A Páscoa passou, milhares de pessoas se emocionaram, cumpriram suas obrigações religiosas e fizeram seus sacrifícios, mas estou desconfiado que este momento moderno não traduz a profundidade da verdadeira mensagem pascal, tampouco traz ao homem uma reflexão capaz de transformá-lo em alguém melhor.
Vejamos que coincidência, foi exatamente isso que aconteceu na última ceia de Jesus com seus amigos. Eles ainda estavam com os bigodes molhados pelo vinho da nova aliança e em suas bocas ainda restavam migalhas daquele pão que Jesus havia partido, quando começaram a discutir sobre quem deles seria o maior.
Aquela discussão deve ter sido boa: “eu andei por sobre as águas... Eu curei um leproso... Eu sou o discípulo amado, e você?!... Tá bom, mas quem foi escolhido primeiro?!... Mas as pessoas me amam mais do que vocês!”
Uma nova aliança havia sido proclamada, arrastando com ela uma nova história para toda a humanidade, contudo, enquanto um iria buscar suas moedas e denunciar Jesus para os judeus, os outros onze estavam negociando suas vidas para descobrir quem tinha mais “valor”.
Talvez você tenha começado a sua semana pensando em ser o maior entre os seus amigos, e essa realidade não é exceção, é uma regra. Não se sinta mal por isso, até porque Jesus não condenou seus amigos, pelo contrário, mostrou o caminho para tal empreitada.
Talvez esse desejo de ser melhor, maior, mais elogiado, mais amado, seja algo que esteja dentro de todo homem, e por isso Jesus viveu, ensinou e praticou a grandeza de ser menor. Quando o homem é verdadeiramente grande, está livre para ser pequeno e desconhecido. Pode ter sido por isso que Jesus tenha louvado a Deus por ter escondido determinadas coisas dos “grandes” e revelado aos pequeninos. Essas grandezas que estão no silêncio da nossa alma são virtudes que precisam ser colocadas em prática.
Neste momento o mundo não sente falta de homens grandes, até porque todos os palcos precisam de um personagem principal. O que nos falta, na verdade, é a “grandeza da pequenez”, a pequenez da sinceridade, da verdade, do amor e da justiça. São esses valores que não pisam nos palcos deste mundo, que farão nosso futuro melhor.
Não se engane, o palco não é necessariamente lugar para homens grandes, pode ser apenas o lugar em que os pequenos usam para usurpar a fama, por isso estamos caminhando para o inferno existencial na velocidade cinco.
Jesus negou os palcos, não porque não fosse grande o suficiente para isso, mas porque de lá Ele não poderia ser tocado pelas gentes ou pelas crianças, não escutaria os cegos, nem toparia com os leprosos. Lá de cima, o homem perde a capacidade de estar misturado com o outro, e dessa realidade o maior homem do mundo jamais quis abrir mão.
O único momento em que Jesus esteve acima dos homens, foi na cruz do calvário, para que naquele maldito palco pudesse escrever a maior e mais bela história de amor de todos os tempos.
O homem que compreendeu a morte de Jesus certamente conseguiu entender o que Ele disse em vida. Não há como compreender a profundidade e a verdade da cruz sem jamais ter se sentado a beira do sermão da montanha. Não há sentido em estar saciado da doçura dos chocolates, mas cheio de amargura das coisas desta vida.
A vida de Jesus foi tão impactante e confrontadora quanto a Sua morte, e conhecer as Suas palavras não leva o homem apenas a um momento de comoção, mas resgata o entendimento de que as coisas e pessoas mais simples podem ser as mais importantes da nossa vida. Sábio e grande é aquele que serve e que se entrega a humilde condição de amar independente das circunstâncias ou da reciprocidade.
Enfim, quem quiser ser o maior, seja aquele que serve. Pratique esta contradição, pode ser que algo mude em sua vida!
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