segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Casar-mente e o casamento



O casamento não ocorre cerimonialmente, sem antes acontecer no recôndito mais espiritual de cada ser humano. Não existe possibilidade de unir corpos, sem as mentes estarem profundamente aneladas, envolvidas, misturadas. Os laços que unem verdadeiramente um homem e uma mulher não estão submissos aos carimbos de um cartório, mas na verdade do sentimento sincero. Muito embora o homem esteja submisso ao Estado, os sentimentos são livres e um casamento de verdade não ocorre primeiramente nos papéis, sem antes não acontecer no coração, na mente, no espírito.
Nada parece ser mais importante para Deus do que o ser humano, nem mesmo o casamento. Não existe uma cerimônia “divina” para o casamento, nem tampouco, um ritual. Não enxergamos nada a respeito desse conteúdo em nenhum lugar das escrituras, porque o casamento profundamente espiritual ocorre nos esconderijos do coração e da mente. Ele não possui véu, nem grinalda. Não é dependente do que é público e humano, mas da mente que está profundamente misturada ao outro, envolvida pelo que existe de mais puro e mais eterno. O Estado proporciona os direitos e a religião uma cerimônia, no entanto, nem um, tampouco o outro, podem unir profundamente duas pessoas.
Ao mesmo tempo em que se divinizou a cerimônia, se demonizou o casamento. Deus está profundamente vivo no coração do homem e da mulher que vivem uma única palavra dita com convicção, do que milhares de “prometos” repetidos sem inspiração. Deixar pai e mãe verdadeiramente é muito mais do que mudar de casa.
Adão recitou uma poesia, “Esta sim é ossos dos meus ossos, carne da minha carne!” Naquele momento deixava Adão a individualidade do “eu”, para adentrar nas profundezas do “nós”. Deus criou a família, Adão o casamento. Olhando para sua amada, como se ela fizesse parte da sua própria carne, realizou sua cerimônia, seu ritual. A inspiração revela poesia e este é o espirito que promove a verdadeira união. A repetição fúnebre de um ritual com palavras previamente decoradas faz parte da cultura, da religião, mas não da inspiração. É este olhar de mesmo osso, que promove uma só carne que desconstrói a arrogância egoísta a favor do amor que se entrega deliberadamente.

A cerimônia de casamento é uma das mais belas artes e momentos na vida de um homem e de uma mulher. Geralmente me emociono com a entrada das noivas. A verdade que precisamos entender é que um casamento dos sonhos não é o sinonimo de uma união dos sonhos. 

O casamento é transar ideias, pensamentos, sentimentos, dores e tristezas. Se nada disso ocorre antes da cerimônia, dificilmente vai acontecer depois dela. A cerimônia não tem poderes miraculosos, nem tampouco transforma sapos em principes, como algumas mulheres acreditam. Alguns acharão este texto liberal, mas casar-mente, casar-espírito, casar-osso, é muito mais difícil do que assinar papeizinhos num cartório qualquer.

Muito mais vale a verdade dita dentro de um banheiro do que promessas sem convicção num altar. Nós somos burocráticos e místicos. Deus não precisa de autorizações humanas, de carimbos terrestres. Ele abençoa o amor verdadeiro, a união sincera. Ele não está na cerimônia, Ele está no amor entre o homem e a mulher. Para um casamento existir basta haver um sentimento verdadeiro, um olhar de mesmo corpo, mesmo osso, mesmo espírito e uma bela poesia. O resto é cumprir rituais humanos para não escandalizar os religiosos tradicionais.

 

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