E todos nós com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a
glória do Senhor, somos transformados, na sua própria imagem, como pelo Senhor,
o Espírito. (II Coríntios 3;18)
A fala de Paulo se refere aos
homens de olhos desvendados. Daqueles que possuem o Espírito da Liberdade, que
conseguem fazer suas próprias escolhas, enxergar verdades, lidar com contradições.
É aquele que possui olhos e enxerga e, principalmente, discerne a palavra de
Deus através de Cristo. O véu religioso está removido dos seus olhos, do seu coração,
da sua personalidade. Esta fala revela que este
homem contempla a glória do Senhor no espelho, ou seja, a sua própria imagem é
a imagem de Deus. A vida deste homem é o reflexo da imagem do Criador. Qualquer
de suas palavras são imagens divinas, sua alegria reflete na eternidade de
Deus, não na contemporaneidade do hoje. Nele está um reflexo da glória de Jesus
Cristo e esta imagem perfeita de Deus molda suas imperfeições. Ele não enxerga
mais suas rugas, muito embora sejam visíveis, mas contempla a beleza de Cristo
revelada através daquilo que vive em seu interior.
Aqueles, nos entanto, que mesmo com
os olhos desvendados tentam se embelezar a frente do espelho, ainda não
compreenderam qual é a sua imagem. Aqueles que sofrem ao olhar o reflexo do
espelho certamente não estão diante da imagem do Criador, que tudo pacifica, enche
de graça, de paz. Se a imagem que reflete do espelho não é a glória divina, mas
um lamento humano, algo precisa ser repensado.
O espelho revela identidade. Proporciona
um olhar paralelo para si próprio, assim como o temos, quando olhamos para o
outro. Nele encolhemos a barriga e estufamos o peito. As mulheres colocam
saltos e querem ser desejadas. Os homens malham para ver no espelho o reflexo
do seu corpo, da sua própria glória, do seu próprio desejo. Quanto mais o homem
se concentra em si mesmo, mais o espelho reflete imperfeiçoes. Quanto mais belo
fica em seus achismos, mais feiuras se revelam. Esta preocupação feminina, e
cada vez mais masculina, pela sensualidade, deformou a imagem de Deus, que em
Cristo foi sem formosura. Esta beleza sintética, corporal, física e carnal
apenas envaidece o espelho a refletir a imagem que queremos ter de nós mesmos.
Isto acontece fora de nós. Imagino que dentro, seja um pouco pior.
A imagem do seu espelho é a imagem
de Deus?
Olhar no espelho e ver a eternidade
de Deus refletida revela importância. Observar os defeitos serem absorvidos por
aquele que não possui defeitos é o amor de Deus revelado em nós. Ser totalmente
esvaziado, mas ao mesmo tempo cheio. Ao passo que enxergo a minha mais esdrúxula
e total miséria de um lado, enxergo a riqueza deslumbrante Dele. Este espelho
revela a glória de Deus, porque reluz vida e entendimento. Deus não está
preocupado, como alguns acham, em evidenciar os defeitos e deformidades
humanas, apenas em revelar o que é a perfeição na mais profunda realidade desta
palavra. Ele é o perfeito que contrasta com aquilo que é informe.
Olhando profundamente no espelho
nesta manhã vejo a glória de Deus. Vejo o cheiro da vida e das oportunidades. Percebo
a perfeição de Deus revelada nas minhas mais profundas misérias. Vejo-o
obscuramente, mas meu desejo é o ver face a face. Conheço sua beleza em parte,
mas o conhecerei por completo. Enxergo seu rosto em meu espelho porque minha
vida não tem sentido sem esta imagem que transforma todos meus defeitos em virtudes.
Não quero ser feio, mas não desejo ser bonito. Esta vida de "espelho, espelho meu, existe alguém mais bonito do que eu?" é a busca desenfreada em distorcer minha imagem pela vaidade egoística em ser mais do que os
outros!
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