domingo, 3 de março de 2013

Injusta justiça


Senhor,
Aprendi neste dia que a tua justiça é justa.
O Senhor é justo, e mesmo sendo justo, não é injusto para provar seu bem. Não aumenta sua voz, não grita por sobre os telhados. Sua justa justiça permanece quieta, mesmo quando afrontada com nossas tão tolas justas injustiças.
Senhor, dá-me a conhecer a tua justiça em mim, porque quanto mais justiça própria possuo, mais injustiça promovo. Quanto mais certeza e convicção acerca do bem, mais capacidade para agredir. Quanto mais certo estou, mais errado me torno. Porquanto, todas as vezes que erro, minha voz se cala, mas todas as vezes que acerto, minha garganta se alvoroça.
Como Pedro naquela noite gélida, estou com espadas tentando defender o meu bem, no entanto, não faço outra coisa a não ser promover o mal. Minha justiça, promove injustiça. Quanto mais certo acho que estou, mais errado acabo ficando.
Minha justiça é maligna, é infernal, é abismo. Dela surge discussões, não entregas. Nela me engano, nela me confundo. Ela me justifica a lutar usando minhas espadas, meus argumentos, minhas razões. Ela disfarça meu mal, lutando pelo bem.
Senhor, da-me a conhecer a tua justa justiça. Aquela que se entrega sem argumentos, nem lutas, nem gritos. Aquela que promove amor em meio ao ódio, paz em meio guerra, silêncio em meio aos ruídos. A justiça que não possui martelos, nem togas, nem júri, mas que vive de misericórdia, graça e amor.
Quando mais me distancio de mim, e me aproxima do Pai, uma enormidade de injustiças se revelam em mim, e quanto mais injusto percebo que sou, mais justo aos olhos Dele acabo ficando.
Senhor, ao conhecer o Justo Juiz, percebo agora, sem as vendas da minha própria religião, que a maior justiça que possa existir entre os homens é aquela que reconhece sua própria injustiça. O homem mais justo é aquele que vislumbra sua face num espelho, enxerga verdadeiramente suas ideias e desprovido das sombras da sua própria justiça consegue perceber seu mal disfarçado de bem. Minha justiça é lobo, é trapaça, é latido.
Ante esta justa descoberta da injustiça, caminho com aquele que é justo, e por sabe que sou incapaz, viver nele é a única capacidade que me resta. Não há outro lugar, outro pensamento, outro argumento. Minha voz se cala, meus ruídos emudecem.
Nele minha injustiça se justifica na sua justiça. Não preciso de mais nada. Estou em paz.
Hong Kong, Causeway Bay 03/03/2013
Hoje o João Pedro mexeu na barriga da mamãe pela primeira vez. No futuro, quando você compreender suas injustiças, saberá que nada é justo até que Deus justifique. Então, acalentará seu desejo de parecer bom, para ser de fato. O papai será injusto por diversas, vezes, e talvez esta injustiça momentânea, seja a justiça eterna que você compreenderá somente quando for mais velho. Meu amor por você e pela mamãe estará sempre no passado das histórias, no presente das ideias, do futuro dos sonhos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário