segunda-feira, 20 de junho de 2011

A boca fala do que está cheio o coração

Quando moramos na Grécia, eu e minha esposa vivemos dias incríveis. Descobrimos o poder da comunicação na mais alta expressão do seu significado. As coisas mais simples como ir ao cabeleireiro se tornavam difíceis como cancelar uma conta telefônica aqui no Brasil. Uma das coisas mais constrangedoras na vida é interagir com as pessoas, mas não entende-las. No clube que estava jogando haviam os mais variados idiomas, e por “sorte” não havia nenhum brasileiro. Eu ficava junto com os argentinos mas na verdade não conseguia entender muita coisa daquele castelhano todo enrolado, então permanecia quieto a maior parte do dia.
Descobri que esta realidade tão longínqua ao nosso cotidiano é uma constante na vida de todo homem. Nós temos uma grande dificuldade de comunicarmos nossas verdades e por isso muitas famílias estão sofrendo. Enquanto o filho fala o grego da rebeldia, os pais falam o castelhano da omissão e destes desencontros surgem as drogas, os divórcios, as adolescentes grávidas, e os jovens com HIV.
Desconfio que cada ser humano possui um dialeto, um idioma próprio. Por isso temos melhores amigos, pode ser simplesmente que não sejam as melhores pessoas do mundo, mas porque falam a mesma língua.
Os homens e as mulheres possuem idiomas diferentes na hora de conversar, e talvez por isso a modernidade vive a realidade de ou ir para a cama, ou assinar os papéis do divorcio.
O grande desafio do homem e da mulher dentro do contexto familiar é entender a fala do outro da forma mais clara, mesmo que seja no dialeto mais raro.
Naquele país distante eu comprava jornais e na companhia de um dicionário aprendi muitas palavras a ponto de conseguir me comunicar aos trancos e barrancos. Para viajar na vida de outra pessoa é preciso conhecer seu dialeto, e decifrar seus idiomas, porque é inviável constranger a Grécia a falar português, melhor seria doutrinar meu coração, minha mente, e minha vida em descobrir aquelas falas emblemáticas.
Nesta mesma realidade, recordo que há alguns anos atrás, meu avô sofreu um derrame e passou oito anos na cama. Sua fala ficou comprometida a ponto de não entendermos quase nada que dizia. Entretanto, minha avó e meus tios que estavam mais próximos, aprenderam o dialeto do meu avô, e eles traduziam aquela fala debilitada e frágil para nós, viajantes.
Eu tenho a convicta certeza que o maior problema humano, familiar e social esteja na debilidade da nossa fala. Esteja em não sabermos revelar nossas dores, nem nossos amores.
Por isso nossas palavras devem ser temperadas com o sal do entendimento e da sabedoria, porque dessas realidades surgem um relacionamento saudável e prazeroso. Não é a retórica uma forma clara de se comunicar, mas a singeleza da verdade que existem nas palavras. Não existe “pobremas” na hora de falar a verdade, até porque ela não é cativa de discursos bonitos.  A felicidade e a plenitude estão muito ligadas a esta realidade até porque o homem consegue domar todos os animais terrestres, mas a língua o homem ainda não conseguiu doutrinar.
Quando este pequeno órgão humano estiver sob as rédeas do seu dono, então este homem está apto para ser compreendido pelos outros. Ele possuirá uma linguagem universal que pode ser compreendida pelo mundo, não somente através das palavras, mas de um conjunto de atitudes, de gestos e verdades.  

Porque uma coisa é verdade, a boca fala do que está cheio o coração!

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