Uma casa bem decorada, alguns jovens cheios de vontade de aparecer, uns velhos descabidos, homossexuais com libido. Para quem não sabe, este programa é a novela com um roteiro bem decorado. As reações de todos os Brothers são iguais. As doze edições do programa contaram com homens e mulheres falando, fazendo, chorando, discutindo, dizendo, brigando, com as mesmas falas. Banhos demorados, biquínis enfiados, abraços apertados. Almoços avacalhados, conversas chulas, porres e mais porres. Um paredão, alguns figurantes, uma mocinha, o galã, a pervertida, um idiota, alguns renegados. Pronto. Um excelente cenário está montado.
Talvez esteja eu sendo um babaca e antiquado, mas a mulher poderia ter muito mais valor em qualquer outro lugar que não seja na capa de uma revista masculina. Essa prostituição feminina que acontece nas entrelinhas da televisão é um estupro descabido. Elas parecem desfilar rodando bolsinhas ansiando revender seus corpos por algum trocado que a torne milionária. Estamos “dando” e “vendendo” nosso futuro e nossos valores debaixo de algum edredom que chamamos de modernidade. Não muitos dias atrás, a televisão inventou musiquinhas bonitinhas para angariar recursos para dar esperança a uma criança. “Ligue 0500 710015 para doar quinze reais”. Poucos meses depois a preocupação brasileira passou a ser a “esperança” da Juju, do bobô, ou da Zezé num joguinho de fantoches. Quanta contradição!
Não sou pessimista, mas se tudo gira em torno dos lucros e ganhos, qual é o limite? São por estas brechas em nosso intelecto, que os políticos zoneiam este país. É por esta breve e repentina burrice que aceitamos viver em um país sem justiça, sem cidadania, sem serviço público, sem moral. São nas frestas desta sobriedade emburrecida, que somos estuprados por religiosos depravados e por promessas de campanha. É inadmissível, mas aceitamos essa realidade sem estarmos bêbados nem alucinados por algum tóxico. Que serenidade burra essa nossa! O BBB está na boca do povo, e isso é grave. Esse diagnóstico é perigoso, e relevante.
Sem passar por um processo de quimioterapia ética e moral morreremos. O problema, não é aquilo que todos estamos vendo, ou espiando, mas o que simultaneamente acontece nos becos e nas vielas dos interesses. Esta novela vai ditar moda, inventar gírias, espalhar ideias. Daqui três meses teremos alguns poucos vencedores. Algumas bundas sairão da geladeira do anonimato e serão estampadas em nossas bancas de jornal. Outros irão fazer aparições meteóricas na turma do Didi e na malhação. Esta é a realidade do Brasil. Poucos ganham enquanto que muitos perdem. Este latifúndio é o nosso infortúnio. Enquanto uma emissora e alguns bobalhões lucram com suas idiotices e imbecilidades, nós herdamos o prejuízo de suportar um zé mané ser chamado de herói. Gostaria de ver Arnaldo Jabor falando sobre isso, mas talvez ele não possa. Os interesses não deixam. Tomara que eu seja apenas um moralista idiota falando besteira, do contrário, colheremos a catástrofe de sermos em um futuro próximo aquilo que semeamos num passado não muito distante.
Que excelente texto! Uma crítica verdadeira e muito inteligente.
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