O verbo do espírito não é realizar,
mas descansar. E nisso, há uma grande contradição do que seja este “fazer a obra”
e o conhecer de fato, a vontade de Deus.
O religioso se regozija ao realizar
algo, mas o espiritual se agracia no descansar, posto que, fé é a força da
inércia que gera expectativa somente em Deus e em nada mais. Vou tentar
explicar:
O mecanismo religioso do “fazer a
obra” gera fé em si mesmo, que credita no ego, de modo que, aquele que faz a
obra não espera mais pela fé, mas crê que, por causa do seu trabalho, Deus age
em seu favor. Ou seja, a grande maioria dos homens que estão supostamente “trabalhando”
para Deus, na verdade estão investindo em si mesmos.
Logo, a famosa “obra de Deus” deixa
de ser de Deus, para ser a obra do EU, mesquinha e profundamente egoísta.
Não existe maior tragédia espiritual
do que gerar fé em si mesmo. Pela falta de silêncio interior, e de um despertar
para a quietude da Palavra, a fé se transformou num fardo de comportamentos
adequados e regras morais. Pelo viés de parecer “bom”, a religião gerou uma espécie
de fé que se move por feitos e ações exteriores, que nada tem a ver com a consciência
interiorizada daquele que crê e confia somente em Deus. Esta autoestima, (fé genérica) é o alvo da religião
moderna. É alimentando o “posso tudo” através desta “fé” que os homens dão tudo
que tem e a religião consegue lucrar tudo que pode.
Deus não precisa de homem nenhum, do
contrário Adão teria surgido antes da Luz.
Quando a palavra de Deus aponta
para o descanso, ela está falando de fé (genuína), porque a fé produz paz. A fé
é a comodidade do espirito. Sem fé, o espirito do homem passeia vago sem
encontrar morada. Fé é repouso, repouso é paz, paz é Deus, de modo que, tudo
que se relaciona a fé proporciona silêncio.
Não se possui um motivo para ter
fé, porque não se crê em Deus pelas demandas do EU, mas se acredita pela
grandeza do que ELE é. A fé genérica se move pelas crises do MEU e se
materializa nos ativismos religiosos que estão poderosamente preparados para
acolher estes in-fé-lizes. A fé em Cristo se move pela certeza que ele vive e
pronto. A fé é descanso, porque a fé em Cristo é o depósito completo da angústia,
posto que, aquele que crê acredita que Deus está no domínio de tudo. A fé
genérica se desespera, e na medida em que, não vê resultados, troca de “guru” procurando
soluções para aquilo que supostamente acha ser o melhor para si.
Esforcemo-nos para conhecer a paz
que provem da fé. Fé que proporcionou descanso para os cegos, repouso para os
leprosos, paz para os endemoninhados.
Nada que esteja no mundo visível das
obras é maior do que aquilo que está no recôndito mais escondido da alma. Deus não
existe em ruídos, pois Sua voz é silêncio. Ele não existe em meio aos possíveis,
posto que Ele é impossível.
O maior esforço do homem não é
aquele que o deixa rico, mas aquele que o silencia. O maior trabalho que possa
ser feito não é construir grandes coisas, mas aquietar os ruídos internos que
tanto nos perturbam. Nada como um, Aquietai-vos e sabeis que Ele é DEUS. (Salmo
46;10)
Somente a fé, pela fé, através da
fé, em fé, com fé, por fé.