sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A Videira Verdadeira


A cada dia está ficando mais difícil discernir entre o que é verdadeiro e falso. As falsificações estão cada dia melhores e mais similares. Os produtos piratas estão por todos os lugares, em todas as casas, a venda em todas as esquinas.
Quando Jesus falou sobre a videira verdadeira, estava ele afirmando categoricamente que, se ele é a marca original da vide, então uma versão pirata também estava sendo comercializada, é lógico, a preço de banana.
Diria a parábola de Cristo que o Pai é o agricultor, o Filho é a vide e os homens os ramos.
Jesus parece ter posicionado o homem em relação a Deus e ao mundo, pintando um quadro de uma fazenda bonita e bem cuidada. No meio desta pintura uma grande videira, cheia de ramos e um Agricultor com uma tesoura numa mão e uma pá na outra.
A maior dificuldade humana desde os primórdios está em fazer parte de alguém. Os casamentos que o digam. Esta condição em que Jesus é o tronco, a árvore, e nós os ramos, muda tudo aquilo que aprendemos no circulo religioso. Desde o nascimento compreendemos que Cristo deve fazer parte da nossa vida, dos nossos pensamentos, dos nossos esforços. Somos estimulados a convida-lo a fazer parte da nossa história. Entretanto, olhando no ponto de vista desta parábola, são os ramos que fazem parte da videira, e não a videira dos ramos. O homem realmente encontrado com Cristo, não o convida, mas foi convidado. Ele vive porque está aliado a saúde da Videira Verdadeira.
Nós, como religiosos, e, talvez muito bem intencionados, somos uma videira doente. Convidamos Jesus a ser um ramo da nossa vide, porque sabemos que Ele é bom. Afinal, alguém precisa resolver nossos problemas existenciais. Convidamos o Agricultor e a Videira a florescerem nossos galhos secos. Fazemos propósitos para que folhas brotem, para que nossos carros sejam novos. Eles, por fim, passam a fazer parte de alguns projetos e momentos. São pequenos galhos que estão enxertados em nós. Nós não vivemos por Eles. Eles dever viver através de nós. São pequenos amuletos quebradiços e infrutíferos.  
Então, a diferença entre o que é pirata do que é original se evidencia. Uma possui frutos, a outra não. Uma videira está cheia de folhas e galhos, enquanto que, a outra menor e menos folhada está cheia de cachos. Os passarinhos e as abelhas estão aonde existe o açúcar das frutas que amadurecem.  Os homens ainda não compreenderam seu lugar de direito neste relacionamento divino. Nós somos os ramos. Ao homem está esta missão de fazer parte de Deus, através da comunhão com Cristo. Muito embora, nossos pensamentos vaguem até Satanás como personificação desta videira falsificada, nós somos estes piratas tentando obter benefícios divinos com ideias humanas.

Deus não está acostumado a quebrar alguns galhos como tanto queremos.  
Talvez estejamos vivendo o momento mais infértil e improdutivo de toda a história. Nunca existiram tantas videiras, mas também nunca houve tantas falsificações.  

“Porque não fostes vós que escolhestes a mim, mas eu que escolhi a vós, e vos designei para que vades e dês fruto e o vosso fruto permaneça, a fim de que, tudo que pedirdes em meu nome, eu vo-lo conceda”. (João 15;6)

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

China: Reflexões de um viajante (Paciência)


