“Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insipido como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta, senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se esconde uma cidade edificada num monte, nem se acende uma candeia para coloca-la debaixo do alqueire, ma no velador, e alumia todos os que se encontram na casa”. (Mateus 5;13-15)
O único momento que o sal é visível ao homem, é quando
ele está no saleiro. No momento em que ele se torna invisível na massa ou numa
carne, cumpre seu propósito, e muito embora não seja visto, é palpável e
concreto. Quando o sal se dissolve e perde sua forma, sua cor, seu nome, é
quando também pode ser sentido, percebido, degustado.
A grande crise cristã se iniciou quando o homem começou a armazenar
sal. Quando em algum momento da história foi dado mais importância em construir
saleiros (Templos) do que dissolver amor, graça e perdão por sobre a terra. O
sal do mundo, desde aquele tempo, tem se amontoado no saleiro (Igreja), celebrando
sua própria beleza, seus propósitos financeiros, suas correntes pagãs.
Ser sal é viver o anonimato mundano de não ser visto por
ninguém, mas ser percebido por aquele que vê em secreto. Ser sal é morrer, é desaparecer,
é diluir.
A maior ânsia moderna por parte do “sal da terra” não é o
anonimato, mas a fama. Não tem nada a ver com fermento, nem mesmo com sementinhas
pequenas, mas com torres cheias de Luz, com Pináculos cheios de Glória. Todos
querem a glória da Luz do púlpito, mas rejeitam a entrega oculta no serviço
abnegado, no amor não fingido, na oração incessante.
O sal de cozinha comum
é lavado, moído, centrifugado, seco em alta temperatura e peneirado. Os
discípulos foram chamados a este processo profundo, antes de salgarem a terra
com graça, amor e poder do Espírito Santo. Eles tiveram seus pés lavados, seus
corpos moídos. Foram centrifugados no entendimento mais profundo de Deus. Enfrentaram
o ódio, o medo e as mais altas temperaturas dos sentidos e sentimentos humanos.
Suas vidas foram peneiradas até o momento em que do interior daqueles homens
começaram a surgir palavras e poderes. A Luz do Espírito começou a brilhar.
O sal é a fonte da eletricidade que gera a Luz divina. O
homem que não vive o processo da quietude anônima de ser sal, jamais será Luz.
O sal é a matéria prima da Luz, é o gerador do espírito, é a usina da alma.
O saleiro moderno sofre não porque acabou o sal, mas porque, sem sabor, ele não presta para mais nada. Sem matéria prima para a eletricidade, a Igreja tenta
falsificar a glória de Deus dando glória para os homens. No desespero da sua
escuridão, produzem energia das formas mais estranhas. Usam os artefatos mais
inglórios, mundanos, banais para acenderem uma vela, e o que somente conseguem
é transformar palavras em dinheiro. Essa luz produzida pela religião, por sorrisos, boas obras, dízimos, palavras
bonitas, versículos decorados, sacrifícios religiosos, cestas básicas aos pobres, nada
mais são do que fórmulas humanas de acender uma luz própria. A LUZ de Deus
somente acende quando minhas luzes se apagam. Ela somente brilha com a
salinidade de quem ama o próximo mais do que a si mesmo.
Tudo ficará claro, compreensível, iluminado. Ser um anônimo,
e por ser anônimo ser conhecido. Quando a terra for temperada pelo sal, surgirá
uma Luz que iluminará o mundo inteiro. A Luz prevalece contra as trevas quando
o sal não perde o sabor.