seja o culpado quando as coisas não dão muito certo, e nós somos os responsáveis quando as coisas acontecem! Esta visão desfocalizada de Deus é apenas um exemplo de como somos individualistas e ignorantes na hora de julgar a nossa existência.
Acredito que os problemas que existem na vida foram ocasionados alguns pelas nossas escolhas e outros pelas circunstâncias da vida, assim como as coisas boas também. As outras vidas como algumas doutrinas oriundas do Oriente e do gnosticismo do século I dizem, podem trazer conforto para nossos problemas, tristezas, pobrezas e tragédias, mas não produzem em nós a mudança de atitudes práticas que precisamos realizar dentro de nós. Ter explicações místicas sobre o místico não é seguro e por isso Jesus ofereceu verdades reais e práticas, para que o homem fundamentasse sua vida, não apenas nas névoas do místico, mas na rocha das certezas.
Oferecer uma resposta mais duvidosa do que a pergunta é apenas uma dizima periódica do saber, embora isso alimente o coração dos incaustos e desesperados, não passa de uma forma criativa de trazer uma resposta confortável.
Para mim a pobreza tem uma causa relacionada com a corrupção, com a falta de oportunidades, com a desigualdade social. A morte tem muita a ver com a vida, pois elas são paralelos muitos fortes. Isto é uma resposta pouco mística, mas real daquilo que vivemos. Poderia oferecer algo mais espiritual como resposta, dizendo que você foi um grande Rei no século XI para trazer um conforto do tipo “já fui rico um dia, ufa!”, mas acho isso uma tremenda safadeza com o ser humano!
Acredito na comunhão dos irmãos que vivos buscam responder as expectativas que Deus tem sobre nós. Acredito mais na praticidade de fazer para o meu próximo aquilo que eu gostaria que ele fizesse para mim, do que subir quinhentos degraus de uma igreja qualquer. Ainda acredito que o pior mau olhado é aquele que sai dos nossos olhos, porque este sim tem o poder de destruir os nossos sonhos. Tenho a convicção que as relações desinteressadas com valores e números são as mais reais e verdadeiras e estabelecer uma relação de amor com Deus é a mais nobre das descobertas. Convido você a terminar esta leitura e iniciar uma busca pela praticidade, e não apenas nos sermões proféticos e doutrinas espiritualistas que enchem a barriga dos interesseiros, mas não tem serventia nenhuma quando o assunto é eternidade.
Enfim, acredito em Jesus e nas suas palavras. Se ele não tivesse chamado a religião de hipócrita e o homem de mau, talvez eu olhasse para a religião com um olhar infantil e superficial. Se a religião realmente fosse algo bom, Jesus teria se aliado a ela, e teria aproveitado toda a sua glória para se tornar o homem mais amado e famoso do império, sendo aclamado pelos grandes líderes, tendo seu nome gritado pelas multidões.
Seria certamente o maior homem daqueles dias, mas seria apenas mais um homem na história
Depois de alguns anos olhando para dentro de mim e os desdobramentos religiosos causados no meu próximo, posso dizer que todas as religiões levam o homem para o mesmo lugar, mas duvido pelas razões históricas, evidentes, e principalmente práticas que este lugar não é o divino.
Não que as religiões sejam em tudo maléficas ao homem, pelo contrário, oferecem um ambiente saudável e harmonioso para a família e para este mundo. Entretanto, diante da realidade humano espiritual, as religiões se perderam no comércio de seus interesses causando a maior manifestação de revolta e indignação do Cristo de Deus.
Nem os pecadores, nem os hipócritas, nem os soldados, nem mesmo a cruz causou em Cristo tamanha tristeza. Que Deus nos ajude a descomercializar o nome de Jesus dos nossos projetos financeiros, recolocando Ele no devido lugar, dentro do nosso coração!