sábado, 11 de maio de 2013

Arrumando as malas e muitas outras coisas!


Na vida muitas coisas se amontoam, basta mudar de cidade para chegar a essa conclusão. A verdade disso é que chegamos na China com duas malas de vinte e três quilos e estamos indo embora com quatro malas de trinta e dois quilos, duas malas de mão de dez quilos, duas mochilas e algumas coisas que ficaram para trás.

De fato, existem algumas coisas que gostamos que nem sempre podemos levar e algumas outras que achávamos importantes, mas que não são tanto assim. Arrumar as malas é um seletar daquilo que realmente é fundamental.

As mudanças repentinas que de vez em quando a vida promove nos levam a este arrumar das nossas prioridades. Nos armários da consciência ou nas gavetas da alma, existem um amontoado de coisas, momentos e pessoas, que não cabem na bagagem existencial e precisam ficar para trás, virar passado.

O tempo acumula muita coisa. Chega um momento em que é necessário mudar, arrumar as malas, reciclar ideias, deixar coisas para trás e começar uma nova caminhada.

Estamos indo embora amanhã carregado de novas histórias, ideias, percepções e aprendizados. Chegamos vazios e estamos voltando cheios.

As pessoas que aqui encontramos preencheram nossas bagagens. Agradecemos a Deus por elas. Estamos indos embora cheios, no entanto, plenamente convictos que dentro em breve estaremos nos esvaziando. Ficará em nós somente aquilo que foi fundamental e divino.

Os chineses foram uma escola e a China uma Universidade.

Com amor,

Carlos Bertoldi e família
Causeway Bay, Hong Kong 11/05/2013 13;02
 
 

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Estou de saco cheio!

O mundo está de saco cheio. Existe uma angústia de muitas demandas, afazeres e compromissos. Não existe mais tempo para educar os filhos, espaços para pensar, momentos para relaxar. Na contra mão, no entanto, existe um pavor enorme de ficar sem nada para fazer.    


Entre os olhares modernos estar vazio é pobreza existencial. Qualquer vacuidade deve ser preenchida, qualquer vazio deve estar entupido, do contrário, tudo é pobreza, é tédio, é marasmo. O homem reclama da falta de tempo, mas quando o tem, corre atrás de algum passatempo.

Pobre existência é a que vive atolada, cheia, transbordante. Ainda prefiro caminhar numa rua pouco movimentada, fazer compras num mercado vazio, passear por uma praia deserta. Os vazios são bons, são espaçosos, confortáveis.

Na medida em que o homem descobre-se vazio tenta desesperadamente tapar estas arestas como que se houvesse alguma necessidade de preenchê-las.

Estar vazio é existir com espaço, tempo. Estar vazio é não estar com o “saco cheio”. Estar vazio é ser aprendiz.

A verdade é que as pessoas não devem completar ninguém, nem mesmo preencher lacunas. A vida é um esvaziar-se, porque amar é a natureza de perder a si mesmo. A conclusão da vida é que quanto mais pessoas se ama, mais se esvazia das próprias ideias e achismos e isso é que na verdade completa.

Quanto mais o homem preenche sua existência consigo mesmo, e com seus próprios planos, mais sozinho e dependente deste mundo se torna.

A vida é mesmo uma contradição.

O amor não completa ninguém, visto que não nascemos pela metade. Ele divide alma, medula, coração. O homem nasce inteiro e termina em pedaços, posto que a natureza daquele que ama é dividir, é dar, é entregar, é partir, é compartilhar.

No Universo existem mais vazios do que estrelas, mais escuridão do que planetas. O mundo precisa girar, as ideias precisam surgir. O fato é que está faltando espaço para pessoas, assim como não se acha lugar para aquilo que realmente tem valor.

Não preencha todos seus espaços. A alma precisa de um espaço baldio para germinar aquilo que lhe apraz.
O tempo passa rápido por si só. Não o apresse mais ainda!
 
Causeway Bay 08/05/2013 17;20
Hong Kong
Carlos Augusto Bertoldi


Folhas em branco permitem escrever com clareza,
do contrário, a vida fica cheia de rabiscos e rasuras.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Último aprendizado em Hong Kong - Fora dos trilhos

O meu armário e as famosas portas!

Durante cerca de 10 meses o armário que temos para colocar nossas roupas esteve emperrado. Para abrir e fechar era necessário força e aquele velho jeitinho, puxa de cá, empurra para lá.

Ontem, as duas portas saíram completamente dos trilhos e caíram. Pensamos que a solução seria deixar o armário sem portas, no entanto, no dia seguinte, com calma tentei encaixa-las e elas perfeitamente deslizaram nos trilhos. Estamos com o armário funcionando perfeitamente bem.

De fato, em determinadas situações a vida se enrosca, emperra, e quão grande falta de coragem possui o ser humano em encarar estas pequenas e chatas inquietações que os afligem.

O caos se instala quando tudo sai deliberadamente dos trilhos, no entanto, é ao perceber profundamente que tudo está ruim que surge a verdadeira oportunidade de tudo ficar bom. Nada nesta vida acontece pelo viés da força, mas pela natureza da consciência. Depois da crise com meu armário, as portas estão realizando com totalidade o propósito pela qual foram inventadas.

Sair dos trilhos não significa o fim, mas o começo, visto que somente cai quem já está sofrendo, emperrando. Tem-se um jeitinho para tudo neste mundo, até mesmo para aquilo que é ruim, desconfortável. Este é o nosso maior problema. O fato é que se precisa compreender que a existência é para ser vivida em plenitude, não em parte.


É bom conviver com pessoas desemperradas. Os casamentos felizes acontecem entre pessoas que proporcionam facilidades, não problemas. Os sentimentos de quem desliza na superfície da alegria e do contentamento estão livres de uma centena de emperros existenciais.

A vida necessita deste encaixe, do contrário é necessário forçar. Não jogue fora as pessoas, nem os momentos, quando algo sai dos eixos ou dos trilhos. Talvez, seja essa a grande oportunidade de Deus para que se encontre de fato o caminho perfeito.

A vida precisa dos trilhos, porque problema pode não ser a porta, nem o armário, nem a pessoa, nem o casamento. Ás vezes é necessário somente compreender que é preciso recomeçar, refazer, reconstruir da forma correta. Tenha coragem e pense nisso!

Causeway Bay, 02/05/2013 15;56 Hong Kong

Carlos Bertoldi