quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Entre a armadilha e a oportunidade

A natureza, talvez impensante, revela em sua sutileza, mais inteligência do que nossas próprias espertezas. Aprendi isso com algumas tilápias no sítio do meu sogro. Elas conseguiam discernir com maestria a diferença entre o "pão alimento" e o "pão isca". Com toda confiança abocanhavam os pães que flutuavam livremente na superfície do lago, mas meu anzol especialmente camuflado por um pãozinho carinhosamente iscado, ficava ali, boiando, esquecido, até que amolecesse suficientemente para se desprender do anzol. Logo que isso acontecia, as tilápias comiam minha antiga isca com calma e tranquilidade. Palmas para elas. Nós seres humanos ainda não conseguimos fazer esta distinção entre o que é armadilha para o que é oportunidade.
O ímpeto em experimentar e ter, viver e surpreender, tornou o homem vitima da sua própria fome. Essa irrefletida forma de amar, de crer em Deus, de viver em comunidade e principalmente de ganhar dinheiro, fisgou boa parte dos meu amigos. Já diria o antigo provérbio bíblico, “Há caminhos que parecem direito ao homem, mas no fim são caminhos de morte”. Tenho uma grande desconfiança que existem inúmeros destes anzóis disponíveis desde o raiar do dia. Os anzóis são assim. Eles fisgam a paz e controlam o viver. Quem mordeu uma isca não consegue mais ser livre, porque na verdade, o futuro de quem foi fisgado é ficar perto do barranco, sendo controlado pelas mãos de outras pessoas. Existe uma Cracolândia de homens fisgados e um cemitério cheio de escravos que definharam ante as algemas da servidão. 

Deus providencia pão, mas o mal, providencia o anzol. Saber discernir entre o que é aparentemente bom, daquilo que é verdadeiramente perfeito, é fruto de quem tem uma vida aos pés do entendimento divino. Amanhã pela manhã, muitos pães irão amanhecer na superfície das suas águas, mas nunca se esqueça. O mundo está cheio de anzóis.
"Se, pois o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres". (João 8;35,36)

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