Em Gênesis, a terra estava sem forma e vazia, e havia trevas sobre a face do abismo. A primeira feitura divina foi a Luz, assim havendo separação entre o dia e a noite. Mais tarde Ele criaria o sol e a lua, o que trouxe uma centena de interrogações ao meu coração. No primeiro dia, Deus criou a LUZ, mas no quarto dia, Deus arquitetou o Sol e a Lua. Qual era a Luz, que Deus criou no primeiro momento, então? Demorei-me alguns dias até compreender que aquela luz não era bem o que eu sempre pensei. Ela seria a Luz do entendimento, que faz separação entre o bem e o mal, entre o certo e o errado. É verdade que vivemos dias, em que as espiritualidades vendem luzes e brilhos, entretanto, não passam de maneiras pobres de tentar preencher com guloseimas homens sem forma e vazios. A Luz pela qual o homem necessita encontrar é aquela que lhe permite fazer separação entre as trevas que habitam dentro do seu próprio coração. Sem melindres e sofismas, somos um emaranhado humano cheio de bondades e maldades que se misturam ao nosso viver. Somos nada mais nada menos, do que um ajuntado de histórias boas e ruins, de atitudes maravilhosas que guardamos em nosso coração com orgulho, e outras tantas que nos envergonham, por isso queremos esconde-las. Esta é a nossa fórmula. Uma pitada de bondade, para um quilo de maldade. Uma colher de sopa de humildade, para dois litros de vaidade.
O homem nasceu essencialmente bom. Adão e Eva estavam profundamente ligados com Deus, num jardim de belezas e alegrias. Caminhavam sem vergonhas e culpas. Não tinham preocupações, nem angústias. Eles jamais haviam visto as trevas de uma noite sem luar, nem a escuridão das dúvidas e das incertezas. Neles habitavam apenas o bem, nada mais. Não havia orgulho, nem soberba, inveja, ou qualquer outro sentimento que pudesse causar intriga ou rebelião.
Eva, no entanto, morderia um suposto fruto proibido, que a levaria a um entendimento. Adão tomaria a fruta já mordida das mãos de Eva, e morderia a parte que lhe cabia naquela cena. Satanás, até aquele determinado dia, escondia-se em uma serpente rastejante, em uma fruta suculenta, em uma árvore proibida. Depois daquela refeição, a serpente se esconderia por trás do orgulho, da vaidade, da vergonha, do medo, das dúvidas, dos sonhos, dos desejos, dos olhares, das mentiras. Todos estes sentimentos destrutivos existem dentro de nós, e não podemos de forma alguma negar esta realidade. Misturado aos nossos sorrisos, estão nossas hipocrisias. Em nossas ideias estão um emaranhado de pensamentos ruins abafados por nossa boa educação. Aquele fruto proibido e diabólico está agora dentro de nós, gerando uma enormidade de pensamentos egocêntricos e destruidores. Promovendo uma centena de condenações, tristezas, pavores, resignações, curiosidades, que promovem um olhar crítico e pessimista da vida.
Qual é o homem que pode afirmar que é intrinsicamente bom? Quem pode afirmar com verdade que sua vida é apenas um dia ensolarado? Todos os homens estão sob esta iminente força maligna que deseja roubar a sua própria identidade. “- Aquele é um mão de vaca”! , “ - Vichi, olha o invejoso chegando”, “ - Aquela ali é uma fofoqueira” . Desconfio que o mal que existe dentro de nós quer se exteriorizar, tomar forma, ganhar um nome, ser reconhecido. A personalidade é a identidade humana. Ser direcionado pelo mal que habita nos meandros do coração promove uma vida cheia de desafios, de obstáculos, de relacionamentos falidos, que no fim, foram criados por nós mesmos, ou melhor, pelo mal que domina as nossas ideias e escolhas.
Se procedermos bem, seremos aceitos. Se, todavia, agirmos mal, o pecado estará à porta, e o desejo que temos torna-se contra nós mesmos, mas o nosso dever é dominá-lo! (escrita modificada por mim, Gênesis 4;7)
O dever do homem é ter domínio sob o mal que existe em seu interior. Não há como negar a existência dessa força maligna, até porque, sabemos o que acontece quando alguém fere nosso orgulho, portanto, mãos a obra!
De forma alguma, o mal será eliminado do nosso viver, será, no entanto, dominado, subjugado, encarcerado, enfraquecido pela LUZ do bom procedimento. Se o fruto maligno da serpente trouxe trevas sobre o homem, então, a Luz de Deus traz sabedoria para agirmos da maneira correta.
Não possuo nenhuma possessão demoníaca. Satanás, de forma alguma possui domínio sobre o meu viver. O que consigo compreender, é que Deus criou uma LUZ, para fazer separação entre o dia e a noite na minha existência. A vaidade, a arrogância, o orgulho, o preconceito, a tristeza, a decepção, são densas trevas que nos impossibilitam de tomar decisões corretas e mais acertadas. A graça, o amor, a paz, a paciência, o perdão são poderosas luzes que nos oportunizam tomar atitudes melhores.
Antes de você se separar da sua esposa, se divorciar da vida, partir sem rumo para longe, faça como Deus. Em primeiro lugar faça separação entre a luz e as trevas do mundo que você decidiu criar. Talvez, tudo ainda esteja sem forma e vazio!
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