Um misto de sentimentos borbulhava
entre os discípulos. Eles estavam surpreendidos por aquele que deveria batizar,
mas se curvava a um comedor de gafanhotos e mel. Estavam boquiabertos pela
humildade daquele que deveria falar aos reis, mas discursava seus maiores
segredos para pessoas comuns. Tentavam compreender aquele que deveria ter seus
pés lavados, porém lavava os pés daqueles que com ele caminhava.
Jesus é a expressão do amor de Deus
para com o homem. É o retrato que Deus, sendo Senhor, assume a condição servil
em relação ao que ama. É isso mesmo. Jesus é a demonstração do serviço de um
Senhor para com seus servos. Esta realidade de um senhor servir é escândalo
para a mente humana, mas é a expressão divina da redenção de um Senhor que tem
prazer em servir.
Assim assumiu Jesus esta posição
não somente para exemplificar ao homem seu procedimento, mas para evidenciar o
favor de Deus. O Senhorio de Cristo viveu em servidão, posto que o amor se
expressa no servir, não no ser servido.
Desta forma o homem sendo servo do
Senhor, na verdade é servido por Ele, visto que Deus é Deus no amor que se
entrega, não no Senhorio que aprisiona.
Por isso Jesus escolheu Judas para
dar o bocado molhado. Naquele tempo, dar um pedaço de pão molhado em vinagre ou
em algum molho de ervas significava um favor especial, uma honra. O amor e o
serviço de Deus não estão somente relacionados aos fiéis, aos bons, aos comportados,
mas a todos, até mesmo aqueles que chamamos de “Judas”.
Esta é a mensagem de Cristo. Este é
o escândalo da Graça promovendo toda a sorte de contradição ao nosso pensamento.
Servir a quem se ama é sinal de humildade. Servir os traidores é expressão de
um amor que vai além dos sentimentos carnais.
O serviço de Deus não é uma reação,
mas uma ação, visto que primeiro ele morreu, lavou, serviu, falou, amou, para
que depois o homem pudesse reagir a esta realidade. Nada ele fez como
retribuição, mas simplesmente como uma ação de quem não precisa de
reciprocidade para amar.
Todo homem em algum momento na vida fez planos malignos. Por isso o pão da vida se encharcou de sangue, se transformando no bocado molhado de Deus em nosso favor. A diferença é que alguns ainda preferem o lucro das moedas do que a Graça da
reflexão que enxerga a si mesmo.
Judas? Todos, sem exceção, possuem
em seu sobrenome parte destas características de vilão. O fato é que entre o
imaginar e o agir de nossas maldades existe um intervalo onde Deus revela saber
nossos pensamentos. Entre os planos que Judas fizera e a concretização do seu
mal existiu um tempo, um lava pés, um bocado molhado, um olho no olho.
Somente Judas entendeu quando Jesus
falara da existência de um traidor naquela mesa. Os outros ficaram se
perguntando entre olhares desconfiados.
Se quem está a sua mesa, em sua
vida, não sabe. Deus sabe. Pense nisso antes de qualquer coisa!