O dia a dia acelerado e as inúmeras atividades tem transformado nosso viver. Uma revolução está acontecendo nas entrelinhas do nosso saber. Algo que industrializa nosso coração e congela nosso caráter. Não sei como as futuras gerações irão chamar esse nosso momento moderno. O amor que o diga, outrora, o maior potencial humano, hoje, não passa de um produto comercializado com prazo de validade. Não pensamos sobre isso, sequer podemos. Não há tempo para parar, para refletir, para conversar. Não existe possibilidade, por exemplo, de parar numa calçada de Hong Kong. As pessoas se atropelam numa correria incrível.
Essa semana perdi o horário no trabalho. Estava absurdamente atrasado. O elevador estava parado em algum lugar muito distante do térreo. Pensei nas escadas, mas aquele esforço seria em vão. Subir escadas desesperadamente somente iria ser uma forma de dar respostas para minha ansiedade, mas não resolveria meu problema com o relógio. Treze andares não são se escalam em cinco minutos. Talvez a vida seja cansativa por causa desses desgastes desnecessários. Muito embora soframos uma enorme dificuldade em ficarmos estáticos diante dos reveses da vida, a inércia inteligente é mais produtiva do que o ativismo desenfreado.
Existem algumas coisas que precisam do tempo. O elevador, por exemplo, é uma delas. A ociosidade reflexiva proporciona conclusões e estes momentos nos levam aos andares mais altos, com menos esforços. Pode parecer loucura, mas estamos tão acostumados com a correria, que precisamos aprender a ter um momento para não fazer nada. Geralmente, o silêncio se transforma em tédio, mas são nestas quietudes que estão escondidos nossos melhores pensamentos.

A sabedoria nos permite entender que o conhecimento geralmente não se encontra em lugares baixos, mas nas alturas de um discernimento que respeita, enxerga e ama, acima de tudo. Nada que seja alcançado facilmente pelo vigor das nossas pernas é profundamente importante. O ativismo produz resultados, a paciência felicidade. O trabalho traz o pão, o entendimento provisão. A força até gera energia, mas é a sabedoria que a transforma em Luz.

 

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

China: reflexões de um viajante

As mudanças são provocantes. Todos querem sair da rotina, mas ao mesmo tempo, amam a repetição diária de momentos e das mais simples atividades. Os nenéns que o digam. Eles dependem da rotina, do mamá, do soninho. Talvez cresçamos acostumados com isso. Nós somos rotineiros e repetitivos, e na verdade, esse é o habitat mais confortável que podemos construir.
A minha vida nunca possuiu muitas rotinas. Sempre foi envolta de mudanças repentinas que destroem todo e qualquer mecanismo diário. Elas sempre aconteceram da noite para o dia, ou da manhã para a tarde. Assim foi para Grécia, para Fortaleza, para Pelotas, para Itu. Quando mudamos para Hong Kong no extremo sul da China, há exatamente um mês atrás, eu estava no fisioterapeuta, em Curitiba, às nove da manhã de uma terça feira. Uma simples ligação e, nove horas da noite eu e a Márcia já estávamos em São Paulo embarcando para o Oriente. Arrumamos as malas, nos despedimos de quem foi possível, nos abraçamos e, com uma simples oração, fechamos a porta do apartamento.
Ficaram amigos, família, momentos e o meu obediente e fiel cãozinho, o Leopoldo. Dentro do avião, ainda pairava sobre nossos pensamentos uma centena de dúvidas. Em dois dias deixamos as certezas, as facilidades, os confortos e mergulhamos num mundo novo, sem saber onde fica, como faz, aonde vai, como resolve. Entretanto, nestes novos mundos que descortinam a vista, tudo ganha mais valor, mais grandiosidade, mais verdade. As amizades são profundamente importantes. Tudo parece receber a importância que verdadeiramente possui, mas que deixamos se perder dentro de nosso tão distraído coração.
Muito embora, todas estas mudanças apresentem inúmeras dificuldades, são nas mesmices que os maiores imprevistos acontecem. As rotinas que facilitam e acomodam, são as mesmas que destroem e entristecem.
Se não houver inteligência, a vida se transforma num chiclete que perde o gosto e cor na medida em que se masca. O desafio é não permitir que a vida confortável, se transforme em desinteressante. Que as coisas boas, ao serem repetidas, não fiquem monótonas. O desgaste somente acontece para aqueles que mascam a vida, sem entender que a vida é saboreada com amor e paixão.
As mudanças e as descobertas diárias permitem o entendimento que, grande não são aqueles que se adaptam a viver coisas e mundos novos, mas aqueles que sabem conviver com alegria as mesmices rotineiros do dia a dia.