quarta-feira, 1 de junho de 2011

Descobrindo o solo do meu coração


Quando volto das empreitadas da minha vida sinto a necessidade um pouco mística e talvez até mais carnal de me envolver com a terra. Sinto-me feliz quando desenvolvo essa relação com a natureza. Na ultima semana tirei três dias para esquecer do mundo entrando na caverna do silêncio rural. Trocando as buzinas pelos cantos dos pássaros, o conforto pela simplicidade, o industrial pelo orgânico, o artificial pelo natural. Como é bom retornar a essa condição de vida que permitimos a natureza nos tocar. Lá o tempo passa mais devagar, o café é mais saboroso, o sol é mais aconchegante e a sombra é mais fresca.
Neste retiro humano espiritual Deus está presente como em nenhum outro lugar deste mundo. Em meio a criação o cheiro de Deus não se mistura a ignorância que polui nosso coração. Dentro deste contexto cheio de palmeiras e tucanos, sabiás e saíras, consigo escutar a voz de Deus de uma forma toda especial. Desculpe-me os religiosos que acham que isso somente poderia acontecer dentro de um templo, mas quanto mais próximo estou da maior obra do Autor, mas perto chego dele, porque na verdade todo criador deixa um pouco de si em tudo que cria.
Calejando minha mão desacostumada ao cabo da enxada pude perceber como Jesus era profundamente inteligente. Ele tirava as histórias do seu dia a dia, e eu tenho me esforçado a fazer o mesmo.
Meu objetivo era fazer uma horta. Depois de algum tempo mexendo a terra, existia emaranhado de raízes na superfície daquele solo. Comecei uma limpeza minuciosa, tentando deixar aquela terra virgem para que pudesse ali germinar minhas alfaces e rúculas, pepinos e tomates.
Uma terra cheia de raízes não é boa para o cultivo, assim como um coração enraizado em velhas verdades não é fértil para germinar coisas novas. É difícil remexer a terra de alguém que está enraizado em muitas verdades paralelas. Todas as nossas experiências ao longo da vida formam nosso caráter num emaranhado um pouco emocional e afetivo, um pouco profissional e familiar, que acabam tornando nossa vida infértil e incapaz de germinar novas perspectivas.
Jesus ofereceu uma raiz única e profunda a respeito do reino dos céus e da verdadeira espiritualidade. Este emaranhado de duvidas existenciais e de doutrinas humanas povoam a superficialidade do nosso coração e apenas infertilizam o caráter e o coração humano, tornando-o um lugar impróprio para plantio.
Acredito que deixar-se cavoucar por Deus é permitir revirar nossas certezas, e esse processo penoso de virar a terra é que nos permite conhecer a essência do nosso solo. Uma coisa é verdade e aprendi com um amigo de longa data. Os terrenos baldios não são cultivados nem tampouco possuem um semeador, mas estão repletos de árvores e plantas. Independente do que aconteça na caminhada de cada ser humano, algo vai brotar dentro do seu coração. O reino dos céus é um caminho estreito porque ele não é resultado da inércia ou do descaso do tempo. O reino dos céus não é um terreno baldio e descuidado. Ele é o fruto do cuidado. De uma terra remexida e preparada. De uma semente escolhida e regada. Este é o reino dos céus, que é conquistado pelo esforço das enxadadas que damos em nosso interior, pela profundidade da raiz que possuímos e pela quantidade de fruto que possuímos. Por isso que Jesus insistia em dizer que o homem que ansiava herdar o reino dos céus deveria nascer de novo. Somente uma terra liberta das raízes e do emaranhado de verdades é fértil para o germinar do Cristo ressuscitado.
Por fim, a horta foi edificada. Estou ansiosamente esperando colher aquilo que plantei. Talvez essa horta gerou uma expectativa em meu coração. Pode ser que a mesma expectativa exista no coração de Deus por cada um de nós.
Enfim, desconfio que algo precisa ser remexido dentro de nós, para que algo novo possa germinar através de nós.

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