segunda-feira, 20 de junho de 2011

Desemprego

Nos últimos três anos tenho tido “férias” muito mais do que gostaria. Quando menos imagino, troco o agitado e competitivo dia a dia dos gramados, pela insossa e pacata vida caseira. Alguns dias meu sono se perde entre pensamentos, em outros, pareço dormir mais do que o planejado.
A minha profissão perde o sentido pois sinto que meus serviços são descartáveis, e isso traz ao meu coração um emaranhado de dúvidas e questionamentos.

Acredito no poder das minhas insônias porque elas produzem um momento de silêncio que em nenhuma outra parte do dia eu conseguiria. Nestas noites “claras” descobri a verdade daquela palavra que diz: “Aqueles que de madrugada me buscam, me encontram”.
Não que Deus esteja somente nas madrugadas, mas porque nosso coração parece estar acalentado o bastante para ouvir a voz do Pai.
Numa dessas noites sem fim lembrei-me de uma coisa interessante. Certo dia eu estava indo treinar, na cidade de Pelotas, quando passei por um condomínio de prédios em reforma. Os pintores estavam lixando uma cerca podre e mal cuidada.
Durante aquela semana observei aqueles pintores. Eles demoraram mais tempo lixando a cerca do que a pintando. Perderam mais tempo com aquele que iria ficar oculto, do que a tinta que estaria à vista de todas as pessoas.

Esta é a realidade divina para nossa existência porque Jesus falou muito mais das hipocrisias escondidas do interior do prato, do que nos pecados do exterior do copo. Desconfio que estas circunstancias da vida lixem meu interior de tudo aquilo que é humano, para pintar tudo aquilo que é divino.
Estes momentos produzem um misto de reflexões que nenhum outro momento da vida poderia proporcionar, e quem passou por esta realidade sabe a força desta lixa. Ao passo que o mundo parece não precisar mais de mim, encontro um sentido mais acurado para a vida na realidade divina.
Deus está intimamente preocupado com o interior humano, enquanto nós estamos com pressa para pintar logo aquilo que está podre fora de nós. Quanto mais queremos esconder aquilo que oxida em nosso corpo, mais enferrujado fica nossa alma e nosso coração. O homem que deseja uma nova história, precisa encarar a nudez da sua cerca e as podridões escondidas debaixo das inúmeras camadas da tinta que usamos ao passar dos anos.

Estar desempregado é um momento doloroso, mas revela as minhas mais escondidas realidades. Desnuda minhas vaidades e me faz enxergar a vida de um ângulo menos humano e mais divino. Neste momento não sinto mais a necessidade de parecer alguma coisa, porque na verdade não sou mais nada. Minhas ferrugens foram expostas ao passo que minha nudez está a vista de todos. Entretanto esta é a condição ideal para uma pintura perfeita e duradoura. Deus tem gasto mais tempo com aquilo que não posso ver na minha vida, e talvez essa seja a sua realidade.

Tudo isso na verdade é para produzir a mais bela e duradoura pintura que o homem precisa. Então, quando estivermos revestidos desta camada de graça, não haverá ferrugens, nem dores, nem angustias, que poderão impedir uma vida de alegria e felicidade.
Enfim, estar na nudez do desemprego não é sinônimo de vergonha, mas um estágio propício para ser vestido com roupas melhores.

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