quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Uma educação de laboratório

O agrotóxico protege os alimentos da ação dos insetos e pragas, entretanto, eles são extremamente nocivos a nossa saúde. Temos um ganho. Uma fruta bonita e sem nenhuma mancha. Mas, temos uma perda. O organismo é afetado instantaneamente por isso. Uma infinidade destes tóxicos são causadores de doenças, alergias, e em último caso, câncer. Nós até desenvolvemos uma forma de proteger os alimentos das pragas, mas ainda não conseguimos aliar a tecnologia que é boa e saudável ao mesmo tempo. Ou seja, existe uma preocupação com a maçã em suas perspectivas lucrativas mas não com as consequências tóxicas que ela pode causar em nosso interior. Nesta relação de ganhos e perdas, acredito que estamos saindo no prejuízo. Talvez seria menos trágico para a saúde comermos algumas maçãs bichadas e manchadas. Enfim, a vida se revela a todo instante nos oferecendo um ganho e uma perda. Desde o nascimento, nas relações e profissões. Cabe a cada um fazer sua matemática. Encontro na educação moderna uma metáfora com este cenário. Estamos usando alguns tóxicos para cuidar que os pequeninos estejam imunes às doenças, ao mundo, as bactérias, e tenho minhas dúvidas se isso não acaba fazendo mais mal do que bem. Parece-me que esta educação desenvolvida em laboratório é uma fórmula excelente para os pais, todavia não tanto para os filhos.

As crianças começaram a dominar os adultos, e não aceitam outra forma de vida, que não seja dar as cartas. Os papais querem tempo, pois estão esgotados. Os pequenos querem todo o tempo do mundo para elas. Querem todos os olhares, toda a atenção, todo o cuidado. Elas parecem ansiar ser o centro do universo. Numa geração atordoada pelo stress e pelo trabalho, lidar com esta realidade é desgastante física e emocionalmente, e isso não podemos negar. A verdade é que ninguém está disposto e com energia o suficiente para educar um filho, embora todos alimentem o sonho de tê-los. Com pais cansados, estressados, angustiados e muitas vezes depressivos, educar um filho sem os tóxicos da indústria do entretenimento, tornou-se tarefa impossível.

A televisão é incrível. Aquieta as crianças e os adultos. Ela
absurdamente acabou com o diálogo familiar.
Os papais modernos até são inteligentes, mas não são criativos, muito menos divertidos. São chatos e turrões. Querem educar as crianças sob as rédeas das “super nanis”, mas sequer conseguem fazer seus filhos sorrirem. Os filhos parecem fazer parte da rotina profissional de suas vidas. Algo mecânico e artificial. Sem criatividade e alegria, nós então nos rendemos as facilidades do entretenimento. Compra-se alegria, compra-se educação, compra-se  felicidade, compra-se brincadeiras. Comprar, comprar e comprar. A verdade nua e crua é que, passado a empolgação do nascimento e a novidade do nenenzinho, muitos homens e mulheres desejam ardentemente que seus filhos durmam e assistam TV. Que, em outras palavras, se calem e parem de incomodar. Ou os pais entretem seus filhos para poderem ter “paz”, ou então enlouquecem. O foco moderno, desculpe a sinceridade, ainda é o nosso umbigo. Quando percebemos que eles roubaram nosso tempo, nossa energia, nosso tudo, então tentamos arranjar alguma fórmula que possa nos devolver a antiga individualidade perdida. Mas a noticia ruim é que os pirralhinhos estão com as cartas na manga. No supermercado, no restaurante, nas praças, nas sorveterias, nas lojas, ou em casa. Eles choram, gritam, esperneiam. Eles querem coisas. Nós queremos paz. Eles querem comidas. Nós queremos paz. Eles querem brinquedos e, nós, somente queremos paz. Literalmente eles querem o controle da TV para assistir Discovery Kids na melhor parte do sofá. Quando sentem fome dão um gritinho manhoso pedindo o mamá e fazem um chorinho quando querem uma cobertinha. Eles estão no domínio de tudo, e isso, gera desconforto e cansaço. Relembrando meus tempos de criança, sinto que algo mudou. Nós não tínhamos este controle, nem éramos o centro do universo familiar. Fazíamos parte de um todo, e tínhamos que nos enquadrar nesta realidade.  Algumas palmadinhas nos faziam engolir o choro. Hoje somente um cartão de crédito pode resolver esta parada. Esta geração de crianças não está sendo educada, está sendo “entretida”.

Video game
A solução disso tudo? Não sei. Talvez a criatividade bem humorada que interage com amor é muito mais produtiva e saudável do que estas maluquices contemporâneas. Poderemos desenvolver um futuro de meninos e meninas robotizadas por serem criadas debaixo de um padrão profissional.  Quando estas princesinhas descobrirem que são rainhas, entenderemos a historinha do agrotóxico. Os tóxicos modernos de entretenimento parecem estar aparentemente preservando nossas crianças, mas na verdade, estão preservando os pais. Sem criatividade, bom humor e tempo, os papais precisam financiar alegria todos os dias. Isso sai caro, muito caro! Sinceramente, com estas toxinas, eles até ficam comportadinhos, mas esta fórmula que troca comportamento e responsabilidade por brinquedos e sorvetes, é apenas uma maneira comercial de poder controlar pessoas. Os filhos devem ser educados, não entretidos. Devem ser corrigidos, não castigados. Sem este entendimento simples, estas crianças irão ser vitimas de suas próprias ideias e percepções. Termino com Içami Itiba, “quem ama, educa!”.

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